• Nenhum resultado encontrado

aqui são tecidas considerações acerca das professoras a partir de di- versos momentos vivenciados na escola como, aC, conversas informais entre colegas, em especial da dinâmica da sala de aula. a discussão sobre essas profissionais está presente em todos os espaços como: mídia, de- bates políticos, legislação, instituições escolares etc. Comumente, vêm à tona questionamentos em torno de sua formação, prática-pedagógica, condições de trabalho, tempo de serviço, relação com os discentes, en- tre outros. É impossível pensar na escola sem pensar nesse sujeito tão importante na contribuição para formação de tantos outros sujeitos. É o professor, o responsável direto pela aprendizagem sistemática dos edu- candos, mas condicionado pelas circunstâncias que cercam e determi- nam seu próprio trabalho.

dificilmente, tais atores são ouvidos no que tange a suas percepções em torno das condições de trabalho, dos problemas enfrentados cotidianamente

na escola etc. e estas questões estão presentes dia a dia, nas conversas informais das professoras da instituição observada. existem inúmeras queixas com relação a sua sobrecarga de trabalho, ao excesso de projetos que têm que ser implantados na escola sem se levar em conta os seus planejamentos, as cobranças da Cr, entre outros, conforme consta nos registros realizados.

É sob essas circunstâncias que se institui a condição docente e a for- ma como este irá interagir com os seus pares, gestores, alunos e demais funcionários. no entanto, essa condição se dá, em especial, na relação docente/discente devido à responsabilidade com a educação sistemática do segundo. É essencial, nessa relação, docente e discente, saber como ambos se relacionam cotidianamente nessa troca de saberes, na prática de uma formação integral de cada sujeito. essa relação é marcada pelas condições sociopolíticas, culturais e econômicas. os sujeitos que com- põem essa relação são históricos e interagem com as condições criadas no ambiente escolar. Como afirma teixeira (2007, p. 434) “a relação do- cente/discente se constitui em espaços e tempos macro e microssociais que a circunscrevem, nos quais se destacam os ordenamentos e dinâmi- cas da escola.”

dessa forma, a condição docente vai se construindo a partir das estru- turas e da complexa relação existente entre os diferentes atores da escola em que as condições materiais e simbólicas se realizam, assim como a institucionalidade própria da escola. a escola é o locus principal em que a condição docente se realiza, mas em especial, é a sala de aula o espaço no qual docentes e discentes interagem, convivendo durante a maior parte de seus tempos escolares.

a situação e a forma como docentes interagem, neste micro espaço, está associada à forma como se estabelece o contato entre os gestores da escola, a divisão social e sexual do trabalho, a condição salarial e de trabalho, aos processos didático-pedagógicos do cotidiano docente, entre outros. nessas condições,

[...] o docente torna-se um trabalhador assalariado e a cri- ança, o adolescente e o jovem se transformam em alunos, com seus respectivos deveres e direitos, funções, papéis e atribuições, sob a égide da razão instrumental, na per- spectiva da escola iluminista; nos dias atuais, cada vez mais regulados pelo paradigma do mercado, da produtivi- dade, do quantitativo. (teiXeira, 2007, p. 435)

as exigências atuais baseadas num modelo regulatório, presente tam- bém nas escolas, em que expressões como flexibilidade, autonomia, de- sempenho, têm correspondido a um aumento crescente das atividades e das responsabilidades dos sujeitos, em especial dos professores. dessa forma, os professores “se sentem responsabilizados por suas tarefas, seu desempenho, sua formação e atualização e até mesmo pelo sucesso ou fracasso do aluno ou da escola.” (oliveira, 2007, p. 357) os professores sentem-se pressionados com a intensificação do seu trabalho, o qual não tem sido acompanhado com a promoção de boas condições para o seu exercício docente. existe carência material e pessoal nas escolas.

tal situação é claramente vista na escola observada. as professoras sentem-se, por vezes, meras cumpridoras de tarefas a partir das ordens que “vêm de cima”, o que traz insatisfação e certamente implica no seu fazer docente. há uma perda da autonomia docente no espaço escolar. essa insatisfação fica evidente num dos relatos em que professoras se colocam, diante das exigências vindas da sMeC:

geralmente, estamos trabalhando determinados assuntos ou desenvolvendo um projeto na turma e temos que suspender para dar conta de tanta coisa. E, muitas vezes, são ativi- dades que estamos vendo resultados e simplesmente paramos. Na verdade passamos a ser meras cumpridoras de tarefas e a aprendizagem dos alunos que é o que deveria mais interessar é deixada de lado.

outra professora toma a palavra e ratifica o que a colega disse: “Rilza,

eu entendo a angústia de Shirlene porque também é a minha. É muita cobran- ça. Na semana da criança só trabalhei os últimos dois dias porque as crianças viram o clima da escola. Mas tinha que dar conta de tanta coisa. As notas dos meninos sendo cobradas...” logo, em seguida, outra professora disse:

e para nós do 2° ano ainda tem um agravante por causa do baixo rendimento dos meninos no provinha Brasil. Nós estamos fazendo o curso e temos que dar conta também do que é deter- minado lá. Ainda tem o Projeto Aymará que caiu de paraque- das. Também me sinto uma cumpridora de tarefas. Não tem como dar conta do conteúdo programático. Só se fala em habi- lidades e o resultado está aí: muitos alunos no 3° ano sem saber ler e escrever. É com isso que a CR deveria estar preocupada.

o posicionamento de tais professoras serve para deixar claro de que forma vem se desenvolvendo a relação entre os gestores do sistema de ensino e aquelas que estão na ponta do processo. outra questão é quanto ao tempo de trabalho em salas de aula. durante as últimas eleições mu- nicipais, em especial em salvador, foi utilizada como propaganda política a existência na rede de professores de tempo integral, o que é uma fa- lácia. de fato, as professoras na escola em questão, estão presentes 40h, ou seja, nos dois turnos, mas diferente da forma propagada estão 40h em sala de aula e não parte planejando conforme fora pensado e desejado.

a condição docente é resultado de uma trama de relações complexas no qual estão presentes conflitos e tensões, em que não faltam problemas concernentes às estruturas e hierarquias, às relações de poder e de força e a diversidade de interesses, o que, por vezes, resulta em certa competitivi- dade. esse clima, às vezes, enfraquece o sentimento de pertencimento da categoria, o que inviabiliza lutas e supostas conquistas. no entanto, ge- ralmente, a maioria das professoras se reúne antes das reuniões formais coordenadas pela vice-diretora, em especial da tarde, para decidirem sob

determinados assuntos, planejamentos, semanas comemorativas etc. e, assim se posicionam como conjunto nas reuniões.

há que se considerar também que na escola não estão presentes os sujeitos considerados ideais por parte significativa de professores. neste espaço, vem à tona o que está do lado de fora. assim as desigualdades so- ciais, a questão étnico-racial, as diversas formas de violências, a questão de perda de sentido que sofre a escola, entre outros, fazem parte deste cotidiano. Como ainda aponta teixeira (2007, p. 437),

estando no mundo, de que são parte, ambas, escola e aula, dele recebem o que nele se passa: do mais saudável ao menos desejável. a questão social nelas está coloca- da e recolocada a cada dia, direta e indiretamente, nas histórias individuais e coletivas de docentes e discentes.

infelizmente, apesar dessas questões comumente virem à tona, observa-se que não foram incorporadas pelo con- junto de professoras a relevância dessas mesmas no que concerne à relação e desenvolvimento da práxis pedagógica. Comumente, os alunos são tratados de forma superficial, ignorando-se suas histórias de vida. assim são punidos cor- riqueiramente, classificados quanto ao desempenho, o que é observado em conversas informais entre professoras e em seus gestos, no olhar para cada criança ou ao não retribuir um simples gesto de afeto.

Contudo, há que se considerar as péssimas condições a que estes atores tão importantes, professores, estão submetidos. essa situação tem feito com que muitos deixem de acreditar na educação e no traba- lho realizado. a insatisfação é visível no olhar, nos gestos, nos comen- tários, na forma como comemoram, por exemplo, a falta de água na escola, pois, nesses casos, os alunos são dispensados mais cedo... essa

sobrecarga de trabalho e as condições objetivas sob as quais executam suas funções têm que ser consideradas e reavaliadas pelos gestores do sistema. além disto, é necessária a reafirmação desses profissionais en- quanto uma categoria profissional.

Documentos relacionados