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CAPÍTULO IV: TECNOLOGIA E EDUCAÇÃO

4.1. Sociedade e tecnologia

A relação do homem com o mundo não se realiza diretamente e sim por uma relação mediada. (VYGOTSKY, 1991) O indivíduo está sempre permeado por algo em suas relações. Os instrumentos o auxiliam nas atividades, transformando a natureza. Já por meio dos signos (elementos de mediação, linguagem, escrita, sistema de números), esse indivíduo interage com o ambiente, tornando-se um objeto social. Mas de que forma a tecnologia atuaria nesse contexto abordado por Vygotsky? Existiria uma separação entre tecnologia e sociedade? A tecnologia, vista como um instrumento em que o homem transforma o social, cria outra linguagem, o signo. Segundo Gama (2012), o computador e a internet, caracterizados como instrumentos que medeiam diversas atividades praticadas pelo homem, tanto no trabalho como na comunicação, são constituídos historicamente e integrados ao contexto social, podendo ser denominados de instrumentos socioculturais. Haveria um sistema de signos e instrumentos que são criados historicamente pelo homem e que vão mudando sua forma social e o grau de seu desenvolvimento cultural, considera o autor. Assim, a cultura e a sociedade são responsáveis por fazer com que esse indivíduo vá se transformando e se constituindo. A tecnologia, sendo produto desse homem, constituída, transformada e atualizada pode ser considerada como um instrumento ou signo diante deste homem. Pierre Lévy (1999) conceitua a tecnologia como uma técnica (artefatos eficazes) que se constitui como objeto

para análise dos sistemas sócio técnicos globais. O que o humano faz e produz o caracteriza. As atividades do indivíduo reúnem, de forma indestrutível, relações, interações entre sujeitos, pessoas que realizam, vivem, seres que pensam, com materiais naturais e artificiais, ideias e representações.

Para Lévy (ibid.), a tecnologia é produto do homem, não estando desatrelada do social nem da cultura. Ao longo dos tempos, o ser foi desenvolvendo técnicas que o auxiliaram a construir seus mecanismos de atuação na sociedade. Por meio destas, o homem representaria o sentido da vida. Não podemos, assim, separar o humano do seu ambiente material, salienta Lévy (ibid.). Os signos não estão desatrelados de suas imagens. Por meio do material, o homem dá significado à vida e ao mundo, julga o autor. Nesse entendimento, não se tem como separar o mundo material de sua parte artificial, de suas concepções, criações e ideias, que é de onde os objetos técnicos são concebidos e utilizados, nem dos humanos que os inventam, produzem e utilizam. A técnica, para o autor, traduz o que esse homem pretende, cria e concebe.

Não se deve atribuir um sentido único a essa técnica (artefatos eficazes) abordada por Lévy (ibid.). Há, na mesma, uma multiplicidade de sentidos. Quando se concebe o desenvolvimento de cybertecnologias, existem ideias de desenvolvedores. Estas podem ser a promoção da autonomia dos indivíduos, sua formação ou o entretenimento. São diversos os interesses, que estão por trás do processo de criação desses recursos tecnológicos.

Toda técnica ou tecnologia é oriunda de uma ideia de alguém que a concebeu. Esta pode possuir características boas ou más, mas nunca neutras em relação ao contexto em que estão inseridas. Cabe entender, como destaca Lévy(ibid.), para qual caminho as mesmas podem nos levar, percebendo-as como produto do social e da cultura e não à parte destes. Sendo assim, faz-se necessário o entendimento dos objetivos que fundamentam tais tecnologias e para quais destinatários estas se direcionam.

Embora percebida de diferentes modos e estudada a partir de olhares diferentes e variadas abordagens, o impacto propiciado pela tecnologia em nossa sociedade diante de processos e instituições sociais (educação, comunicação, trabalho, lazer, relações pessoais e familiares, cultura, imaginário e identidades, etc.) tem sido muito forte, garante Belloni (2005). Quando o assunto é a penetração das “máquinas inteligentes” em todos os campos do meio social, não há o que se discutir. Público e privado, trabalho e lazer passaram por grandes transformações de forma muito veloz e ganharam a designação de tecnologias de informação e comunicação (TIC’s).

Nesse sentido, cabe refletir como a escola está lidando com essas questões? Como o impacto das TIC´s sobre os processos e instituições que possuem estruturas simbólicas em nossa sociedade: educação, comunicação, lazer, imaginário e cultura está sendo compreendido?

Os processos educacionais necessitam integrar as tecnologias de forma que estas apareçam por meio de estratégias pedagógicas, sendo que estas devem, segundo Belloni (ibid.), surgir de forma enriquecedora e proveitosa para a melhora e expansão do ensino. Acrescentando-se a isso, são necessárias abordagens criativas, críticas e interdisciplinares, considerando que tal assunto deve ser tratado como um “tema transversal”, com grande potencial aglutinador e mobilizador.

Entretanto, cabe salientar que, embora se reconheça a importância das TIC´s e a urgência de se construir conhecimentos e maneiras de integrá-las à educação, é preciso evitar o “deslumbramento” que conduz para o uso da tecnologia por si e em si, privilegiando mais sua virtualidade técnica do que sua “virtude pedagógica”. Afinal, muito desse “encantamento” provém de um discurso ideológico concernente aos interesses da indústria do setor. (ibid.)

Nesse sentido, quando se fala em inclusão, tecnologia e educação, cabe a reflexão sobre a necessidade de propiciar o acesso de pessoas com deficiência a esse universo das tecnologias, em especial à tecnologia computacional. O intuito é que esses sujeitos desenvolvam suas potencialidades, assim como, tenham direito à cidadania.

Com o advento das novas tecnologias, muitas transformações tem acontecido na vida desse homem, sobretudo quando se fala na relação deste com o conhecimento. Para Gabriel (2013), após a internet e as novas tecnologias digitais, a informação ganhou mais importância e tornou-se algo muito valioso. No campo educacional, essas transformações aparecem, principalmente, na relação com o saber, se considerarmos a infinidade de conteúdos disponíveis atualmente para os alunos. Embora, há que se considerar que o fator tecnológico não basta para que a educação aconteça, é preciso e fundamental considerar o trabalho do professor e o que se propõe pedagogicamente.