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A sociedade pós-moderna

Considerando essa abordagem do indivíduo pertencente a um período específico, com as transformações sociais e culturais estabelecidas pela modernidade, não se pode descartar as influências da pós-modernidade5, que traz uma carência de afetos e expressões, além de uma alta dose de ansiedade. O que é coerente com um período em que não se criam laços de tradição e costumes, em que tudo é superficial, volátil e, por vezes, inútil. Os valores são momentâneos, não há tempo para nada que exija um período mais longo. A estética ganha força, pois não há um aprofundamento das questões e é preciso conquistar pela primeira impressão.

Ao comparar modernismo e pós-modernismo, o historiador Perry Anderson, (1999, p.105) estabelece uma relação afirmando que:

[...] o modernismo era tomado por imagens de máquinas [as indústrias], enquanto o pós-modernismo é usualmente tomado por máquinas de imagens, os meios de comunicação. Os quais passam a explorar o imaginário dos indivíduos, incentivando o consumo, criando estilos de vida com a promessa de rejuvenescimento. Valores que se destacam no decorrer do século XX, tanto sob o aspecto de culto ao corpo como ressaltando a importância de uma vida saudável. Nesse contexto, surgem as mensagens de autoajuda, otimismo e esperança, como elementos que contribuem para que o indivíduo tenha melhor qualidade de vida.

O homem contemporâneo tem seu estilo de vida incorporado a esse cenário, e quando se volta para a religiosidade ele está buscando a si. Contudo, apesar das alterações sofridas pela sociedade moderna e pós-moderna, a busca dos indivíduos pela religião continua presente, independentemente de classe socioeconômica.

5 O pós-modernismo teve início nos anos 1960, com o propósito de refletir sobre uma nova tendência

sociocultural. Pensadores como Foucault, Lefebvre, Berger e Mandel são considerados pelo geógrafo Edward Soja (1993, p.78) os fundadores do pós-modernismo.

Assim, para a manutenção de seus ritos e mitos a fé precisa ser ressignificada, seu cosmo sagrado tem que ser reordenado em um cenário de nova ordenação espacial e temporal. Para tanto, em suas vivências, o indivíduo racionalizado vai substituindo a religião por caminhos alternativos, que forneçam sentido e eficácia simbólica para suas subjetividades, que lhes dê a legitimação do mundo.

Outra característica do pós-modernismo, importante para as análises deste estudo, é o fato de que ele traz o questionamento sobre a autoridade do autor da mensagem verbal ou não-verbal e, consequentemente, altera a passividade do receptor. O sentido do texto é determinado na interatividade elaborada entre a emissão produzida e o ideário receptivo. Assim, o pós-modernismo apresenta uma pluralidade da verdade. Os fatos, as mensagens ou os discursos não têm uma única e verdadeira interpretação e sim várias; nascem da intersubjetividade e todas são válidas. O sujeito passa a ser fruto de suas crença, sendo que para esse indivíduo só é bom o que é legitimado por ele próprio.

A era pós-moderna se caracteriza também por apresentar uma queda dos conteúdos, não só das ciências, do mesmo modo os religiosos, permitindo que os meios de comunicação se apresentem como elementos articuladores que geram um conjunto de valores, ou estilo de vida que vão se constituir em uma cultura midiática. Assim, a comunicação passa a ser utilizada pela religião como uma ação mediadora, que serve de instrumento de aproximação ou reaproximação entre as Igrejas e seus fiéis. Com isso, crescem as novas expressões religiosas que forçam as instituições a se reorganizarem internamente, com a finalidade de manter fieis com os quais não possui mais uma identificação forte e exclusiva.

Portanto, a comunicação no contexto da pós-modernidade, configurada como um complexo modo de vida, em que ao mesmo tempo há um estremecimento nas instituições – igrejas – e também crescem as novas expressões e vivências religiosas, mostra que uma das causas está na relação entre elas e os meios de comunicação de massa, que por sua vez, a partir da diversidade de ângulos, permite que a linguagem estabeleça uma conexão adequada para que o novo indivíduo encontre nessa prática de fé a valorização de seus interesses individuais.

Contudo, o indivíduo ainda tem instaurada em si a dúvida sobre a garantia de salvação, o que o leva a aprofundar seus conhecimentos, mesmo que de forma racional, para satisfazer suas necessidades, constituindo assim o seu próprio território simbólico, independente da instituição. Esse universo pode ser entendido a partir do filósofo alemão Husserl, como abordado pela historiadora e filósofa Marilena Chauí (2002, p.82) ao afirmar que: “O mundo ou realidade é um conjunto de significações ou de sentido que são produzidos pela consciência ou pela razão. A razão é doadora de sentido”. Assim, o indivíduo vai buscar nas religiões elementos simbólicos que atendam suas expectativas. A mediação nesse processo é a ligação exercida pela comunicaçãoqueenglobatodososindivíduos que tenham em comum a existência de um conjunto de circunstâncias que envolvam símbolos e signos. A comunicação,portanto,tem uma relação com a cultura por se constituir em produtora de sentidos.

Acredita-se que esse olhar para as influências que a modernidade e a pós- modernidade trouxeram para a sociedade, alterando valores, demonstra que o indivíduo construiu sua autoidentidade e renegociou suas relações com as instituições sociais, inclusive com a Igreja. Esse processo de ressignificação de identidade desenvolveu suas subjetividades e elementos extraídos do seu cotidiano que vão contextualizar suas formas de recepção. O que permitirá a identificação das diversas codificações e recodificações em relação às mensagens religiosas transmitidas pelo meio rádio.

Com a proposta de conhecer o ambiente em que vive o indivíduo contemporâneo, tem-se que as pessoas organizam seu cotidiano estabelecendo rotinas que incluem a audiência de determinados programas que também são produzidos de forma rotineira. Essa organização contém, além das atividades domésticas e familiares, as questões externas à casa e à família. É então que emerge a questão da fé e da religiosidade, que se estende para interações do grupo social ou familiar.

Ainda em relação à importância da subjetividade sociológica-comunicacional para as análises sobre o processo de ressignificação das mensagens recepcionadas

pelos ouvintes do programa “Momento de Fé”, é entendê-la tanto sob o aspecto das estruturas simbólicas de sua cultura, do mundo em que vivem e da capacidade de conhecimento desse indivíduo. Portanto, é o lugar social da subjetividade que o antropólogo Gilberto C. A. Velho (1991 apud SOUSA, 1995, p.33) define como: “a vida interior, as opções mais íntimas marcadas por um ethos em que a sociabilidade assume um tom caracteristicamente marcante”, uma vez que na subjetividade individual está contida a social por ele adquirida ao longo de sua história.