• Nenhum resultado encontrado

2.2 SOLOS TROPICAIS E PAVIMENTAÇÃO DE BAIXO CUSTO

2.2.1.2. SOLO TROPICAL

Ainda segundo Nogami e Vilibor (1995), solo tropical é aquele que apresenta peculiaridades de comportamento e propriedades, relativamente aos solos não tropicais, em decorrência da atuação no mesmo de processos geológicos ou pedológicos, típicos das regiões tropicais úmidas. Os solos tropicais são agrupados em duas grandes classes:

Os solos lateríticos (later, do latim: tijolo), são solos superficiais, típicos das partes

bem drenadas das regiões tropicais úmidas, resultante de uma transformação da parte superior do subsolo pela atuação do intemperismo, por processo denominado laterização. Várias peculiaridades associam-se ao processo de laterização sendo, as mais importantes do ponto de vista tecnológico, o enriquecimento no solo de óxidos hidratados de ferro ou alumínio, e a permanência de caulinita como argilomineral predominante e quase exclusivo. Esses minerais conferem aos solos de comportamentos lateríticos coloração típica: vermelho, amarelo, marrom e alaranjado (Villibor et al., 2009);

Os solos saprolíticos (sapro, do grego: podre), são aqueles que resultam da

decomposição ou desagregação in situ da rocha matriz pela ação das intempéries (chuvas, insolação, geadas) e mantêm, de maneira nítida, a estrutura da rocha que lhe deu origem. São genuinamente residuais, isto é, derivam de uma rocha matriz, e as partículas que os constituem permanecem no mesmo lugar em que se encontravam em estado pétreo. Os solos saprolíticos constituem, portanto, a parte subjacente à camada do solo superficial laterítico aparecendo na superfície do terreno, somente por causa de obras executadas pelo homem ou erosões. Esses solos são heterogêneos e constituídos por uma mineralogia complexa contendo minerais ainda em fase de decomposição. São designados também de solos residuais jovens, em contraste com os solos superficiais lateríticos, considerados maduros (Villibor et al., 2009).

A Figura 2.6 ilustra um perfil de corte rodoviário no qual aparece a delimitação entre horizontes laterítico e saprolítico. Pode-se observar a grande suscetibilidade do horizonte saprolítico à erosão, característica que limita bastante sua utilização rodoviária. Na Figura 2.7 é ilustrada a ocorrência dos solos de comportamento laterítico no Brasil. Nela percebe-se uma predominância dos solos lateríticos sobre os saprolíticos. Por esses dois motivos, será dada uma maior ênfase sobre os solos lateríticos neste trabalho.

__________________________________________________________________________________________

Tese de Doutorado (G.TD –112/2015) 61

Figura 2.6. Corte rodoviário, com camada laterítica sobrejacente a uma camada saprolítica de origem sedimentar, com as correspondentes micro-fábricas (Villibor et al., 2009).

Figura 2.7. Ocorrência dos solos de comportamento laterítico no território brasileiro (modificado de Villibor

et al., 2009).

Os solos lateríticos constituem perfis naturais caracterizados pedologicamente por conterem horizontes A e B podendo atingir espessuras de uma dezena de metros. Existem três tipos de ocorrência de solos lateríticos: os latossolos, os solos podzólicos e as terras roxas estruturadas. De acordo com os interesses geotécnicos, nos latossolos observa-se pequena diferença entre os horizontes, assim como elevada porosidade aparente, elevada permeabilidade, agregações geralmente bem desenvolvidas, variedade granulométrica, desde argila até areia argilosa. Já nos solos podzólicos, a diferenciação de horizontes é bastante nítida, podendo-se distinguir horizonte orgânico ou vegetal que se sobrepõe a um horizonte nitidamente mais rico em argila. Esse horizonte argiloso prejudica frequentemente as condições de drenagem dos solos podzólicos. A granulometria nesse tipo de ocorrência

__________________________________________________________________________________________

Tese de Doutorado (G.TD –112/2015) 62

evoluía desde as variedades arenosas até as argilosas. Por sua parte, as terras roxas estruturadas apresentam diferenças pouco nítidas entre os horizontes, no que se refere principalmente à cor. O horizonte apresenta uma granulometria tipicamente argilosa.

A mineralogia dos solos lateríticos é relativamente simples, sendo esta constituída na sua grande maioria pelo o quartzo. Esse mineral encontra-se quase sempre de maneira dominante nas frações de areia e pedregulho desses solos e imprime ao solo propriedades e comportamentos decorrentes de suas peculiaridades: elevada resistência à compressão, elevado módulo de elasticidade, elevada dureza, massa específica absoluta em torno de 2,65g/cm3, elevada estabilidade química. Além do quartzo, destacam-se outros minerais,

genericamente chamados de minerais pesados, dos quais pode-se citar: magnetita, ilmenita, turmalina, zircão, etc. Ainda na fração pedregulho, pode-se notar a presença de concreções lateríticas, principalmente constituídas por óxidos hidratados de fero ou alumínio (Nogami & Villibor, 1995).

De acordo com Idalíra (2007), na fração argila dos solos lateríticos encontra-se constituintes minerais, como argilominerais, óxidos e hidróxidos de ferro ou alumínio e constituintes orgânicos. O argilomineral predominante nesses solos é a caulinita, de estrutura atômica 1:1, ou seja, formada por repetição sucessiva de pacotes constituídos de uma camada tetraedros de sílica e de uma camada de alumina ligados por uma forca atômica do tipo ponte hidrogênio. Esse tipo de ligação proporciona ao argilomineral pequena atividade coloidal, que nos solos lateríticos é ainda reduzida pela associação com óxidos e hidróxidos de ferro e alumínio. Os óxidos, apesar de possuírem elevada superfície de especifica e reduzidas dimensões, não são plásticos, ou são muito pouco plásticos, não expansivos e possuem uma capacidade de troca catiônica desprezível nas condições de pH predominantes nos solos. Além disso, os óxidos de ferro e alumino possuem propriedades cimentantes, auxiliando na formação de agregados e concreções lateríticas.

Segundo Nogami & Villibor (1995), os solos de mesma granulometria, constituição e classificação geotécnicas podem ter comportamentos bem diferentes de acordo com as suas partículas de fábrica, isto é, da disposição espacial dos seus constituintes sólidos, dos seus vazios e das suas superfícies de descontinuidades. Nos solos lateríticos, a macrofábrica (fábrica observada a olho nu) é homogênea, isto é, não se distingue um desenho especial quando à distribuição dos grãos. A peculiaridade geotécnica mais notável dos solos lateríticos

__________________________________________________________________________________________

Tese de Doutorado (G.TD –112/2015) 63

está na permanência da resistência dessa macrofábrica mesmo após molhagem ou umedecimento. Isso faz com que os solos mantenham elevada porosidade aparente e permeabilidade quando são submetidos ao aumento de umidade (por imersão em água ou molhagem pelas chuvas) no seu estado natural. Além disso, observa-se a permanência dos torrões na fração areia do solo, resistência à compressão e ao cisalhamento muito mais acima da prevista pelos índices físicos tradicionais assim como maior facilidade a se prestar às misturas com água ou estabilizantes químicos.

Essas diferentes peculiaridades vêm inviabilizando os parâmetros obtidos pelos métodos tradicionais, quando esses são utilizados para classificar os solos lateríticos. De acordo com Rezende (2003), geralmente, quando se aplicam essas normas verifica-se através de ensaios de laboratório (granulometria, limites de liquidez e de plasticidade, Índice de Suporte Califórnia – ISC) que o solo laterítico não é indicado para a utilização em pavimentação. No entanto, com a realização de pesquisas, a utilização desse material em campo e a determinação de novos parâmetros por meio da metodologia MCT e dos módulos resilientes, tem-se verificado o seu bom desempenho. Por esse motivo, maior atenção deve ser dada a esses parâmetros.