• Nenhum resultado encontrado

Os solos constituem um importante elemento da geodiversidade, principalmente em áreas eminentemente agrícolas, como é o caso do município de Caraá, onde a maior parte da população reside na área rural e tira seu sustento das atividades primárias, como a agricultura, a silvicultura, a pecuária e o extrativismo.

Os solos e suas características físicas e químicas estão diretamente relacionados com as rochas que lhe deram origem, sua posição nas vertentes, o clima e sua interação com os seres vivos, incluindo-se aí a espécie humana, que pode alterar significativamente as características do solo, inclusive comprometendo sua utilização.

Os solos possuem determinadas características que os distinguem em diversas ordens, sendo algumas delas perceptíveis ao olho humano, como a cor, textura, estrutura e profundidade e outras reveladas por análises laboratoriais, como teores de argila, areia, silte, minerais, bases e cátions.

O SiBCS – Sistema Brasileiro de Classificação de Solos – reconhece 13 ordens de solos presentes no território nacional, das quais 12 ocorrem de maneira expressiva no estado do Rio Grande do Sul e 4 delas em Caraá, conforme o Mapa de Solos da folha SH.22-X-C (IBGE, 2003c), elaborado com base nos dados do Projeto RADAMBRASIL e atualizado em 2018 pela Diretoria de Geociências do IBGE.

Segundo Streck et al. (2008, p. 34) a classificação dos solos é feita em seis Níveis Categóricos - NC, sendo que o SiBCS atualmente está desenvolvido até o 4º NC. O primeiro nível é a ordem, onde os solos são enquadrados conforme características relacionadas ao seu processo de formação, identificados pela presença de horizontes diagnósticos. O segundo NC é a subordem, subdivisões baseadas em características que representam processos secundários de formação, reconhecidos por exemplo pela cor dos solos. O terceiro NC são os Grandes Grupos, baseados em características morfológicas,

químicas ou físicas. Por fim, o quarto NC são subdivisões dos grupos, baseados em variações dos NCs superiores ou de características extraordinárias ou típicas.

Dentre as 12 ordens de solos que ocorrem no estado, em Caraá foram mapeadas as ordens dos Argissolos, Cambissolos, Neossolos e Nitossolos, sendo esta última ordem a de mais ampla distribuição pelo território municipal, conforme pode ser observado na Figura 16.

Como indica o mapa de solos, a ordem predominante na área de estudo é o Nitossolo Vermelho Distroférrico típico, que cobre mais da metade da superfície municipal. São solos com textura argilosa ou muito argilosa, com diferença textural inexpressiva, com “[...] horizonte subsuperficial com moderado ou forte desenvolvimento estrutural do tipo prismas ou blocos e com a superfície dos agregados reluzentes, relacionadas com a cerosidade ou superfícies de compressão” (IBGE, 2015, p. 308).

Figura 16: Mapa de Solos de Caraá.

Legenda:

Argissolo Vermelho-Amarelo Alítico abrúptico e típico;

Nitossolo Vermelho Distroférrico típico;

Cambissolo Flúvico Eutrófico gleissólico e típico;

Cambissolo Húmico Alumínico típico;

Neossolo Litólico Chernossólico típico;

Nitossolo Vermelho Eutrófico típico;

São solos originados a partir de rochas basálticas, profundos, encontrados em relevo suave ondulado a ondulado, geralmente associados aos Chernossolos e Neossolos nas áreas de transição da encosta inferior do planalto com a depressão central (STRECK et al. 2008).

Segundo Streck et al. (2008, p. 104) devido as “[...] suas propriedades físicas (profundos, bem drenados, muito porosos, friáveis, bem estruturados) e condições de relevo, os Nitossolos geralmente possuem boa aptidão agrícola [...]”, podendo ser utilizados para culturas de inverno e verão.

Em decorrência dessas boas características para a agricultura e por ocorrer em mais da metade do território municipal, é um tipo de solo intensamente cultivado no verão (Figura 17), com milho e feijão (cultivo bastante tradicional no município), além de mandioca, batata-doce, cana-de-açúcar e outros em menor proporção.

Figura 17: Cultivo de feijão sobre Nitossolo Vermelho Distroférrico típico.

Fonte: Fotografia de Geovane Brandão, 2012.

Com características físicas semelhantes, mas com diferença na saturação por bases e consequentemente na fertilidade, está o Nitossolo Vermelho

Eutroférrico típico, ocupando em torno de 1200 hectares, também sobre rochas

Outra ordem de solos de grande expressão superficial na área de estudo cobrindo mais de 7000 hectares é o Neossolo Litólico Chernossólico típico, cujo nome da ordem deriva do grego néos, significando novo, moderno. São solos em processo de formação, pouco profundos, sem diferenciação dos horizontes, estando o horizonte A ou O, assentado diretamente em rocha pouco alterada. Segundo Streck et al. (2008)

“[...] devido a pouca profundidade efetiva para o desenvolvimento das raízes e para o armazenamento de água e, por ocorrerem em regiões de relevo forte ondulado e montanhoso, em geral com pedregosidade e afloramentos de rochas, apresentam fortes restrições para culturas anuais; em consequência disso, devem ser mantidos sob preservação permanente” (STRECK et al. 2008, p. 95).

Em função destas restrições naturais e em decorrência de uso inadequado no passado, sem a adoção de medidas de conservação do solo, foram bastante afetados pela erosão, expondo ainda mais o substrato rochoso e inviabilizando a exploração agrícola, pela exposição de matacões de rocha e formação de ravinas (Figura 18). Atualmente as áreas de ocorrência de neossolos são utilizadas como áreas de pastagens ou deixados à sorte da natureza para que a vegetação florestal secundária se recomponha gradativamente.

Figura 18: Vertente forte ondulada, onde ocorrem os Neossolos.

Os argissolos podem originar-se das mais variadas litologias, como granitos, argilitos, siltitos, arenitos e basaltos. Na área de estudo os solos dos tipos Argissolo Vermelho-Amarelo Alítico abrúptico e típico recobrem aproximadamente 3000 hectares. Estão associados aos arenitos da Formação Botucatu, em áreas capeadas ou não pelos basaltos da Formação Serra Geral, desenvolvendo-se geralmente nas rampas de colúvio, em relevo suave ondulado até forte ondulado.

São solos geralmente profundos, podendo ser bem drenados ou imperfeitamente drenados. Sua característica diagnóstica é a presença de horizonte B textural, caracterizado pela mudança abrupta de textura do horizonte A ou E para o B, em função do acúmulo de argilominerais no horizonte B. Consequentemente o horizonte A tende a ser mais arenoso e suscetível à erosão, dependendo do estágio de desenvolvimento do solo.

Essa mudança textural abrupta entre os horizontes provoca a diminuição da velocidade de infiltração da água, favorecendo a saturação dos horizontes superficiais e podendo provocar o escoamento superficial e a consequentemente erosão do solo. Por outro lado, o horizonte A, mais arenoso, torna-se mais apto ao trabalho dos implementos agrícolas, principalmente aqueles puxados por tração animal, exigindo menos força para o revolvimento do solo (STRECK et al., 2008, p. 50).

A quarta ordem de solos que se identifica em Caraá é a dos cambissolos, nome derivado do latim cambiare, significando trocar, mudar, são solos em processo incipiente de formação (IBGE, 2015). Podem ser rasos ou profundos, apresentam horizonte B incipiente, ainda em processo de transformação, não possibilitando enquadrá-lo em outras ordens de solos mais desenvolvidos.

O Cambissolo Húmico Alumínico típico ocorre nas áreas de topo do planalto, em áreas de relevo suave ondulado onde “[...] a alta pluviosidade e as baixas temperaturas favorecem a acumulação da matéria orgânica” (STRECK et al., 2008, p. 56), podendo ocorrer em associação com solos da ordem dos neossolos. Ocupam na área de estudo em torno de 600 hectares, coincidindo com as áreas de ocorrência das rochas ácidas da Fácies Caxias.

O Cambissolo Flúvico Eutrófico gleissólico e típico ocorre em situação bem distinta, pois está associado a um modelado de acumulação

formado por depósitos de sedimentos quaternários, carregados em suspensão pelos cursos d’água que os depositam na planície nos episódios de cheia. Está limitado à planície aluvial recente do Rio dos Sinos e dos arroios Caraá e Sertão, em relevo plano ou suave ondulado em altitudes que variam de 30 a 60 metros, ocupando área de pouco mais de 1000 hectares.

Apresenta um horizonte A com teor elevado de matéria orgânica e baixa acidez, porém com espessura e saturação de bases inferior aos limites necessários para seu enquadramento na ordem dos Chernossolos, embora pontualmente possam existir áreas com perfil de solo mais desenvolvido, gradando para chernossolos.

Pelas suas características de relevo, fertilidade e localização, são os solos mais explorados no município de Caraá, predominando o cultivo de arroz- irrigado, nas partes planas de drenagem imperfeita, e a horticultura (Figura 19), nas partes suave onduladas, onde a declividade, embora pequena, permite o escoamento do excesso de água, prejudicial às hortaliças.

Figura 19: Horta cultivada em Cambissolo Flúvico, às margens do Rio dos Sinos.

Documentos relacionados