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CAPÍTULO II UM MODELO DE JUSTIÇA EFICIENTE PARA O BRASIL

2.4 Soluções para a eficiência da Justiça

Com base no que foi apresentado, são apresentadas a seguir possíveis soluções, como sinônimo de quais caminhos acredita-se como eficazes, para se produzir resultados que levem à eficiência da Justiça.

Constitui como função do Estado garantir o acesso à Justiça pelos mais variados modos, sendo seu dever também criar políticas públicas para o aumento de meios alternativos, para dar escolha e inclusão social na prestação jurisdicional, além de atender ao princípio da razoável duração do processo.

Comunga com essa afirmação o que dispõe Gilmar Mendes:

O reconhecimento de um direito subjetivo a um processo célere — ou com duração razoável—impõe ao Poder Público em geral e ao Poder Judiciário, em particular, a adoção de medidas destinadas a realizar esse objetivo.

83

Disponível em: http://www.cnj.jus.br/images/pesquisas- judiciarias/Publicacoes/100_maiores_litigantes.pdf. Acesso em: 17/10/2014.

Nesse cenário, abte-se um campo institucional destinado ao planejamento, controle e fiscalização de políticas públicas de prestação jurisdicional que dizem respeito à própria legitimidade de intervenções estatais que importem, ao menos potencialmente, lesão ou ameaça a direitos fundamentais.

O assunto envolve temas complexos e pretensões variadas, como a modernização e simplificação do sistema processual, a criação de órgãos judiciais em número adequado e a própria modernização e controle da prestação jurisdicional e de questões relacionadas à efetividade do acesso à justiça.84

Ressalta-se que no Brasil não existe o monopólio do Estado no julgamento de litígios, podendo existir organizações na sociedade civil para, por exemplo, comporem centros de métodos não convencionais de resolução de conflitos, utilizando-se de convenção entre as partes.85

Daniel Sarmento sustenta que:

Enfim, numa sociedade em que, tal como na fazenda dos bichos de George Orwell, ―todos são iguais, mas alguns são mais iguais do que os outros‖, proteger os ―menos‖ iguais dos ―mais‖ iguais tornou-se uma das principais missões dos direitos fundamentais. Sob essa perspectiva, os direitos humanos deixam de ser vistos como deveres apenas dos Estados, na medida em que outros autores não-estatais são convocados para o mesmo palco, chamados às suas responsabilidades para a construção de sociedade mais justa, centrada na dignidade da pessoa humana.86

Logo, dividir as funções da Justiça com outros autores não estatais significa alternativa ao sistema tradicional de resolução de conflitos feito pelo Poder Judiciário.

A proporcionalidade deve ser observada na seguinte relação: aumento do número de processos que entram para julgamento, igual número de agentes públicos no Poder Judiciário, ou seja, juízes, escreventes, etc. Além disso, deve ter uma boa estrutura de trabalho e possuir informatização adequada dos procedimentos.

84

MENDES, Gilmar Ferreira; COELHO, Inocêncio Martires; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso

de Direito Constitucional. 4ª ed. São Paulo: Saraiva, 2009, p. 546. 85

Cf. LEAL, Liliane Viera Martins; GARCIA FILHO, Altamiro. Centro de pacificação social: instrumento de composição e prevenção de conflitos pré-processuais e Jurisdicionalizados. Disponível em: http://www.sbpcnet.org.br/livro/63ra/conpeex/extensao-cultura/trabalhos-extensao-cultura/extensao- cultura-liliane-vieira.pdf. Acesso em 11/09/2014.

86

SARMENTO, DANIEL. Direitos fundamentais e relações privadas. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2004, p. XXV.

A descrença na Justiça se deve a vários fatores, mas alguns estão sempre em evidência, como a impunidade em sentido geral e a demora em se decidir a quem cabe o direito quando existe uma demanda judicial.

O rápido julgamento de uma ação judicial pode ser prejudicado, por exemplo, pelos institutos de defesa, tais como: a contestação, as exceções processuais e a reconvenção do art. 297, todos, presentes no Código de Processo Civil.

Existem, também, as causas a serem analisadas em preliminar no art. 267 que são várias. Além dessas, tem-se a denunciação da lide, a nomeação à autoria, o chamamento ao processo, a impugnação do valor da causa e a declaração incidente.

Já no campo da execução estão os embargos do devedor, e nos procedimentos especiais se encontram os embargos de terceiros.

Tudo isso sem contar as instâncias e os tribunais superiores, nestes, aliás, existem os agravos regimentais. Porém, todas essas defesas estão fundamentadas na Constituição.

Diante disso, seria importante reformar a legislação processualista infraconstitucional, eliminando recursos desnecessários que na maioria das vezes só servem para dar à sociedade a sensação de injustiça, como meio de desestimular a litigância abusiva.

Outra questão que se relaciona com o caminho da eficiência do Poder Judiciário, deve-se ao papel das faculdades de Direito em ensinar a cultura da resolução pacífica dos conflitos, visto que a característica principal do ensino do Direito é a forma adversarial de solução de conflitos.

Para José Renato Nalini:

Mais significativo do que a estrutura preservada, todavia, é a concepção do que deva ser uma Faculdade de Direito. É a escola que ensina a litigar. A educação jurídica é eminentemente adversarial. Desde os primeiros semestres, os alunos são treinados ao litígio. A prática jurídica se resume ao exercício da advocacia em juízo. Pouco se investe na formação de um profissional da prevenção dos conflitos, habilitado em pacificar, apto a conciliar, a propor negociação ou a transação, além de inúmeras outras

alternativas de resolução de conflitos que prescinda de uso da pesada e burocratizada máquina judicial.87

Depreende-se da citação que as Universidades devem investir na formação do profissional de direito para que se mude o paradigma do exercício da advocacia unicamente pelo lado do litígio, passando este a se preocupar mais com os métodos não convencionais de resolução de conflitos.

José Renato Nalini ainda adverte para o fato de não haver milagre para se resolver o problema da ineficiência da Justiça, mas não se curva para o debate, e sim propõe, dentre outras soluções, que uma administração pública deve atender ao princípio da eficiência e que incube ao Governo adotar postura jurídica de prevenção de litígios.88

Relevante mencionar as iniciativas para as práticas bem sucedidas de gestão do Poder Judiciário que buscam a modernização e a melhoria da qualidade dos serviços da Justiça.89

Nesse sentido, salienta Sérgio Pereira Braga para uma formação específica relacionada ao papel da liderança:

Para aumentar a eficiência do sistema judicial é indispensável o estabelecimento de um programa de formação permanente. Todos os agentes judiciais que desempenham funções de direção, supervisão e coordenação devem ter formação especial na área de gestão e liderança. A preocupação principal do programa de formação deve ser a de como obter os melhores resultados possíveis com os funcionários disponíveis.90

87

NALINI, José Renato, Há esperança de justiça eficiente?. in SILVEIRA, Vladmir Oliveira da; MEZZAROBA, Orides (coord.). Justiça e [o paradigma da] eficiência. Coleção Justiça, Empresa e

sustentabilidade. Volume 1. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011, p. 128. 88

Cf. NALINI, José Renato, Há esperança de justiça eficiente?. in SILVEIRA, Vladmir Oliveira da; MEZZAROBA, Orides (coord.). Justiça e [o paradigma da] eficiência. Coleção Justiça, Empresa e

sustentabilidade. Volume 1. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011, p. 137-147. 89

Cf. GRANGEIA, Marcos Alaor Diniz. A crise de gestão do poder judiciário: o problema, as consequências e os possíveis caminhos para a solução. Disponível em: http://www.enfam.jus.br/wp- content/uploads/2013/01/2099. Acesso em: 16/10/2014, p. 19.

90

BRAGA, Sérgio Pereira. A administração da justiça e o papel da liderança na redução da

morosidade no poder judiciário. Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Direito

da Universidade Nove de Julho - UNINOVE, como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre

em Direito. São Paulo, 2013. Disponível em:

Também configura como importante solução para o complexo problema da ineficiência da Justiça, o fato de se estabelecer política pública judiciária para tratar por outro modo as execuções fiscais.

Outra medida seria estabelecer julgamentos conciliatórios para as demandas relativas aos principais demandantes do Estado, como exemplo as relativas às causas previdenciárias.91

Por fim, abre-se espaço para a autotutela administrativa como meio de se resolver os conflitos entre o Estado e o cidadão sem passar pelo Poder Judiciário, como forma de contribuir para a diminuição da saturação desde Poder, quando se refere ao número de demandas processuais para serem julgadas.

André Luis Nascimento Parada expõe que:

A autotutela configura um meio de a Administração, sponte propria, zelar pelos seus atos e suas condutas na busca de uma célere recomposição da ordem jurídica e da readequação ao interesse público.92

Exemplo de uso da autotutela administrativa se refere à garantia do direito fundamental social da saúde, ―caput‖ do art. 6º, da Constituição de 1988, pois conforme exposto neste estudo, no tópico sobre o ativismo judicial e judicialização da política, necessária a intervenção do Poder Judiciário para efetivar o exercício do deste direito quando devidamente solicitado.

91

Cf. Demandas repetitivas e a morosidade na justiça cível brasileira. Disponível em: http://www.cnj.jus.br/images/pesquisas-judiciarias/Publicacoes/pesq_sintese_morosidade_dpj.pdf. Acesso em: 20/10/2014.

92

PARADA, André Luis Nascimento. A procedimentalização da autotutela administrativa como meio

alternativo de solução de conflitos. Disponível em:

CAPÍTULO III - AS CONTRIBUIÇÕES DOS MÉTODOS NÃO CONVENCIONAIS