5 RESULTADOS E DISCUSSÃO
5.2 A Estratégia Saúde da Família em Sobral-CE e o surgimento do Gerente
5.3.6 Os Sonhos na Trajetória dos Desafios
Quadro 26 - Maiores Desafios apontados pelos Gerentes de Sobral
MAIORES DESAFIOS
1. Tempo para organizar o serviço 2. Autonomia
3. Manter a qualidade do serviço com atendimento digno e o acesso da comunidade 4. Continuar o que está fazendo
5. Recursos Humanos; transferência de responsabilidades de falta de medicamentos; pouca oferta de exames
6. Maior autonomia; Gerente sem ser assistente 7. Apoio logístico (setor de transporte)
8. Se manter na gerência (aprovação na seleção) 9. Gerenciar conflitos
Ex-COORDENADOR DA ATENÇÃO PRIMÁRIA
Características Competências
Responsabilidade Reconhecer o território como de responsabilidade sanitária de toda a equipe
10. Trabalhar o comportamento e funcionamento junto a equipe; Recursos humanos 11. Administrar equipe com grande número de funcionários; apoio logístico
12. Organização; planejamento; melhorar indicadores de saúde; qualidade da assistência; acesso dos usuários
13. Ter treinamento nesta área; reconhecimento; mais autonomia 14. Reconhecimento; autonomia
15. Área de atuação bastante diversificada; CSF sem estrutura para tamanho da equipe 16. Capacitação; Melhorar os Recursos Humanos; autonomia
17. Mais autonomia
18. Humanização dos funcionários 19. Gerência de Recursos Humanos
20. Lidar com funcionários não capacitados para função; organização do serviço; falta de insumos
21. Gerência de Recursos Humanos; falta de insumos; pouca oferta de exames 22. Gerência de Recursos Humanos; falta de insumos
23. Gerenciar pessoas; aprender coisas novas; falta de insumos 24. Gerência de Recursos Humanos; falta de apoio logístico
25. Mediar conflitos individuais e coletivos no CSF e no território; gerenciar demanda de transporte
Fonte: Elaborado pela autora.
Voltamos ao questionário aplicado com os gerentes para discutir acerca de seus maiores desafios na atuação. Fizemos a pergunta, primeiro para responder a um dos nossos objetivos específicos, segundo, tencionava perceber para além do pensado, o que tem sido vivido pelos mesmos na sua trajetória gerencial. Esse elemento, acreditamos ser útil para a gestão do sistema, uma vez que nesta análise temática, apontamos categorias advindas dos relatos dos gerentes, constituindo-se em potenciais indicadores para subsidiar um repensar da gestão em relação às condições de trabalho que são colocadas e pode ainda, se revelar um retrato contextual da busca dos gerentes, na perspectiva de atender aos anseios da ESF e conseqüentemente do que a secretaria da saúde espera dele.
Dessa forma, fizemos desta a última pergunta aberta no questionário propositadamente na tentativa de, ao chegar nela, os mesmos já tivessem feito uma releitura mental de suas práticas gerenciais.
Portanto, o produto que temos categorizado acima, revela-se um anseio, mediado por forças subjetivas de cada um deles e por forças objetivas, advindas de uma responsabilidade a eles atribuída como trabalhadores e trabalhadoras do SUS, à luz do contexto e da cultura organizacional da própria secretaria da saúde que tem sua cultura, valores e princípios organizativos próprios de sua realidade e ambiente.
Selecionamos as quatro categorias mais prevalentes apontadas pelos gerentes como maiores desafios, identificando dessa forma que 32%, 8 deles, referiram ser o maior
desafio a gerência de recursos humanos ou a gerência de pessoas, seguida do desejo de mais autonomia, com 24%, (06 gerentes); Após temos a falta de insumos com 16%, (04 gerentes) e 12%, 3 deles referem precisar de mais apoio logístico.
Pudemos observamos então, utilizando como característica de análise, identificar os desafios mais repetidos pelos gerentes, dessa forma identificando qual o desafio comum para a maioria deles. Das falas, pudemos revelar que a gestão de pessoas e/ou a gestão de recursos humanos é o desafio predominante para a maioria dos gerentes. De fato, para qualquer gerente que está à frente de uma equipe e, principalmente para um gerente de uma equipe multiprofissional, esse desafio, na maioria das organizações é lembrado, pois dentre as atividades de gerência, os processos são construídos pelas pessoas e são elas que o produzem de forma a atender aos objetivos propostos, portanto, mediar estas relações, estimular a equipe para que as pessoas se motivem a alcançar os objetivos, implica numa ação complexa e que exige realmente um líder que esteja atento às pessoas e aos produtos das mesmas.
Percebemos também que o desejo de mais autonomia é referido por muitos gerentes, implicando sugerir que os mesmos esperam uma atuação mais dinâmica no sentido de darem respostas aos diversos problemas que surgem no território e que necessitam da intervenção do gerente. Entretanto, faz-se importante lembrar que a autonomia para dar resposta a determinados problemas pode ser viabilizada pela capacidade de articulação que o mesmo tenha, de ele próprio, sem a intermediação da coordenação da APS, por exemplo, ser necessária.
Para Jubran (2012), desenvolver e aprimorar a autonomia dos sujeitos implica explorar novas oportunidades de interação e aprendizado uma vez que se trata de um processo gradativo e que exige que outros níveis de consciência sejam atingidos.
Para a autora, no campo moral, a autonomia revela-se quando ao sujeito é concedido o direito de questionar e avaliar a legitimidade das regras de condutas vigentes. Essa autonomia moral é solicitada pelo gerente no seu exercício, mas seu desejo é que esse movimento se manifeste em muitas frentes e não somente quando é necessário resolver um problema emergente, pontual e restrito, mas, sobretudo, para discutir o planejamento de seu território, por exemplo, considerando as especificidades culturais; discutir as normas impostas pela secretaria; discutir o processo de recrutamento e seleção de sua equipe, dentre outros pontos que merecem maior participação desse coletivo.
Dentre os demais, percebemos o desafio colocado com evidência pelos gerentes em administrar a falta de insumos, situação que embora seja colocada como desafio, pode não ter uma relação direta ao fazer do mesmo, uma vez que a provisão de insumos que envolvem
um processo complexo de aquisição, compra, armazenamento e distribuição não seja de sua responsabilidade. Entretanto, entendemos que esse desafio é colocado no âmbito de que o cumprimento de metas e indicadores é cobrado, mesmo que as condições para tal não sejam adequadas, precisando que o gerente, inclusive dispondo de sua competência de utilizar a comunicação como ferramenta de integração e interação com os diversos públicos, seja desenvolvida, de forma a responder à insuficiência de insumos.