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4 DISCUSSÕES SOBRE A PSICOLOGIA

5.6 SOS MULHER DE VILA VELHA

O SOS Mulher de Vila Velha surgiu em 2000, funcionando atualmente no Hospital da Mulher, no município de Vila Velha. O modelo de funcionamento do SOS foi trazido por uma equipe da Universidade de São Paulo (USP), que realizou um treinamento com os funcionários contratados pela Prefeitura Municipal de Vila Velha, para a implantação do programa nesse município, baseado no funcionamento do SOS paulista.

À prefeitura do município de Vila Velha cabe portanto, a manutenção do programa, que conta com algumas parcerias com o governo federal para envio de medicamentos e treinamento de pessoal.

A necessidade de implantação de um programa nos moldes de um SOS Mulher surgiu em decorrência de casos de mulheres violentadas detectados por médicos obstetras e ginecologistas do Hospital da Mulher.

O Programa possui uma equipe feminina de funcionários, composta por uma médica, uma assistente social e uma enfermeira, atendendo mulheres vítimas de violência sexual do município de Vila Velha e de cidades do interior do estado, com idades e nível sócio-econômico variados.

Apesar de atender uma clientela feminina violentada sexualmente, o SOS Mulher, em seus quatro anos de funcionamento, não atendeu nenhum caso de violência sexual conjugal, assim como não recebeu oficialmente casos de outras violências praticadas entre cônjuges, que pudessem ser encaminhadas aos programas da Grande Vitória. Os funcionários explicam o fato, afirmando que os casos de violência conjugal, em geral, são pouco denunciados. Além disso, existem outros programas especializados na Grande Vitória de maior visibilidade pública, que provavelmente estariam recebendo esses casos específicos.

Porém, a análise dos relatos dos profissionais entrevistados indica que existem em atendimento psicológico, mulheres casadas, que foram violentadas sexualmente por homens que não são os maridos, e que passam por uma série de problemas conjugais após o ocorrido, indicando principalmente a produção de violências psicológicas entre os cônjuges.

O SOS Mulher, seria um programa para receber, prioritariamente, encaminhamentos da comunidade local, das Delegacias de Mulheres e do Departamento Médico Legal de Vitória. Em 2004 o Hospital da Mulher ficou em reforma durante seis meses, em decorrência da enchente provocada por chuvas no município. Sendo assim, durante esse período, o SOS Mulher funcionou em locais emprestados por igrejas e movimentos comunitários, o que, de certa forma, comprometeu o funcionamento do programa.

6 OBJETIVOS

Os principais objetivos do estudo são:

Identificar as concepções de gênero e de violência conjugal de psicólogos que atuam em programas de atendimento aos homens e/ou às mulheres envolvidos em situação de violência conjugal nos municípios de Vitória, Vila Velha e Serra, cidades da região metropolitana do estado do Espírito Santo.

Analisar se as representações que os psicólogos possuem sobre homens e mulheres envolvidos em ocorrências de violência nos relacionamentos conjugais, obedecem à lógica dual: homem, agressor, ativo, atribuindo à mulher uma posição de vítima, passiva, o que poderia contribuir para que o profissional acabasse assumindo uma postura de defensor de uma das partes, levando-o a exercer uma espécie de tutela.

Considerando que existem psicólogo(a)s inseridos nas equipes multiprofissionais vinculadas a estas instituições nos parece importante o levantamento de dados qualitativos sobre a prática psicossocial no atendimento à violência conjugal nos municípios de Vitória, Serra e Vila Velha, pois possibilita a atualização de informações sobre a realidade próxima e material teórico relevante para discussões acadêmicas sobre temas afins à atuação profissional nessa área, que eventualmente possam aparecer, como a história dos programas, a inserção do psicólogo, os diversos tipos de atendimentos realizados por esses profissionais, bem como as dificuldades encontradas.

Presumimos que se trata de profissionais que tiveram uma formação técnica supostamente orientada para lidar com diversidades, afirmando uma postura de reconhecimento do outro a partir das pluralidades, buscando combater radicalismos, defendendo um discurso ético e portanto não reducionista. Desejamos verificar se tais profissionais acabam reproduzindo as noções de gênero polarizadas e dicotômicas.

O fato desses profissionais (psicólogos) atenderem, em maior número, mulheres violentadas, ou homens denunciados como agressores, pode interferir nas concepções que formulam a respeito dos papéis de gênero na definição de violência conjugal, principalmente por terem acesso, ao menos imediato, a apenas a uma das partes envolvidas.

Verificar se existem idéias de intervenção para o homem defendidas por profissionais que atendem apenas às mulheres participantes das relações conjugais violentas.

Além disso, será verificada a permanência do caráter emergencial nos atendimentos prestados, ou a existência de uma mudança no tipo de atendimento em decorrência de mobilizações entre diversos setores da sociedade civil.

A escolha por psicólogos está fundamentada na necessidade de investigar quais as características das concepções de gênero de um especialista, que lida diretamente com o discurso de mulheres e homens inseridos em contexto de violência conjugal.

Aspira-se assim, produzir reflexões que possam ser usadas como subsídios teóricos para a promoção de discussões sobre a prática da Psicologia no Espírito Santo diante das mudanças gradativas nas relações de gênero, sugerindo uma noção de violência conjugal relacional. Acreditamos que os dados servirão para discussão inicial, visto que o atendimento especializado a cônjuges em situação de violência possui um histórico recente no Estado, podendo então contribuir para divulgação e reconhecimento da importância desses centros especializados e para o desenvolvimento de outras pesquisas complementares.

7 OBSERVAÇÕES SOBRE O MÉTODO

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