S ÍMBOLOS , A CRÔNIMOS E ABREVIATURAS
5.2 U TILIZAÇÃO DE RCD EM ESTRADAS RURAIS E FLORESTAIS
5.2.3 E SPECIFICAÇÃO LNEC E484 DE 2016 E ENQUADRAMENTO DA AMOSTRA DE RCD ANALISADA
As análises de viabilidade do emprego de RCD em camadas de pavimento têm-se mostrado bastante positivas. Contudo, quando se trabalha com materiais reciclados, é necessário investigar a origem do resíduo e os processos empregados no processamento do mesmo, uma vez que esses fatores influenciam a qualidade do material como agregado (Oliveira et al., 2018).
A especificação LNEC E484 de 2016 constitui um guia para a utilização de materiais provenientes de resíduos de construção e demolição em caminhos rurais e florestais. Esta especificação fornece reco- mendações e estabelece requisitos mínimos para a utilização de materiais provenientes de RCD nas diversas camadas que constituem a estrutura do pavimento dos caminhos rurais e florestais, neles se incluindo os solos e as rochas, ainda que provenham de obras distintas daquela em que irão ser usados (LNEC, 2016).
5.2.3.1 CLASSIFICAÇÃO DOS MATERIAIS PROCESSADOS
A classificação dos constituintes dos materiais provenientes de RCD deve ser efetuada de acordo com o estabelecido na norma EN 933-11 (Quadro 26), com algumas alterações introduzidas pela Especifica- ção LNEC E484, nomeadamente no que se refere à quantificação em separado da proporção do consti- tuinte “solo”.
Quadro 26 – Constituintes dos RCD na EN 933-11 (LNEC, 2016)
Sigla Constituintes da NP EN 933-11
Rc Betão, produtos de betão e argamassas
Ru Agregados não ligados, pedra natural e agregados tratados com ligantes
hidráulicos
Rg Vidro
Ra Materiais betuminosos
Rb
Elementos de alvenaria de materiais argilosos (tijolos, ladrilhos e telhas), elementos de alvenaria de silicatos de cálcio e betão celular não flutuante
Rs Solos
FL Material flutuante
X Outros: plásticos, borrachas, metais (ferrosos e não ferrosos), madeira não flutuante e estuque
Para efeitos de utilização em caminhos rurais e florestais, os materiais provenientes de RCD abrangidos pela referida especificação LNEC estão agrupados em três classes (CRA, CRB e CRC), definidas com base nas proporções relativas de cada um dos constituintes mencionados, tal como indica o Quadro 27.
Quadro 27 - Classificação dos materiais provenientes de RCD com base nos constituintes (LNEC, 2016)
Proporção dos constituintes
Classe Rc+Ru+Rg (%) Rg (%) Ra (%) Rb+Rs (%) FL (cm³/kg) X (%) CRA Sem limite ≤ 25 Sem limite Sem limite ≤ 5 ≤ 1
CRB ≥ 20 ≤ 5 ≤ 80 ≤ 10 ≤ 5 ≤ 1
CRC ≥ 50 ≤ 5 ≤ 30 ≤ 10 ≤ 5 ≤ 1
Como constatado na secção 5.2.2.1, o RCD analisado possui a seguinte composição: 50,99% de Rc, 23,15% de Ru, 0,32% de Rg, 1,54% de Ra, 19,50% de Rb e 4,14 de Rs, 0,3 cm³/kg de FL e 0,17% de X. Logo, Rc+Ru+Rg = 74,46%, Rb+Rs = 23,64. Desta forma, e através dos resultados obtidos através da norma EN 933-1, conclui-se que o RCD estudado se enquadra somente na classe CRA, visto que a soma de materiais cerâmicos e de solo (Rb+Rs) é superior a 10%, sendo esse o único motivo pelo qual o material é excluído das classes CRB e CRC.
5.2.3.2 CONDIÇÕES DE APLICAÇÃO
A utilização dos materiais provenientes de resíduos de construção e demolição (RCD) em caminhos rurais e florestais deve permitir cumprir os requisitos estruturais e funcionais da obra em causa. No que se refere às camadas traficadas não revestidas, de forma análoga ao que acontece quando se utilizam materiais naturais nestes pavimentos, o dimensionamento das camadas e as características exigidas aos materiais dependerão do tipo e frequência de veículos, do clima do local, da largura e das inclinações longitudinal e transversal da via, das condições de drenagem longitudinal e transversal, das condições de fundação e dos processos construtivos utilizados (LNEC, 2016).
O Quadro 28 estabelece critérios de aplicação dos materiais provenientes de RCD pertencentes às cate- gorias referidas no Quadro 29. Este último quadro estabelece os requisitos de conformidade, através dos parâmetros, propriedades, respectivas normas de ensaio e os correspondentes limites que os materiais devem satisfazer em cada categoria, para serem aplicados em caminhos rurais e florestais (LNEC, 2016).
Quadro 28 – Condições de aplicação (LNEC, 2016)
Local Categoria
Aterros para caminhos rurais e florestais CR1, CR2, CR3 e CR4 Leito do pavimento ou sub-base CR2, CR3 e CR4
Base do pavimento CR3 e CR4
Quadro 29 - Propriedades e requisitos mínimos dos materiais provenientes de resíduos de construção e demolição para caminhos rurais e florestais (LNEC, 2016)
Requisitos de conformidade Categoria
CR1 CR2 CR3 CR4
Parâmetros Propriedade Norma de ensaio CRA, CRB, CRC CRA, CRB, CRC CRB, CRC CRC
Geométricos e de natureza
Dimensão máxima das partículas (Dmax)1
NP EN 933-1 Dmax ≤ 180 mm Dmax ≤ 80 mm Dmax ≤ 40 mm Dmax ≤ 40 mm
Teor de finos (≤ 0,063 mm) NP EN 933-1 - ≤ 12% ≤ 12% ≤ 12%
Qualidade dos finos (MB0/D)2, 3 EN 933-9 - MB0/D ≤ 2,0 MB0/D ≤ 2,0 MB0/D ≤ 1,0
Comportamento mecânico
Resistência a fragmentação (LA) Resistência ao desgaste (MDE)
NP EN 1097-2 NP EN 1097-1 - LA ≤ 50 LA ≤ 45 ou MDE ≤ 45 LA ≤ 40 ou MDE ≤ 40 Químicos
Teor de sulfatos solúveis em água4 NP EN 1744-1 ≤ 0,7% ≤ 0,7% ≤ 0,7% ≤ 0,7%
Libertação de substâncias perigosas5 EN 12457-4 Classificação como resíduos para deposição em aterro para resíduos inertes
1 Nos casos em que a dimensão nominal das partículas é superior a 90 mm a dimensão máxima das partículas deve ser determinada de acordo com o estabelecido na norma EN 13383-2.
2 MB0/D é o valor de azul de metileno (MB) expresso em g/kg segundo a norma de ensaio EN 933-9, multiplicado pela percentagem da fração passada no peneiro de 2 mm.
3 Esta avaliação apenas deve ser realizada se o teor máximo em finos for superior a 3%.
4 Para teores de sulfatos superiores a 0,2%, estes materiais devem ser colocados a uma distância não inferior a 0,50 m de elementos estruturais de betão.
5 A classificação baseia-se apenas nos resultados do ensaio de lixiviação para L/S = 10 l/kg – Tabela N.º 2 da Parte B do Anexo IV do Decreto-Lei 183/2009 (Secção 2.1.2.1, da Decisão do Conselho 2003/33/CE). De referir que, caso seja possível verificar que os materiais provenientes de RCD cumprem as condições relativas a RCD selecionados constantes da nota à Tabela nº 1, da Parte B, do Anexo IV, do Decreto-Lei 183/2009, não é necessário avaliar a libertação de substâncias perigosas.
Através do ensaio granulométrico realizado em conformidade com a EN 933-1, constatou-se que a di- mensão máxima do agregado (Dmax) é de 22,4 mm e o teor de finos está abaixo de 12% nas três amostras, totalizando um percentual médio de aproximadamente 6,7%. Relativamente à qualidade dos finos, ca- racterizada através da EN 933-9, obteve-se um valor de azul de metileno (MB) de 3,25 g/kg nas três amostras ensaiadas, correspondendo a um valor MB0/D médio de 1,14 (valor de MB multiplicado pela percentagem que passa no peneiro de 2 mm). A resistência à fragmentação foi determinada pela EN 1097-2, tendo sido obtidos valores do coeficiente de Los Angeles (LA) de 46 e 49%. Quanto ao teor de sulfatos solúveis em água, este foi obtido através da EN 1744-1, com valores de 0,034% e 0,033%. Assim, de modo a avaliar a viabilidade da utilização do agregado de RCD em análise na construção de estradas rurais e florestais, fez-se uma comparação entre as propriedades do material obtidas através do estudo experimental e os requisitos previstos na especificação LNEC E484 (2016). Desta análise, cons- tatou-se que o material ensaiado se enquadra apenas nas categorias CR1 e CR2, cujas condições de aplicação correspondem ao emprego do material em aterro ou sub-base para caminhos rurais e florestais. Exclui-se da categoria CR4, uma vez que a qualidade dos finos não se enquadra no critério (MB0/D ≤ 1,0), exclui-se da categoria CR3, devido ao facto da resistência à fragmentação ser insuficiente (LA > 45 nas duas amostras ensaiadas), motivo que também o excluiria da categoria CR4, em que o critério é ainda mais exigente. De facto, a elevada proporção de elementos de alvenaria de materiais argilosos presentes neste material (Rb = 19,50%) terá afetado negativamente a sua resistência à fragmentação, levando a valores do coeficiente de Los Angeles incompatíveis com os requisitos aplicáveis às catego- rias superiores (CR3 e CR4).