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Spillovers Educacionais: Estudos Empíricos

No documento Ensaios em economia da educação (páginas 87-90)

Ao longo das últimas décadas diversos estudos têm como preocupação central investigar as externalidades do capital humano. Em sua maioria, os estudos têm o foco em analisar a existência e os efeitos das externalidades da educação sobre os salários, produtividade do trabalho, crescimento econômico e desenvolvimento regional.

Segundo Moretti (2002), altos níveis locais de capital humano tem a possibilidade de elevar a produtividade agregada por meio do efeito direto que o capital humano individual pode causar na redução da criminalidade, dos gastos com saúde e tornar a população mais consciente e participativa politicamente.

Queiroz (2003) encontrou evidências positivas dos efeitos sociais do capital humano sobre o diferencial regional de salários em Minas Gerais. Os resultados apontam para um aumento dos salários médios de 8% e 2% dado um aumento de um ano de estudo ou do número de indivíduos com ensino médio completo, respectivamente.

Araújo e Silveira Neto (2004) apresentam evidência da presença de externalidades positivas do aumento da concentração regional de capital humano sobre a produtividade individual dos agentes. Utilizando os microdados da PNAD 2002, os resultados do estudo sugerem que as diferenças na disponibilidade do estoque de capital humano nas regiões geram uma relação positiva entre a concentração de capital humano e a produtividade dos trabalhadores nas grandes cidades, sendo importantes para explicar os diferenciais regionais de renda no Brasil.

Falcão e Silveira Neto (2007) encontraram evidências da existência de externalidades positivas da concentração de capital humano nos municípios brasileiros. Os resultados do estudo apontam que tais externalidades tenderiam a afetar em maior grau os indivíduos com maiores níveis educacionais. Segundo os autores, é possível que tais diferenças de produtividade entre os agentes estejam vinculadas a vantagens produtivas geradas pela presença de um maior estoque de capital humano nestas localidades.

No que se refere aos estudos utilizando métodos de econometria espacial ligados à educação, verifica-se que a literatura ainda se apresenta bem incipiente. A maioria dos estudos nessa área estão mais relacionados aos gastos em educação e a influência exercida pela vizinhança sobre tal variável.

Nesse sentido, Carneiro (2014) testa a hipótese de existência de spillovers nos gas- tos municipais. Utilizando dados de corte transversal e o método Generalized Spatial

Two-Stage Least Squares (GS2SLS), o autor chega à conclusão de que há uma relação de

complementariedade nos gastos dos municípios próximos. Os coeficientes com magnitudes mais elevadas dos gastos em cultura e segurança pública denotam maior poder discricio- nário, em detrimento dos gastos em Educação, Saúde e Administração Pública que são condicionados por restrições legais.

Seguindo a mesma linha de pesquisa, Fowles e Tandberg (2018) utilizam os métodos econométricos-espaciais objetivando investigar se e, caso comprovado, estimar em que medida os gastos do Estado com o ensino superior em três categorias, incluindo as dota- ções para universidades públicas, são influenciados pelas decisões de gastos dos estados vizinhos. Os autores encontraram evidências de interdependência geográfica significativa nos dispêndios para o ensino superior.

No que diz respeito aos estudos que utilizam a metodologia econométrico-espacial para analisar a dependência espacial em variáveis ligadas diretamente à qualidade educação, os poucos trabalhos encontrados são bem recentes, sendo desenvolvidos nos últimos cinco anos.

o estudo da espacialidade educacional e analisar se há efeitos não-observados. A base de dados foi constituída de 5.507 municípios com informações do INEP para os períodos de 2008-2011 e 2011-2013. A metodologia consistiu em estimar o painel tradicional sem a inclusão de variáveis espaciais e, em seguida, confirmada a existência, acrescentou-se três controles ao modelo, o primeiro modelando a heterogeneidade espacial; o segundo, a autocorrelação espacial; e o terceiro, ambos os fenômenos. Verificada a existência de efeitos não-observáveis, foi estimado o modelo de efeitos fixos. Os resultados revelam que a significância estatística da variável dummy de região sugere que o fato de estar localizado nas demais regiões, que não a Nordeste, gera impacto positivo no desempenho escolar e a significância da variável dependente defasada espacialmente corrobora com a existência de transbordamento na educação.

Vernier, Bagolin e Fochezatto (2017), utilizando modelos de econometria espacial, in- vestigaram o efeito do capital humano via proficiência. Os autores analisaram a ocorrência de transbordamento da educação por meio do ensino superior através de professores mais qualificados, utilizando como proxy o conceito ENADE dos cursos de Letras, Matemática e Pedagogia. Foram utilizados dados municipais do INEP das avaliações do SAEB (2013), ENADE (2008) e também dados do IBGE (2010). Utilizando a proficiência média em matemática dos alunos de 8° série/9° ano do ensino fundamental como variável dependente e como controles variáveis socioeconômicas, do background1 familiar, as proporções de professores pós-graduados e de professores esforçados, os autores encontraram indícios de forte dependência, sugerindo que o desempenho de um município está positivamente associado ao dos seus vizinhos. Uma constatação interessante foi que somente foi verificado o efeito do ensino superior no próprio município e que a qualidade, e não somente a sua existência, é que explica tal efeito.

Com o objetivo de analisar a desigualdade educacional da região Nordeste, Rodrigues et al. (2017) calcularam e utilizaram como variável dependente o Índice de Gini Educacional (IGE). Detectou-se a presença de autocorrelação espacial positiva indicando que municípios com alto IGE estão próximos a municípios com alto IGE. A significância estatística e o sinal dos coeficientes sugerem que o PIB municipal per capita, a presença de IES e a frequência escolar líquida atuam no sentido da redução da desigualdade educacional nos municípios. Uma conclusão importante do trabalho é que a reduzida magnitude e efeito das variáveis relativas ao sistema educacional sugerem seu impacto apenas no longo prazo. Lobão e Da Silva (2018) tem como objetivo avaliar a existência de spillovers edu- cacionais nos municípios da região Norte denominada de Amazônia Legal, através da identificação de padrões espaciais de desenvolvimento educacional entre os municípios e da correlação espacial entre variáveis socioeconômicas e o crescimento do nível de educação. Utilizando os métodos da Análise Exploratória de Dados Espaciais (AEDE) e a estimação

1 Características familiares tais como escolaridade dos pais, renda da família, ambiente familiar, dispo-

dos modelos espaciais SAR, SDM e SAC chegou-se às conclusões da presença de transbor- damentos espaciais e de que as taxas de pobreza, de analfabetismo e de trabalho infantil dos municípios impactam diretamente no desenvolvimento educacional dos municípios.

Após situar-se acerca do estado da arte do tema pesquisado, a próxima seção apresenta a metodologia utilizada a fim de atingir os objetivos propostos no presente estudo.

No documento Ensaios em economia da educação (páginas 87-90)