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A obra de Stan Douglas, contudo, foi exposta no Brasil, em um monitor de TV com vídeo – DVD, em uma discreta sala na Bienal de São Pau- lo, em 20027. Tal como o procedimento de Cindy Sherman em Untitled

Film Stills, a obra de Stan Douglas comenta um outro autor. Em Cindy

Sherman, como pretendo expor, trata-se de uma “cópia sem original”8

ao ter o cinema um depósito de estilos, símbolos e códigos prescritivos a serem saqueados, mas não com isso a realização da cópia de um filme.

Journey into Fear, 2001, de Stan Douglas, carrega no título o clássico li-

vro de espionagem de Eric Ambler, 1940, que serviu como roteiro para o filme dirigido por Norman Foster, em 1943, e para uma segunda versão no cinema com Daniel Mann, em 1997:

7 25ª Bienal de São Paulo, Iconografias metropolitanas, Fundação Bienal de São Paulo. Cura-

dores: Alfons Hug e Agnaldo Farias.O meu primeiro contato com a obra do artista Stan Douglas aconteceu nesta ocasião, quando atuei no Educativo, mantendo contato direto e diário com ela. 8 KRAUSS, Rosalind. Cindy Sherman: Untitled. In: BURTON (Ed.). Cindy Sherman. Cambridge,

London: MIT Press, 2006. October Files 6, p. 98.

Além de evocar a memória histórica, o uso da linguagem do cinema e da televisão na obra de Douglas revela os câno- nes dos meios de comunicação de massa na formação dessa memória (AUGAITIS, 2002, p. 74).

A configuração de Journey into Fear (2001) para a Bienal de São Pau-

lo contou exclusivamente com uma sequência fílmica, diferentemente de outras circunstâncias9 que compartilham fotografias em grande es-

cala que se associam à narrativa da filmagem, acrescentando algum tipo de informação para o desfecho que, por fim, sabemos não existir. Isso porque Journey into Fear é uma narrativa cíclica que se repete, na

qual faixas de textos desdobram-se em intercambiáveis possibilidades de combinações proporcionadas pelo programa adotado pelo artista para a edição (15 horas e 22 minutos com variações de 30 sessões de diálogos, perfazendo um tempo total de 7 horas e 40 minutos).

A tensão entre os dois personagens, uma mulher e um homem, eclode em falas instáveis, proferidas em um contêiner de um navio sobre ma- res tempestuosos. Desse mecanismo adotado resultam falas atribuídas aos personagens como um processo de dublagem: plantas medicinais, negociações misteriosas, interesses pessoais, especulações sobre o terceiro mundo, o petróleo. Mollêr é encarregado de zelar por uma carga valiosa e Graham é responsável por dirigir o navio, garantindo o roteiro do tripulante. Dependendo do fluxo aleatório dado ao vídeo pelo programa computacional, os protagonistas vivem uma relação

9 No mesmo ano de 2002, o artista apresentou a exposição Journey into Fear na Serpentine

Gallery, Londres, e, em 2001, na galeria David Zwirner, Nova York. Nas duas ocasiões, as exibi- ções do vídeo compartilharam o espaço com fotografias de estaleiros e da região do subúrbio

de aproximação ou distanciamento, de inimizades ou de cumplicida- de, contrapondo, também, versões político-ideológicas. Da narrativa, não temos uma resolução concluída ou conhecimento linear acerca do fluxo dos acontecimentos. Nela, contudo, somente temos certeza do controle de edição indiferente ao contexto.

Outra aparição pública da obra de Stan Douglas em São Paulo ocorreu na exposição Parade: 1901-2001, na OCA, 2001, com Hors-champs, 1992.

A videoinstalação refere-se à performance da música Spirits Rejoice,

1965, de Albert Ayler e suas variações de La Marseillaise, executadas por

quatro músicos norte-americanos, residentes na França durante o mo- vimento Free Jazz do anos de 1960. O concerto é apresentado em preto e

branco e em dupla-face, sobre uma tela em suspensão a partir de uma única gravação de estúdio. De um lado, a exibição dos músicos é reali- zada tal como nas edições convencionais, onde todos os músicos estão dentro do enquadramento da cena executando a música fluidamente.

Stan Douglas

Journey into Fear,

vídeo -DVD, 15:22 minutos por rotação, variações de 30 sessões de diálogo, tempo total de 7h40 min. edição de 10

Do outro lado, o material excluído da versão anterior é exposto: regis- tro de pausas, lacunas e suspensões, próprias da ação de um ensaio de uma peça musical ou, ao menos, do aquecimento de instrumentos, compreendendo outro tipo de interação entre os músicos e, estes, em relação ao espaço.

O autor Scott Watson, que acompanha a trajetória do artista Stan Dou- glas desde suas primeiras exposições nos anos de 1980, demonstra a preocupação de pensar a obra do artista dentro do contexto recen- te dos artistas de sua geração em Vancouver e, na mesma proporção, estabelecer outros tipos de encontros. Em 1988 Stan Douglas atua no projeto de compilação das obras de Samuel Beckett (1906-1989), rea- lizadas para a televisão, e Watson, como será visto ulteriormente, traz informações e mediações para pensar a obra do artista em relação à do dramaturgo. As primeiras obras do artista a receber importância foram

pequenas vinhetas para serem lançadas em canais televisivos, de acordo com a sua parti- cular demanda e estrutura de linguagem. Além das obras acima comentadas, Journey into Fear e Hors-Champs, tive a oportunida-

de de acessar a versão de Monodramas para

espaço expositivo, no Walk Art Center, 2012, Minneapolis; as obras Ballantyne Pier, 18 June 1935, 2008, Abbott & Cordova, 7 August 1971,

2008, Exodus, 1975, 2012, Old Curious Shop,

2010, Artist’s Cabin, 2009, e McLeod’s Books,

Vancouver, 2006 na exposição New Pictures 7: Stan Douglas, Then and Now, Minneapolis

Institute of Arts, MIA, 2012 e, também, Klatsas- sin ,2006, na exposição Mumok: Recent Acqui- sitions, Museu de Arte Moderna de Viena, 2011.

Stan Douglas

Hors–champs

1992 Vídeoinstalação 13 min., 40 sec. cada rotação.

int.4

O mundo das aparênias