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146 status de uma característica intrínseca dos materiais ou se tornam substâncias

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independentes. O que difere as concepções desta zona das duas anteriores no que diz respeito ao nível de pensamento é a consciência da existência de diversas substâncias e que estas apresentam propriedades específicas. Nesta zona temos uma ontologia física, sendo as substâncias consideradas corpos materiais.

Nas duas últimas zonas, temos formas científicas de pensar o conceito de substância. Na zona racionalista, foram agrupadas concepções em nível macro e microscópico para conceitualização da substância. Em nível macroscópico, temos a caracterização das diversas substâncias pelas propriedades, consideradas como fatores determinantes na identificação de diferentes substâncias, de forma que são consideradas inalteráveis e únicas para cada uma delas. Além disso, temos as classificações formais criadas na Química, como substância simples, composta, orgânica, inorgânica e etc. Em nível microscópico, temos a consciência de que os materiais são formados por diversas substâncias e estas por elementos químicos. A diferenciação entre esses conceitos é feita de forma consciente. As concepções desta zona diferem ontologicamente das ideas da próxima zona, pois no pensamento racionalista temos uma hierarquia na composição da matéria, tendo que os elementos formam as substâncias e essas as misturas. Deste modo, temos a substância como algo tangível e que pode ser isolado.

Na zona relacional, temos um nível de compreensão mais complexo, no qual as relações que existem entre substâncias entre si, substância e o meio, e substância e energia são determinantes para a conceitualização da mesma. As propriedades são vistas como um jogo relacional e não como parâmetros completamente definidos, como na zona racionalista. Nesta zona, substância e energia são consideradas uma coisa só, e essa relação faz com que não se leve em conta unicamente as substâncias como formas moleculares e geométricas bem definidas, mas sim como algo que está sempre em mudança de forma. O conceito de substância sai de um nível concreto para um pensamento abstrato, visto que a substância como concebemos não é algo que existe no mundo real. De forma ontológica, temos que as concepções dessa zona são abstratas, pois a substância não é considerada como algo que existe no mundo real.

Relações entre as categorias propostas e as zonas do perfil conceitual estão representadas no quadro 12 abaixo:

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Categorias

(propostas no capítulo 5)

Zonas do perfil conceitual

Visão essencialista da substância Zona essencialista Visão generalizada da substância Zona generalista Visão substancialista da substância Zona substancialista

Visão microscópica da substância

Zona racionalista Visão macroscópica da substância

Visão relacional da substância Zona relacional

Quadro 13. Relação entre as categorias e as zonas do perfil conceitual de substância

A seguir, apresentamos uma caracterização das zonas do perfil conceitual a partir da discussão de concepções encontradas na História da Química, na literatura em ensino de ciências (capítulos 3 e 4) e na sala de aula, e dos compromissos epistemológicos/ontológicos implicados em cada uma dessas zonas.

6.1 Aspectos epistemológicos para a caracterização das zonas

6.1.1 Zona essencialista

Para fundamentar esta zona, usamos algumas da ideias propostas por Lakoff (1987), como a base da sua discussão sobre metafísica objetiva essencialista.

O surgimento do essencialismo, segundo Coutinho (2005), vem a partir da importância dada às propriedades na conceitualização de certos conceitos, como o de vida, por exemplo (COUTINHO, 2005). Segundo o autor, a ideia essencialista vem associada à dependência de certas propriedades para a conceitualização, o que na categorização de Lakoff (1987) sobre a visão padrão das definições, ele denomina de modelo clássico. Este modelo clássico se inclui em uma metafísica objetiva e a concepção subjacente a este modelo de categorização é o essencialismo.

Coutinho (2005) apresenta uma relação de dependência entre propriedades e essencialismo na citação abaixo, na qual mostra uma discussão de Mayr acerca da problemática do conceito de vida:

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Corretamente, Mayr considera que vida não é uma entidade do mundo. No entanto, também não é um hipostaseamento de processos, como ele pensa, porque quando buscamos definir vida, não estamos lidando com uma coisa, mas com um conceito, um conceito teórico. Ao procurar as propriedades definidoras de processos vitais, Mayr e outros confundem a definição de um conceito teórico com o inventário de propriedades essenciais pelas quais uma coisa pertence ou não a uma categoria, no caso, das coisas vivas. Chamamos essa atitude de essencialismo. (p. 39).

Assim, na proposição do perfil conceitual de vida, Coutinho (2005) categoriza concepções essencialistas como aquelas em que certas propriedades essenciais são necessárias e suficientes para que algo possa ser considerado vivo. De forma semelhante, consideramos como ideias essencialistas para o conceito de substância, aquelas concepções em que são determinadas propriedades essenciais relacionadas à substância para explicar a existência dos objetos e manutenção da vida. Nesta zona, as propriedades e as substâncias são a essência e o motivo principal da existência ou funcionamento das coisas, como as ideias de Aristóteles acerca da substância. Isso parece evidente em concepções encontradas na História da Química. Além disso, essas ideias são abstratas, o que caracteriza a categoria ontológica de abstração proposta por Chi (1992)

Nessa perspectiva, identificamos ideias essencialistas acerca da substância nos escritos de Aristóteles. O filósofo grego se refere tanto à substância material (física) como imaterial (metafísica) como a base de todas as coisas da natureza. Diante disso, a alma seria a substância do ser humano e a terra uma das substâncias primordiais que compõe o mundo físico (ARISTÓTELES, 2006). Segundo ele, todas as coisas são predicadas da substância, porém ela não é predicada de nenhuma outra coisa. Aqui, percebemos uma relação de dependência da substância para que todas as outras coisas existam. Além disso, a substância guarda a essência dos objetos que ela compõe. Essa essência é uma entidade primária, que se conserva, mesmo após todas as mudanças e transformações. Também consideramos como essencialistas ideias que apresentam a matéria como a causa primeira de todas as coisas. Como apresentamos no capítulo 3, antes de Aristóteles, diversos filósofos tentavam explicar a origem do mundo, tomando por base a ideia de “substância primordial” ou “elemento primordial”, a partir do qual todas as coisas foram formadas (PARTINGTON, 1989; LEICESTER, 1967). Mesmo esses

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