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Capítulo II – Revisão da Literatura

2.3.1. Stern (1983)

Contrapondo-se aos resultados inconclusivos das pesquisas empíricas sobre o melhor método de ensino e baseando-se também nas pesquisas que utilizavam esquemas de observação de sala de aula, Stern propôs, em 1983, um modelo teórico para compreensão do ensino de língua estrangeira que tentava desenvolver uma concepção alternativa, introduzindo um componente educacional que, segundo ele, não figurava nas interpretações anteriores. O modelo por ele proposto podia ser usado tanto para o estudo do ensino quanto da aprendizagem, paralela ou simultaneamente, pois, em seu modelo, o autor identifica dois atores principais: o professor e o aprendiz de língua estrangeira. Por isso, o modelo leva em consideração não só as características do aprendiz, mas também as características do professor, como idade, sexo, educação anterior, e características pessoais, que podem influenciar o processo de ensino aprendizagem. Para Stern,

“above all, the language teacher brings to [language teaching] a language background and experience, professional training as a linguist and teacher, previous language teaching experience and more or less formulated theoretical presuppositions about language, language learning and teaching” (1983:500).9

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Grifo meu.

O trecho em itálico mostra que, nessa época, Stern já levava em consideração as teorias e crenças implícitas do professor sobre ensino/aprendizagem de LE.

O modelo de Stern foi representado pela seguinte figura:

Context Presage Process Product

Learner Characteristics Learning Process Social Context

Learning Conditions Learning

Outcomes Teaching L2 Exposure to L2 Teacher Characteristics Educa- tional Treatment

Direct influence Feedback

Figura 2.1 – O modelo de ensino/aprendizagem de Stern (1983:500)

Esse modelo baseou-se principalmente no modelo proposto por Dunkin & Biddle (1974), dois pesquisadores educacionais, cuja proposta se divide em quatro conjuntos de variáveis:

- Variáveis do Presságio (“Presage Variables”), constituídas pelas características que o professor traz para o processo de ensino/aprendizagem, como suas experiências anteriores, seu treinamento profissional, e suas características pessoais;

- Variáveis do Contexto (“Context Variables”), constituídas pelas condições em que o professor trabalha, a comunidade, a escola, seu ambiente físico e os próprios alunos; - Variáveis do Processo (“Process Variables”), constituídas por tudo que acontece dentro

da sala de aula, como o comportamento e as atitudes do professor e dos alunos;

- Variáveis do Produto (“Product Variables”), constituídas pelo resultado do processo de ensino/aprendizagem.

Para Stern, o contexto social afeta tanto o aprendiz quanto o professor e, portanto, também influencia indiretamente as condições de aprendizagem em sala de aula. O autor chama atenção para o fato de que, em seu modelo, o ensino não é representado simplesmente pelo comportamento do professor em sala de aula. Na sua concepção, Stern entende que “tratamento educacional” (“educational treatment)” inclui as atividades de sala de aula observáveis e postula que “it is necessary to pay close attention to such observable behaviour rather than talking about teaching in generalities” (ibid, p. 501). Para Stern, os pesquisadores interessados em ensino não devem limitar suas observações apenas ao comportamento externo do professor mas devem levar em consideração também aquilo que os professores dizem e fazem sobre seus planos e intenções, assim como seus esquemas de trabalho, currículos, e programas de cursos. Assim, Stern sugere que o ensino deve ser interpretado dentro do contexto do currículo proposto. Sua concepção de ensino é representada como uma atividade cuja realização é planejada “with certain ends in view and means to reach them” (ibid, p. 501)10, o que mostra que, para o autor, tanto os objetivos quanto o conteúdo do ensino constituem um componente importante para a interpretação do ensino de língua estrangeira.

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Grifo do autor.

Ao discutir o produto do ensino em termos da aprendizagem obtida pelos alunos, Stern (ibid) ressalta que, em muitos casos, o ensino da língua tem sido relativamente improdutivo, isto é, embora os professores ensinem a língua estrangeira, muitos alunos não aprendem. A interpretação dos resultados da aprendizagem fornece “feedback” para os professores, que alteram ou mantém sua maneira de ensinar de acordo com essa interpretação. Com o tempo, espera-se que as constantes interpretações permitam que o professor se torne mais experiente e mais competente.

O modelo proposto por Stern (ibid) apresenta a grande vantagem de incluir tanto as variáveis que influenciam diretamente a sala de aula como também as variáveis que indiretamente influenciam o processo de ensino/aprendizagem. Além disso, o modelo permite que os diferentes aspectos do ensino de língua estrangeira sejam visualizados e compreendidos uns em relação aos outros, fornecendo um panorama geral que pode ser utilizado tanto para o desenvolvimento de teorias sobre ensino quanto para pesquisas.

Contudo, o modelo apresenta certas limitações. Em primeiro lugar, o modelo ainda se enquadra dentro do paradigma de pesquisa chamado de processo-produto (“process-product paradigm”) que enfatiza o produto do ensino em termos de resultados, e dá pouca ênfase ao processo de aprendizagem em si. Além disso, o modelo define o ensino em termos de objetivos e dos meios para atingi-los, dando pouco peso às variáveis do contexto. Como ressaltou Freeman (1996a), pesquisas mais recentes mostram que os professores em geral não planejam suas aulas tendo em mente apenas objetivos a serem atingidos mas sim de acordo com o contexto em que vão atuar, ou seja, levando em consideração os alunos e as condições de ensino.

Por fim, um outro problema desse modelo é que, nele, o ensino é interpretado em termos de ações e atitudes observáveis, embora Stern reconheça que os

pesquisadores não devem se limitar a isso. Essa é também uma característica já superada, pois as pesquisas mais recentes assumem uma visão cognitiva da atuação do professor em sala de aula, interessando-se menos pelos comportamentos e atitudes observáveis do professor e mais por seus processos mentais no momento em que realiza esses comportamentos (Freeman, 1996a). Embora Stern mencione as crenças e teorias implícitas do professor e dê alguma importância a elas, ele discute apenas a influência das ações do professor sobre o processo de aprendizagem em termos de técnicas e estratégias de ensino.

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