• Nenhum resultado encontrado

E STUDOS DE P ALMEIRA (2004)

3. Interacção Solo Granular – Geossintético

3.4. C OMPORTAMENTO DAS I NTERFACES S OLO G RANULAR – G EOSSINTÉTICO : A RRANQUE

3.4.6. E STUDOS DE P ALMEIRA (2004)

O trabalho de Palmeira (2004) consiste num estudo teórico e experimental da resposta de geogrelhas ao arranque. É apresentado um modelo que tem em consideração a interferência entre as barras transversais das geogrelhas, quando estas se encontram sujeitas ao movimento de arranque.

A interacção entre uma geogrelha e o solo é um fenómeno complexo, e a resposta da mesma quando submetida ao arranque engloba os efeitos da resistência passiva e do atrito e depende de diversos factores como o tipo e a densidade do solo, a geometria, as propriedades mecânicas e a rugosidade da geogrelha, o nível de carga e a velocidade com que é aplicada.

Na avaliação da resistência ao arranque de geogrelhas, a carga total de arranque é geralmente calculada como a soma da resistência passiva das barras transversais da geogrelha e do atrito entre a superfície lateral da geogrelha e o solo, como se estes actuassem separadamente (Jewell, 1996). No entanto, como seria de esperar, os mecanismos de interacção têm interferência entre si e relacionam-se de forma ainda não totalmente conhecida, principalmente quando se trata de geogrelhas com pequenas aberturas.

A interferência entre as barras transversais das geogrelhas é outro factor que afecta o seu comportamento, no caso das barras se encontrarem relativamente próximas (Palmeira e Milligan, 1989) e, segundo Palmeira (2004), tem um efeito bem marcado na resistência global da geogrelha ao arranque.

3.4.6.2. Materiais utilizados

O estudo experimental consistiu na realização de ensaios de arranque num aparelho de grandes dimensões (1m×1m×m) construído na Universidade de Oxford, em Inglaterra. A velocidade de ensaio adoptada foi de 0,5 mm/min. e a tensão de confinamento ao nível do reforço variou de 25kPa a 75kPa. Foram ensaiados sete tipos de geogrelhas, seis grelhas metálicas e uma polimérica. As suas características geométricas e mecânicas encontram-se no Quadro 3.17.

As grelhas metálicas possuem diferentes valores de rigidez e as suas aberturas têm formas rectangulares ou quadradas para simplificar a interpretação dos resultados dos ensaios. A grelha polimérica de PEAD possui uma forma hexagonal e as suas aberturas são ovais.

Quadro 3.17 – Características dos reforços ensaiados (adaptado de Palmeira, 2004).

Geogrelhaa Material B (mm) S (mm) Sl (mm) as (%) ab (%) S/B B/D50 J (kN/m) MG1 Aço galvanizado 1,63 12,5 12,5 20,4 100 7,7 2 6844 MG2 Aço galvanizado 1,63 19,1 19,1 14,5 100 11,7 2 4479 MG3 Aço galvanizado 1,63 12,5 25,4 16,2 100 7,7 2 3368 MG4 Aço macio 4,78 76,2 76,2 11,1 100 15,9 6 49455 MG5 Aço macio 3,15 50,8 50,8 11 100 16,1 3,9 32216 MG8 Aço macio 4,78 152,4 76,2 8,6 100 31,9 6 49455 PG PEAD 4,4 111 22,2 46 72 25,2 5,5 550b a

MG1-MG8 – geogrelhas metálicas, PG – geogrelha polimérica; B – espessura das barras transversais das geogrelhas;

S – espaçamento entre as barras transversais; Sl – espaçamento entre as barras longitudinais; as – percentagem da área total da geogrelha que contribui para a mobilização do atrito; ab – percentagem da área frontal total das barras transversais que contribui para a mobilização do impulso passivo; D50 – diâmetro correspondente a 50% (em peso) de passados; J – módulo de rigidez.

b

depende do ritmo de aplicação da força no ensaio de tracção: o valor corresponde ao módulo de rigidez secante obtido para uma deformação de 10% eà velocidade de aplicação da força de 1,16%/min.

Quando 3.18 – Propriedades do solo (adaptado de Palmeira, 2004).

Propriedade do solo Valor

Gama de diâmetros das partículas (mm) 0,6-1,18

Diâmetro médio das partículas, D50 (mm) 0,8

Coeficiente de uniformidade, CU 1,3

Densidade das partículas sólidas, Gs 2,66

Índice de vazios máximo, emáx 0,79

Índice de vazios mínimo, emin 0,49

Índice de vazios após a preparação da amostra 0,53±0,005 Densidade relativa após a preparação da amostra (%) 87

O solo utilizado nos ensaios foi uma areia com partículas angulosas, bastante uniforme, com coeficiente de uniformidade de 1,3. Os diâmetros variam entre 0,6 e 1,18 mm e o diâmetro médio é de 0,8 mm, como se pode verificar no Quadro 3.18.

3.4.6.3. Principais conclusões

Apresentam-se de seguida as principais conclusões do estudo.

• O modelo teórico apresentado tem em consideração a interferência entre as barras transversais das geogrelhas e provou ser uma ferramenta importante para a interpretação dos resultados dos ensaios de arranque. O uso do modelo mostrou a influência de certos factores, como o comprimento livre da geogrelha e a velocidade de ensaio, na resposta ao arranque de geogrelhas extensíveis.

• Os resultados dos ensaios e as previsões do modelo mostraram que a interferência entre as barras transversais da geogrelha tem um efeito pronunciado na resistência global da geogrelha ao arranque. Numa das geogrelhas ensaiadas a força passiva mobilizada na geogrelha foi de apenas 22% daquela que seria mobilizada por uma única barra transversal se esta fosse ensaiada de forma isolada e sob a mesma tensão de confinamento vertical.

• O estudo teórico permitiu concluir que os mecanismos de degradação da resistência passiva provocados pela interferência entre as barras transversais da geogrelha têm de ser considerados se se pretendem previsões mais correctas acerca do seu comportamento ao arranque. Uma boa concordância entre as previsões teóricas e os resultados experimentais dos ensaios de arranque é condição necessária, mas não suficiente, para avaliações correctas das deformações de tracção, o que salienta a necessidade da medição das mesmas nos ensaios de arranque e a importância da realização de futuras investigações acerca dos factores que afectam a interferência entre as barras transversais das geogrelhas.

• A distribuição das forças passivas entre as barras transversais de uma geogrelha extensível não é linear e depende da combinação de vários factores: da geometria da geogrelha, do módulo de deformabilidade e do nível de tensão a que está submetida. Isto significa que a aproximação tradicional de se considerar uma geogrelha como uma camada plana com atrito equivalente, com a mesma resistência ao arranque, para efeitos de projecto ou simulações pelo método de elementos finitos, embora seja prática não reproduz o verdadeiro mecanismo de interacção solo-geogrelha.

• A grande variedade de geogrelhas, em termos de tipo de polímero e de propriedades físicas e mecânicas, dificulta ainda mais as estimativas da resistência ao arranque e do comportamento deste tipo de material, pelo que o autor sugere aos fabricantes destes materiais que conduzam ou apoiem investigações específicas acerca do comportamento ao arranque dos seus próprios materiais, o que permitirá o desenvolvimento de geogrelhas mais eficientes e económicas e melhores práticas de projecto.

• Embora os comprimentos de ancoragem requeridos em taludes e muros de solo reforçado sejam bastante curtos para materiais de confinamento de boa qualidade, o comprimento de reforço adoptado irá afectar não só a estabilidade geral da massa reforçada, como as suas deformações e custo final. Outras aplicações de reforço de solos podem exigir comprimentos de ancoragem consideravelmente maiores. Portanto, o entendimento da interacção solo- -geogrelha é essencial para melhores práticas de projecto e economia de custos em estruturas reforçadas com geogrelhas.