• Nenhum resultado encontrado

Subcategoria 2.1 – Atributos físicos e afecções

6. Análise e Discussão dos Resultados

6.2 Categoria 2 – Implicações

6.2.1 Subcategoria 2.1 – Atributos físicos e afecções

A subcategoria 2.1 diz respeito às características físicas do local, referidas pelos entrevistados. Partiu-se do entendimento que as afecções alteram a potência de agir do corpo e do pensar de forma inseparável (Gleizer, 2005), portanto, ao ser questionado sobre o que mais lhe chama atenção na praça, o participante responde não só a partir de sua cognição, mas também movido por emoções e sensações. Esta subcategoria elenca os elementos concretos que afetam os indivíduos em seu “estar na praça”. Foram consideradas respostas que descreveram claramente aspectos físicos12 que denotaram preferências e motivações para ir ao local, opiniões favoráveis ou desfavoráveis sobre o espaço físico, referências a setores específicos da praça, bem como benefícios psicofísicos associados ao “estar na praça”.

Após a intervenção arquitetônica, a praça passou a ter maior incidência de luz natural, no período diurno, e iluminação artificial noturna que privilegia tanto os passeios quanto os elementos arbóreos e paisagísticos. A importância da iluminação como um aspecto que atrai as pessoas para a praça fica exemplificada na fala da entrevistada, que vai ao local diariamente:

[...] ela é muito bem aproveitada pelas pessoas, porque agora nós temos assim uma praça extremamente bonita, espaço, claro, meu Deus, eu não tenho nem ideia de quantos postes tem aqui, mas tanto durante o dia quanto durante a noite ela é uma praça que pode ser frequentada porque ela

12 As respostas que não se referiram a atributos físicos específicos, ou

enfatizaram sentimentos e emoções associados à praça como um todo foram discutidas na subcategoria seguinte.

ficou aberta ficou, assim, ahnn, ampla, clara, agradável, bonita, muito bonita. (E5)

Para Ngesan e Zubir (2015), um indicador de sucesso na constituição de um espaço público é sua utilização em diferentes períodos do dia, e, no caso de parques e praças, a iluminação noturna figura como um aspecto preponderante. Em pesquisa realizada em parques na Malásia, os autores apontam que a possibilidade de utilizar o local à noite, além de atrair pessoas de baixa renda que não podem custear o lazer em locais pagos, também propicia contato com a natureza, recreação, atividade física e interações sociais.

A iluminação também está associada à sensação de segurança que se tem no local (Foster, Giles-Corti & Knuiman, 2014), e promove a vigilância natural, entendida como a possibilidade de ver e ser visto por outros (Ricardo, Siqueira & Marques, 2013). Como exemplo de insegurança, a entrevistada E5 refere-se à má iluminação da antiga configuração da praça Lauro Müller como um aspecto facilitador de criminalidade:

[...] as árvores eram recortadas, só que como não foi dada muita manutenção, nem muita atenção, ela se tornou uma praça escura, onde as pessoas

frequentavam muito pouco por

que...ahnn...começou a ser um lugar onde era perigoso pra ir a partir das cinco, seis horas da tarde...ela ficou uma praça escura, ali era boca de fumo, os maconheiros da cidade se reuniam ali, e praticamente pouquíssimas crianças vinham. (E5)

Quanto à estética, os participantes apreciam a jardinagem, que figura como um dos elementos que atraem os visitantes, como menciona a professora de 64 anos, que mora a 1.300 metros da praça, e vai até o local de carro. A entrevistada estaciona o carro na região central da cidade, e a praça está incluída em seu roteiro de andanças pelo centro – ela adora as flores, e descreve seu trajeto predileto: “(...) da fonte para a casa da cultura (...) além do colorido, é a alameda que forma entre a fonte e o fundo lá, da casa da cultura”(E7). A Figura 16 ilustra a “alameda” e dá uma ideia do trajeto preferido da entrevistada. Os elementos naturais somados a presença de pássaros também são apontados como atrativos.

FIGURA 16

Alameda no período de inverno, sem flores. Fonte: acervo da pesquisadora

Tanto a fala de E7, quanto a Figura 16 da “alameda” esboçam a relação entre subjetividade e estética, já que a imagem que se tem do ambiente construído é resultado de um processo bilateral entre o observador e o ambiente (Lynch, 1960). A experiência com um espaço físico é, primariamente, produto da percepção visual, e, por conta disso, cores, textura, iluminação, vegetação, organização dos passeios e pavimento, participam conjuntamente na construção subjetiva que se tem dos lugares. A valoração estética associada aos elementos da natureza, como vegetação e água, ganha outra dimensão no contorno das cidades, porque os espaços abertos públicos estão em constante diálogo com os habitantes, não apenas por sua posição no desenho urbano, como também por ser um espaço concebido por e para pessoas (Perovic & Folic, 2012).

A sensação de ar puro e ambiente arejado são apontados pelos entrevistados como aspectos físicos que contribuem para o bem estar na Praça Lauro Müller, como descreve E4: “[...] sinto aquela alegria, você respira ar puro, você ouve ainda o canto dos passarinhos que têm bastante aqui no final da tarde”. O que os entrevistados descrevem como “ar puro” e “arejamento”, é objeto de pesquisas sobre design de espaços públicos abertos e percepção subjetiva de quão confortável é o ambiente

(Hajmirsadegui, Shamsuddin & Forougui, 2014). Desde a antiga Paris do século XVIII a praça já figurava como o “pulmão urbano”, e, numa época em que pouco se sabia sobre fotossíntese, bastava respirar fundo no local para, intuitivamente, perceber os benefícios da vegetação, mesmo que encravada entre as edificações da cidade (Sennet, 2008).

Dentre os entrevistados, cinco mencionam a falta de áreas de sombra na praça como um elemento que dificulta a permanência no local durante o verão, nos horários em que a incidência dos raios de sol é maior. As opiniões dividem-se entre aqueles que sentem falta das árvores frondosas da antiga vegetação da praça, e os que reconhecem que apenas precisam aguardar o crescimento das árvores recém plantadas, como refere E5: “[...] Eu faria as árvores crescerem um pouco mais rápido...mas isso é uma consequência que daqui uns cinco ou seis anos já estará bem melhor, né, já estará no tamanho apropriado para trazer mais sombra”.

Com efeito, o ambiente de praças públicas, quando providas equilibradamente de vegetação, luz do sol e ventilação, contribui para as condições microclimáticas13 dos centros urbanos, resultando em conforto térmico (Biara, Alkama & Nabou, 2013; Lin, 2009). No caso da Praça Lauro Müller, tal qualidade está condicionada ao crescimento das árvores, no médio prazo. Como mencionados por alguns participantes, é preciso “dar tempo ao tempo” e esperar as árvores crescerem para que o local volte a ter sombra.

A arborização foi o único aspecto elencado como negativo ou deficitário na praça. A menção de que faltam árvores e sombra corrobora com pesquisas que destacam a importância dos elementos verdes nos espaços públicos. Conforme um estudo que avaliou a percepção visual de espaços abertos públicos em Niksic, Montenegro, a presença de elementos naturais, como vegetação, pedras e água, potencializa a percepção positiva que se tem do espaço, e melhora a saúde do ambiente e das pessoas (Perovic & Folic, 2012).

13

A presença da fonte de água contribui para o microclima da praça, proporcionando umidade e sensação de conforto térmico. Entretanto, na fala dos entrevistados ela figura mais como fator que evoca sentimentos e emoções, e não como um aspecto relacionado a conforto térmico ou de bem estar físico. Devido à justaposição de sentimentos que ocorre nas falas que referenciam a área da praça com a fonte de água, este setor será discutido na seção 6.2.2.

Somada aos aspectos de iluminação, estética, conforto e arborização, os entrevistados referiram-se à acessibilidade, elencando os benefícios da pavimentação, que permite que pessoas com carrinhos de bebê, cadeirantes ou pessoas com dificuldades de locomoção utilizem o espaço da praça para lazer. A pavimentação aparece como atributo físico que afeta as pessoas em seu “estar na praça”. É também um fator que motiva a visita, assim como um aspecto que proporciona o encontro de pessoas com diferentes necessidades, como já tratado na subcategoria 1.2 que fala da vida social na praça.

A boa conservação dos equipamentos do parque infantil foi apontada como um fator que motiva a visita ao local. A possibilidade de proporcionar diversão segura e gratuita é mencionada pelos pais e cuidadores como um aspecto positivo desse setor. Além disso, como o parque possui a maior área de sombra da praça e conta com vários bancos, figura como um ponto de encontro e socialização dos pais de crianças pequenas. A academia ao ar livre também é citada como um dos setores que atrai os frequentadores e constitui um dos aspectos físicos percebidos como um benefício à saúde física.

A percepção de que o ambiente da praça influencia de modo positivo a saúde física e mental fica evidente na fala de E13, aposentado de 60 anos de idade, que refere a si como “sozinho” e frequenta a academia diariamente: “[...] eu tinha depressão antigamente, ficava muito em casa, daí eu comecei vir fazer física e aquilo lá me passou, fiquei bem melhor, estou bem mais animado”. O aposentado, além de associar seu bem estar à atividade física na praça, deixa transparecer sua implicação afetiva com a praça, quando fala do pássaro, da árvore, da flor. Ao aliar-se à paisagem da praça e experimentá-la com o corpo, E13 vivencia sua “cura”, que é percebida através dos sentimentos potencializadores despertados ali.

Além de concluir que a “depressão passou” E13 menciona a possibilidade de conversar com pessoas enquanto faz exercícios – são os encontros com as pessoas e com o lugar, as relações sociais e a relação com a concretude do espaço, dando a cor e o tom à maneira como os frequentadores percebem os benefícios do “estar na praça”. Corroborando com a fala de E13, pesquisas realizadas na Austrália demonstram que frequentar os espaços abertos públicos favorece a manutenção ou melhora da qualidade da saúde mental, por meio do contato com ambientes com elementos naturais e também pelas relações sociais que se dão em tais espaços (Francis, Wood, Knuiman & Giles- Corti, 2012b). A presença de elementos verdes, mesmo com baixa biodiversidade, como é o caso das praças, diminui o estresse, aumenta a

sensação de bem estar e tem propriedades restaurativas (Carrus, Scopelliti, Lafortezza, Colangelo, Ferrini, Salbitano, Agrimi, Portoghesi, Semenzato & Sanesi, 2015).

Documentos relacionados