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Subcomissário Jean François Carvalho

No documento Dissertação Tiago Jacinto (páginas 112-121)

Capítulo III – Sobre a Violência nas Praxes Académicas

7. Subcomissário Jean François Carvalho

Função: Comandante da Esquadra do Bom Pastor do COMETPOR Data: 20 de março de 2015

Local: realizada via correio eletrónico

1 – Em que moldes é desenvolvido o programa especial de proximidade direcionado aos estudantes universitários da UP? De que forma surgiu a iniciativa, com que obje- tivos e quais os resultados já obtidos e que se esperam obter?

O policiamento de proximidade implementado no pólo universitário da Asprela, Concelho do Porto, Freguesia de Paranhos, foi estabelecido em 04 de março de 2002 e protocolado em 12 de novembro de 2013, sendo inicialmente composto por 1 Chefe e 12 Agentes, dos quais 6 eram da Esquadra do Bom Pastor, 4 da Divisão de Trânsito e 2 das Brigadas Anti- crime do COMETPOR. A sua origem deve-se essencialmente aos elevados índices de cri- minalidade e incivilidade registada e à perceção policial em adequar e adotar medidas pre- ventivas que assegurassem efetivamente um aumento e reforço do sentimento subjetivo e objetivo de segurança da população em geral e em particular da população estudantil, em virtude do policiamento, nessa época, ser apenas realizado pelo(s) carro(s) de patrulha adstrito à Esquadra do Bom Pastor e ser manifestamente reativo e insuficiente face ao elevado número de ocorrências por turno e extensa área de policiamento de 6,67 km². O pólo universitários da Asprela é abrangido por infraestruturas complexas, designada- mente por 14 estabelecimentos de ensino superior, o Hospital São João, o Instituto Portu- guês de Oncologia do Porto, e diversos estabelecimentos comerciais, estimando diaria- mente uma população flutuante que varia entre 80 a 100 mil pessoas.

Atualmente, o MIPP vocacionado para o pólo universitário da Asprela é composto por 01 Chefe Coordenador, 04 equipas fixas constituídas em binómios por elementos da Esqua- dra do Bom Pastor e 03 elementos da Divisão de Trânsito do COMETPOR. Por um lado, a missão diária designada às equipas passa por prevenir, através da visibilidade policial, determinadas incivilidades, sobretudo na vertente de segurança rodoviária dissuadindo re- gulares infrações de trânsito constatadas em determinadas artérias sinalizadas e respetivo redireccionamento da fiscalização conforme reclamações apresentadas por cidadãos ou entidades coletivas. Por outro lado, é realizado diariamente um trabalho de campo no âm- bito da prevenção criminal que passa por realizar diversas ações de sensibilização promo- vidas em estabelecimentos de ensino superior nas diversas temáticas, efetuar contactos regulares com membros da direção e funcionários dos estabelecimentos de ensino supe- rior, no sentido de percecionar e obter informação da existência de eventuais problemas

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de segurança não participados e monotorização de suspeitos com cadastro criminal pela prática de crimes violentos ou que possam criar algum sentimento de insegurança na área, nomeadamente, os crimes de roubo, tráfico de estupefacientes, ou furtos em interior de veículo.

Porém, quando a prevenção não resulta e existe a prática de crimes na área do pólo uni- versitário da Asprela, são acionados os elementos policiais do MIPP, que efetuam diligên- cias essenciais à descoberta da verdade material e interceção de eventuais suspeitos. Quando denunciados em departamentos policiais, são realizados acompanhamentos pós- vitimação, que visam percecionar e avaliar o estado da vítima, recolher informação neces- sária e pormenorizada da situação do ilícito, permitindo posteriormente, conforme o caso, preservar os meios de prova necessários e adequados, tais como a preservação de ima- gens de videovigilância, reconhecimento fotográfico, reconhecimento pessoal, identifica- ção de testemunhas.

De uma forma genérica, os objetivos estratégicos propostos pelo COMETPOR foram cla- ramente atingidos, pois permitiram reforçar e aumentar as medidas de segurança e reduzir os índices de criminalidade e incivilidades na área do pólo universitário da Asprela, melho- rando a relação e imagem institucional com diversas entidades, sobretudo com a FAP e em particular junto da comunidade estudantil.

2 – O referido programa engloba, de alguma forma, a problemática da violência nas praxes académicas?

O COMETPOR não possui nenhum programa em especial ou intervenção específica vo- cacionada para as praxes académicas, muito embora seja abordada este temática de forma genérica, em ações de sensibilização, no início de cada ano letivo, junto dos estu- dantes do ensino superior. Atendendo que, nestes últimos anos, não foram reportados ou denunciados casos de violência nas praxes na área do pólo universitário, acreditamos que devem ser priorizadas outras temáticas que possam beliscar o sentimento de segurança da população estudantil. A título de exemplo, como a maioria dos estudantes são proveni- entes de outros distritos do país, procuramos fazer um enquadramento do tipo de policia- mento existente e alertá-los para potenciais perigos e modos de prevenir certas práticas de crimes, até porque o pólo universitário da Asprela insere-se na Freguesia de Paranhos que é constituída por 15 bairros sociais, onde a marginalidade é recorrente.

3 – Qual a sua opinião sobre a extensão desse programa a essa problemática? Con- sidera que seria bem recebida pela comunidade Universitária?

Atendendo à temática em apreço, considero que se trata de uma matéria sensível que requer algum cuidado na sua abordagem, sobretudo, quando se trata de uma prática social

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enraizada pela tradição no seio da comunidade estudantil em que há notícia de determina- dos incidentes ocorridos, como é o caso do Meco. Acredito, com certeza, que nenhum estabelecimento de ensino superior goste de ter a sua reputação e bom nome mediatizado por práticas violentas resultantes de praxes académicas. Nesse contexto, acredito que o processo de informação e de prevenção destas práticas deve ser gradual, através de ações de sensibilização, nos diversos estabelecimentos de ensino ou via pública através de dis- tribuição de flyers, focando vários públicos-alvo, mais concretamente, a direção de cada estabelecimento de ensino, o corpo docente, funcionários e comunidade estudantil. É meu entendimento que a iniciativa deverá partir sempre da direção de cada estabelecimento de ensino superior ou, em particular, das Federações Académicas e, deste modo contar com a colaboração da PSP.

4 – Considera que um jovem estudante universitário que se sinta violentado no de- correr das atividades das praxes académicas, se sente encorajado a denunciar esses abusos de que foi alvo? Quais os aspetos relacionados com a atividade policial que poderão ser melhorados de forma a potenciar e facilitar a sua denúncia?

De uma forma genérica acredito que um estudante não se sinta encorajado a denunciar, pelo menos, às autoridades policiais, a prática dessas condutas violentas, sobretudo pelo receio de exclusão social entrepares no seio da comunidade estudantil do ensino superior. No entanto, acredito que estas situações dependem também e, sobretudo, da natureza e gravidade da conduta, bem como a capacidade de reação que cada indivíduo tem perante estas práticas violentas e/ou continuadas.

Apesar de não terem sido registadas quaisquer situações de agressões físicas no âmbito das praxes académicas no pólo universitário da Asprela no Porto, acredito que este as- sunto merece melhor cuidado de perceção através da realização de inquéritos a serem promovidos pela FAP ou em particular por cada estabelecimento de ensino superior. Quanto às atividades que possam potenciar ou incentivar a denúncia destes atos, acredito as ações de sensibilização são fulcrais nesse campo, permitindo antecipar e esclarecer potenciais vítimas.

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No documento Dissertação Tiago Jacinto (páginas 112-121)