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SUBCULTURAS, CENAS E CLUB CULTURES: NOTAS TEÓRICAS E

Subculturas são grupos de pessoas que são de alguma maneira representadas como não-normativas e/ou marginais a partir de seus interesses e práticas par- ticulares, a partir do que elas são, o que elas fazem e onde o fazem. Elas podem representar a si mesmas desta maneira, já que as subculturas estão geralmente cientes de suas diferenças, lamentando-as, saboreando-as, explorando-as, e as- sim por diante. Mas elas também serão representadas assim por outras pessoas, que em resposta podem trazer todo um aparato de classificações e regulações sociais para lhes atribuir. Ainda que o termo “subcultura” não tenha obtido sua aplicação social e sociológica como um meio de classificar grupos de pessoas até cerca do começo da década de 1940, é claro que subculturas de um jeito ou de outro têm estado conosco por um tempo considerável (GELDER, 2005, p. 1, tradução minha, ênfase no original).

Com esta definição e breve contextualização da ideia de subcultura, o editor Ken Gelder abre a extensa segunda edição de “The subcultures reader”, compilação que busca traçar os caminhos que este campo de estudos percorreu nas Ciências Humanas ao longo do Século XX e princípios do Século XXI, especialmente na Europa e nos Estados Unidos. O uso crescente do termo como categoria analítica a partir do pós-guerra europeu coincide com sua populariza- ção como um jargão jornalístico, da crônica de costumes, e também como categoria êmica. Esta proliferação da ideia de subcultura vem acompanhada da nascente ideia da juventude como um problema social – e um tema sociológico – particularmente nas grandes cidades ocidentais. Neste contexto, surge ainda o campo de estudo das culturas jovens ou juvenis.21

Muitos autores vêm apontando nas últimas décadas como é problemático se pensar em subculturas a partir da ideia de “grupos de pessoas”. Na presente pesquisa, também reluto em usar o conceito de subcultura, justamente por desconfiar da aplicabilidade da ideia de “grupo”. No meu campo, só poderia se pensar em grupo ao apontar um grupo de festas. Ainda assim, como veremos nos capítulos a seguir, esse conjunto de festas não se define tanto por qualquer associação incontestável entre os diferentes eventos. A seleção das festas diz mais respeito a minhas escolhas metodológicas e de campo e com minha trajetória ao longo dos quatro anos de pesquisa.

Sem dúvida, há grupos de pessoas entre meus interlocutores, mas estes grupos são mui- tos e suas fronteiras são porosas - não é o objetivo deste trabalho defini-las. Como já antecipei

21 Em inglês, o termo é youth cultures. Em português, aparecem os usos “culturas jovens” e “culturas juvenis”. Opto por privilegiar “culturas jovens”, mas ressalto que o uso das duas traduções indica a própria polissemia do conceito.

na introdução, prefiro então trabalhar com a ideia de cenas e não buscar certa homologia que parecia subjazer os trabalhos clássicos sobre subculturas. Estes trabalhos adotavam uma análise homológica, através da qual procuravam identificar correspondências culturais entre diferentes níveis de uma subcultura - tais como estilo, música, preocupações, atividades.

Como preâmbulo para um mergulho mais aprofundado no que constitui o campo desta pesquisa, nas próximas páginas pretendo apresentar de forma mais ou menos breve como se pensou e se pensa teoricamente sobre reuniões de pessoas em contextos de lazer, consumo e/ou sociabilidade. São contextos cujo eixo central não estaria ligado às grandes instituições da vida urbana, como a família, o trabalho, a religião, associações nominalmente políticas, entre outras. Especialmente na Antropologia brasileira recente, muitos autores têm chamado este tipo de interação de “contextos de sociabilidade” ou, pensando em termos espaciais, “espaços de sociabilidade”. O uso da noção de sociabilidade deriva da definição do termo oferecida por Georg Simmel, em que sociabilidade designaria a forma lúdica de interação social. Entretanto, os usos do termo são variados e seus limites vêm sendo debatidos. Se, para este autor clássico, “[...] a sociabilidade, em suas configurações puras, não tem qualquer finalidade objetiva” (SIM- MEL, 2006, p.66), ou seja, tratar-se-ia então do encontro apenas pelo prazer de estar juntos, talvez fosse preferível falar em aspectos de sociabilidade e na predominância deste espírito descolado de fins objetivos em determinados contextos.

Relacionado a isso, o entendimento acerca do que seria um espaço de sociabilidade tam- bém varia muito de acordo com cada autor. Em recente revisão bibliográfica dos trabalhos sobre sociabilidade no campo dos estudos de gênero e sexualidade no Brasil, Facchini, França e Braz citam “espaços de sociabilidade não relacionados ao lazer, como o espaço doméstico, de práti- cas religiosas, de iniciativas ativistas ou escolar” (FACCHINI; FRANÇA; BRAZ, 2014, p.104). Por vezes, porém, o termo “espaços de sociabilidade” aparece designando apenas espaços onde a sociabilidade é tida como o aspecto mais central, o que excluiria as esferas de instituições como família, trabalho, política, entre outras. Este uso limitaria o escopo do termo a reuniões de pessoas como as que pretendo percorrer neste capítulo: em bares, em clubes, na rua. De qualquer maneira, como lembram os autores em sua revisão, o uso do termo sociabilidade é controverso porque, se acionado de maneira generalizante e irrefletida, termina por ignorar que, mesmo em contextos os mais lúdicos, há espaço para conflitos e desigualdades.

Além de uma revisão bibliográfica do quadro teórico a que me refiro, ora me aproxi- mando, ora me afastando, apresentarei também neste capítulo os caminhos das cenas que pes- quisei. Para tanto, abordarei alguns dos elementos que, a nível local e transnacional, fundam o que na década de 1990 passa a ser chamado de club culture - ideia-chave para a compreensão

das cenas da São Paulo e da Berlim contemporânea.Passemos então a um breve apanhado de algumas perspectivas teóricas acerca do lazer e da sociabilidade relacionados à juventude e à música.

Da marginalidade ao estilo de vida: notas teóricas

Primeiras ideias: vagabundos, mendigos, delinquentes, boêmios

Ken Gelder (2005) localiza no estudo dos diversos tipos de “vagabundo” da Inglaterra a partir do Século XVI, durante o período elisabetano, as primeiras ideias do que depois se chamará de estudos subculturais. No entanto, tais estudos ganham força apenas a partir do Sé- culo XIX. Vêm daí a visão das subculturas como essencialmente improdutivas, visão que ecoa na perspectiva marxista sobre o lumpemproletariado e sua posição subproletária e, portanto, desprovida de consciência de classe e potencial revolucionário. Segundo o autor, esta perspec- tiva orienta até hoje certa visão sobre as subculturas:

Separadas da mais ampla e mais estável categoria de classe (operária) e tan- gencial a imperativos laborais, as subculturas podem não raro ser vistas nega- tivamente: sendo ociosas, egoístas e autocentradas, suas atividades e interes- ses geralmente se realizam em momentos de lazer mais do que no trabalho (GELDER, 2005, p. 4, tradução minha).

Assim, movimentos subculturais não apenas são execrados pelo moralismo conservador de direita, mas também são vistos com desconfiança por certa parcela do espectro político de esquerda que demoniza o hedonismo das experiências centradas no prazer.

Este foco no lazer é o que une os estudos sobre submundos, marginais, desviantes ou, ainda, no termo canonizado por Howard Becker (2009 [1963]), outsiders, aos estudos sobre música e dança em contextos de sociabilidade, de que tratarei neste capítulo.

Trabalhos como os de Timothy Gilfoyle (2004) e Henry Mayhew (1968) se debruçaram sobre o interesse nas populações marginais “de rua” da segunda metade do século XIX, nas cidades de Londres e Nova Iorque, respectivamente. Este recorte, informado pelo crescimento das grandes cidades do chamado mundo ocidental e as novas configurações sociais que a urba- nização trazia, acompanhou a virada para o século XX. O debate sobre o que era e o que não era apropriado às ruas das cidades modernas era central para a noção de planejamento urbano, que ganhava força nesse período.

Este era também o pano de fundo dos trabalhos do Departamento de Sociologia da Uni- versidade de Chicago, cujos autores foram reunidos posteriormente sob a alcunha de Escola de Chicago. Criado em 1892 junto com a Universidade, o Departamento se voltava às questões da própria cidade, segunda maior do país à época e destino de muitos imigrantes, em sua maioria europeus. Trabalhos de campo empíricos, que remetiam à tradição da Antropologia, tratavam de dar conta de tipos sociais “não-assimilados” e marginais como os imigrantes recentes, mem- bros de gangues e delinquentes.

É nesse contexto que surge o seminal capítulo de Robert Ezra Park “A cidade: sugestões para a investigação do comportamento humano no meio urbano” (1967 [1916]), em que o autor lança o conceito de região moral, mobilizado e retrabalhado por vários autores extensamente ao longo do século XX. Para ele, a cidade grande permitiria a “pessoas excepcionais” a opor- tunidade de desenvolver suas disposições: “poucas vezes a comunidade pequena tolera a ex- centricidade. A cidade, pelo contrário, a recompensa” (PARK, 1967 [1916], p.66). Este processo se daria a partir da formação das regiões morais onde tais pessoas poderiam encontrar pares e onde prevalece “um código moral divergente” (ibid. p.69).

O conceito de região moral é fundamental para os vindouros estudos de subcultura e para a Antropologia Urbana e os estudos de sexualidade brasileiros, como veremos mais tarde. A ideia é apresentada por Park nos seguintes termos:

É inevitável que indivíduos que buscam as mesmas formas de diversão, quer sejam proporcionadas por corridas de cavalo ou pela ópera, devam de tempos em tempos se encontrar nos mesmos lugares. O resultado disso é que, dentro da organização que a vida citadina assume espontaneamente, a população tende a se segregar não apenas de acordo com seus interesses, mas de acordo com seus gostos e seus temperamentos. A distribuição da população resultante tende a ser bastante diferente daquela ocasionada por interesses ocupacionais ou por condições econômicas. Cada vizinhança, sob as influências que tendem a distribuir e a segregar as populações citadinas, pode assumir o caráter de uma “região moral”. Assim são, por exemplo, as zonas de vício encontradas na maioria das cidades. Uma região moral não é necessariamente um lugar de domicílio. Pode ser apenas um ponto de encontro, um local de reunião (ibid., p.67).

Algumas das ideias que orientarão pesquisas sobre desvio, subculturas e sociabilidade já estão colocadas nesta pioneira formulação. O autor fala em “diversão” (no original, excite- ment) e em “zonas de vício”, na distribuição das populações de acordo com gostos, distanci- ando-se das clássicas divisões ocupacionais e/ou de classe (condições econômicas). Elementos semelhantes são elencados por Ken Gelder (2007) ao definir alguns eixos-chave a partir dos quais as subculturas têm sido entendidas, em que podemos perceber ecos da noção de região

moral de Park. O autor aponta a relação, geralmente negativa, que as subculturas têm com o trabalho – seriam “ociosas”, “parasitárias”, hedonistas; a relação ambivalente ou negativa com classe; sua associação com o território (a “rua”, o clube) mais do que com a propriedade; seu movimento da casa para formas de pertencimento não-domésticas; e seus laços com o excesso e o exagero (em oposição à contenção e à moderação).

Subcultura: primeiros usos

Uma das primeiras reflexões sobre o termo subcultura nas Ciências Sociais é o texto do título autoexplicativo “The concept of the sub-culture and its application” [O conceito da sub- cultura e sua aplicação], de Milton Gordon (2005 [1947]). Aqui, a ideia de subcultura aparece de maneira circunscrita e totalizante, como um segmento de uma cultura nacional, o que de- monstra ainda certa naturalização da própria construção da ideia de cultura nacional. Segundo o autor, subcultura se refere a

uma subdivisão de uma cultura nacional, composta da combinação de situa- ções sociais constitutivas como status de classe, origem étnica, residência re- gional e rural ou urbana, e afiliação religiosa, mas formando em sua combina- ção uma unidade funcional que exerce um impacto integrado no indivíduo participante. (GORDON, 2005 [1947], p. 46, tradução minha, ênfase no ori- ginal)

Entretanto, o autor apresenta alguns pressupostos que são centrais na perspectiva inter- seccional e dos marcadores sociais da diferença que orienta esta pesquisa. Por um lado, ao contrário dos usos de subcultura posteriores, que a veem como uma produção coletiva que se constrói em contraponto não apenas à cultura dominante, mas também à cultura paterna, fami- liar, Gordon pensa subcultura como a combinação de fatores sociais que remontam à origem dos sujeitos. Por outro lado, sua definição dá conta justamente de como estas combinações são variadas ou únicas: “cada um dos elementos foi de alguma forma transformado em virtude de sua combinação com os outros. […] Um corolário desta posição é que os mesmos fatores em subculturas diferentes não são intercambiáveis” (ibid. p. 47). O autor usa o exemplo de um judeu de classe média: afirma ele que a diferença deste para um gentio de classe média não vem apenas da adição do fato de ser judeu. A relação entre ser judeu e ser de classe média implica em especificidades, e esta observação é válida para quaisquer outros marcadores.

Pouco tempo depois, Albert K. Cohen lançou “A general theory of subcultures” [Uma teoria geral das subculturas] (2005 [1955]). A concepção algo funcionalista que já se insinuava

no texto de Gordon e que vai permear os trabalhos da escola subcultural britânica de Birmin- gham, que veremos a seguir, aqui toma forma explícita. O autor se fundamenta na ideia de que agir é solucionar problemas. Toda ação humana se desenrola a partir de duas fontes - o “quadro de referência” e a “situação”.

Cohen estava preocupado em pensar a atividade criminosa como uma prática social e lançava mão do conceito de subcultura para se afastar das abordagens psiquiátricas que indivi- dualizavam e patologizavam a delinquência, como também faria mais tarde Becker (2009 [1963]). Assim, a delinquência era vista como uma “solução subcultural” encontrada na intera- ção com outros sujeitos com problemas de desajustamento semelhantes. Esta maneira de ver a questão implicava em um distanciamento de outros autores que, baseados na noção de anomia de Emile Durkheim, entendiam que o afastamento das normas sociais vigentes significava que os indivíduos se tornariam alienados – era o caso de Robert Merton (1938). Para Cohen, este afastamento não colocava estes indivíduos em uma situação “sem normas”; estes buscavam grupos sociais com novas normas, cuja lógica lhes fizesse mais sentido. Mais do que resultado de alienação, tratava-se de um resultado social; reajustamento, mais do que desajustamento.

Outsiders: Becker, drogas e “auto-segregação”

O clássico trabalho de Howard Becker “Outsiders: estudos de sociologia do desvio” (2009 [1963]) representa um importante deslocamento em relação a como o tema do desvio vinha sendo abordado pela Escola de Chicago. Os grupos desviantes, objeto de tais pesquisas, geralmente apresentavam essa condição a partir da não-assimilação, advinda de sua posição de classe subalterna; o isolamento dos membros destes grupos lhes era imposto por outrem. Os músicos de jazz (músicos brancos, é importante lembrar) que compunham o campo de Becker, ao contrário, experimentavam sua diferença a partir de uma escolha. Eles praticavam o que o autor chama de “autossegregação”. Sua rejeição aos gostos musicais convencionais e às pres- sões para se tornarem músicos “comerciais” os colocava numa posição que poderíamos chamar de underground, de maneira semelhante à rejeição que o mainstream desperta nos atores da cena pesquisada nesta tese. A adesão aos valores convencionais caracteriza para estes atores a squareness, em contraponto a uma postura mais avançada, chamada de hipness. Assim, traçava- se a divisão entre os sujeitos square e os hips.22

22 Esta divisão squares/hips, nascida no contexto do jazz, exerceu subsequentemente tremenda influência na pro- dução das diferenças acerca de gosto e estilo. De hips, decorre o termo hipster, que retornou com força como uma categoria subcultural contemporânea e de que falarei mais adiante. Na edição brasileira de “Outsiders”, optou-se

Realizada na cidade de Chicago em fins da década de 1940, a pesquisa de Becker foi pioneira em tematizar o uso de drogas – no caso, a maconha – a partir de uma perspectiva sociológica, em contraponto às abordagens criminológicas e/ou patologizantes correntes. Bec- ker estabelece um paralelo entre o uso da maconha e a subcultura dos músicos de casa noturna, pensando-as como carreiras desviantes inter-relacionadas. Voltarei a esta referência mais adi- ante, quando abordar a questão das drogas em meu campo.

CCCS e Estudos Culturais

Em 1964, é criado na Universidade de Birmingham, na Inglaterra, o CCCS (Centre for Contemporary Cultural Studies [Centro de Estudos Culturais Contemporâneos]), referência no campo dos Estudos Culturais e no uso dos conceitos de subcultura e de culturas jovens. Seus membros participaram de certo movimento de autores de esquerda que passaram a pensar mídia, cultura popular, literatura, e “cotidiano” em análises que liam estes fenômenos a partir do con- ceito marxista de ideologia, já que a cultura era tida como uma questão de luta de classes. Tais autores estavam focados nostalgicamente nos interesses culturais “orgânicos” da classe operária (GELDER, 2005).

Um proeminente texto desta escola é “Subcultural conflict and working-class commu- nity” [Conflito subcultural e comunidade de classe operária], de Phil Cohen (2005 [1972]). O autor analisa a juventude de classe operária do East End londrino e aponta três aspectos funda- mentais: o conflito geracional com a “cultura parental” [parent culture],23 sua crescente afilia- ção à “nova sociedade de consumo” trazida pela modernização e, em terceiro lugar e decorrente dos anteriores, a desintegração da comunidade e da classe. Essa perspectiva informa vários dos trabalhos dos autores da CCCS na década de 1970. Assim, as subculturas passam a ser vistas como um produto exclusivo de classes subalternas e uma posição transicional entre a família

por traduzir square, squareness e hipness por “quadrado”, “quadradice” e “avanço”, respectivamente. Para além da tradução literal, penso que o termo “careta”, amplamente usado em muitos exemplos de oposição entre des- vio/normalidade, é uma boa tradução para square. Em círculos de usuários de maconha no Brasil, é comum referir- se àqueles que não usam a erva ou outras drogas como careta, como mostram Edward MacRae e Júlio Simões (2000). Em menor escala, o termo aparece em certos meios gays como gíria para heterossexual. É digno de nota que, em inglês, uma das gírias para heterossexual seja straight, “reto” em tradução literal, a que remete a ideia do quadrado, formado por linhas retas, sem curvas, sem sinuosidade.

23 O conceito de parent culture, utilizado pelos autores do CCCS, busca dar conta dos quadros de referência dis- poníveis para os jovens da época de maneira múltipla: pode dizer respeito tanto às culturas familiares, comunitárias, da classe operária, quanto a modelos dominantes - no sentido de que se produzem no seio da classe dominante e daí se espalham. Assim, gera também diferentes reações por parte das subculturas jovens analisadas sob esse prisma: como veremos a seguir, enquanto os teds ressignificavam certos símbolos associados à classe média e à elite (modelo aprofundado pelos mods), os skinheads se inspiravam em estética e valores associados à classe ope- rária tradicional britânica.

de classe operária e a vida adulta em meio às transformações da sociedade mais ampla da época, especialmente o surgimento de novos mercados consumidores que miravam no jovem como uma categoria específica.

Os estudos subculturais passam então por certo deslocamento de foco do território (lem- bremos da região moral de Park) para o estilo. A preocupação era compreender o significado do estilo subcultural: como grupos de jovens traduziam sua posição no mundo a partir de esco- lhas de moda, gostos e práticas culturais. É exemplar desta nova perspectiva a coletânea editada por Stuart Hall e Tony Jefferson, “Resistance through rituals: youth subcultures in post-war Britain” [Resistência através de rituais: subculturas jovens na Grã-Bretanha do pós-guerra] (1975), que, como o título indica, buscava associar os significados das práticas subculturais a formas de resistência.

Entre os objetos de estudo dos autores deste contexto estavam os teds ou teddy boys – muitas vezes apontados como “a primeira subcultura britânica”. Na verdade, como apontam vários dos autores citados aqui, pioneira no contexto dos teds foi mesmo a cobertura da mídia – que se encontrava em franca expansão a partir da década de 1950, com o advento da televisão. Os teds eram rapazes jovens de classe baixa cujo estilo se caracterizava por um uso particular do chamado traje eduardiano. Em 1950, alfaiates tradicionais de Londres tentaram introduzir uma nova versão do tipo de traje utilizado pelos dândis da era eduardiana (1901-1910), carac- terizado por um blazer de comprimento longo, lapela ampla, calças justas, sapatos de camurça e um colete elegante. O estilo era complementado por cabelos mais cheios que o convencional,

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