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Projeção UTM – SAD 69. Elaboração Lívia Fioravanti

A população encontra-se distribuída da seguinte maneira:

Tabela 3 - Demografia da Subprefeitura do Butantã

Distritos Área (km²) População 2010 Densidade Demográfica (hab/km²) Butantã 12,50 54.196 4.336 Morumbi 11,40 46.957 4.119 Raposo Tavares 12,60 100.164 7.950 Rio Pequeno 9,70 118.459 12.212 Vila Sônia 9,90 108.441 10.954 TOTAL 56,10 428.217 7.633 Fonte: IBGE, 2010.

190 1.1. A formação da região do Butantã

A história de formação dessa região no município de São Paulo remonta ao período colonial. Ela começa a se configurar sob a racionalidade e a lógica de Portugal na tentativa de ordenar territorialmente a sua Colônia. Esse ordenamento do território pela divisão em sesmarias alcança o Planalto de Piratininga e a área a oeste de sua vila, ao ser doada como sesmaria a Afonso Sardinha, em 1607, receberá seus primeiros sinais de que um outro espaço- tempo será imposto aos indígenas da região.

As primeiras informações registradas sobre o Butantã são de 1560 e falam da área como um caminho em direção ao Forte de Emboaçava168. A originária delimitação dessa região deu-se, então, pela extensão da sesmaria doada a Afonso Sardinha, “nas terras de Ybitantã, do rio Tietê até Carapicuíba, onde mantinha extensas lavouras”,169 que se tornou importante rota de passagem utilizada por jesuítas e bandeirantes em busca de ouro, metais preciosos e indígenas em outras regiões do território colonial e também teria o primeiro trapiche de açúcar da vila de São Paulo. O texto citado abaixo é rico em detalhes para relembrarmos a lógica mercantil a que foi submetida a população indígena com a chegada dos europeus, integrando o Brasil à lógica da produção de capital.

A presença do português Afonso Sardinha, o velho, na História brasileira começa a ser citada no ano de 1550.

Obscuras são a sua data e local de nascimento, como assim o é a sua chegada ao Brasil. Sabe-se, contudo, ter exercido a função de tanoeiro em Portugal e, chegando à nova terra, recebeu o título de sertanista, graças às tantas atividades que passou a desenvolver na conquista e posse da nova

168 QUERIDO, Maria José Silva. Butantã e suas veredas: guia cultural e turístico. São Paulo:

RQ Regina Querido. 1999. p. 35. Segundo a autora, esse forte foi construído em 1590, próximo à foz do Rio Pinheiros, e servia para proteção contra os ataques indígenas e “ponto de apoio para as tropas que circulavam por São Paulo, Curitiba e Rio de Janeiro” (p. 35).

191 terra, inclusive, foi considerado um dos mais importantes povoadores de Santo André e São Paulo.

O seu grande tino comercial e capitalista o fez um grande homem de negócios atrelado a um sem número de atividades capazes de torná-lo um dos senhores de maior fortuna da vila de São Paulo. Mantinha comércio de compra e venda em várias regiões do Brasil (Rio de Janeiro, Bahia) e no exterior (Buenos Aires, Portugal, Angola). O seu comércio de índios e negros foi intenso. Foi lavrador, proprietário, armador e emprestava dinheiro. O rio da Prata foi a grande via para o escoamento das mercadorias compradas na região sul.170

O próprio nome dado à região da sesmaria já indicava as modificações provocadas por esse encontro entre europeus e indígenas. O nome Butantã vem de transformações e adaptações pelas quais passaram o nome dado pelos indígenas à região, como aponta Maria José Querido.

[...] para chegar ao som e grafia de Butantã, passou por Ybitatá, Ybytantan, Ybytantã, Ubatatá, Ubatatã, Ubutatan, Ubutatã, Uvutantan, Uvatantan, Botantan, Butantan, originários do indígena Ibutantan. Segundo estudiosos, expressa: terra dura, terra socada, terra de taipa, taipa de terra batida, chão duríssimo, taipa de terra roçada.171

Historicamente, muito já se discutiu sobre o papel dos bandeirantes e jesuítas no processo de expansão territorial do período Colonial, em que a vila de São Paulo funcionava como um verdadeiro centro irradiador de caminhos para o sertão em busca de índios e metais preciosos, caminhos que saíam do Planalto de Piratininga e através de sua geografia facilitavam a ligação com as demais regiões. Pelo Vale do Paraíba chegava-se ao Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rio São Francisco, Nordeste e Norte. Pelos caminhos que levavam a Campinas, chegava-se ao sul de Minas e Goiás. Por Sorocaba, chegava-se ao

170 Ibidem, p. 31. 171 Ibidem, p. 26.

192 Sul. Além desses caminhos facilitados pela forma do relevo, ainda havia os caminhos fluviais proporcionados especialmente pelo Rio Tietê, que corta todo Estado de São Paulo, constituindo-se em um importante eixo de comunicação entre vários pontos do território e a Vila de São Paulo, facilitando inclusive a chegada a Mato Grosso e ao sul da América.

A região do Butantã, a oeste da vila de São Paulo, será o ponto de partida e chegada de alguns desses caminhos em direção ao sertão, como o que levava à Sorocaba, ao Sul e ao Oeste. É nesse entroncamento de caminhos que a região foi se constituindo.

As terras de Afonso Sardinha, no Butantã e em Carapicuíba, foram doadas, em 1615, aos padres jesuítas da Capela de Nossa Senhora das Graças da Igreja do Colégio e, somadas a outra sesmaria também recebida por doação, foram divididas em sítios e terrenos para serem arrendadas.

Por mais de um século essas terras permaneceram nas mãos dos jesuítas, até o momento que estes tiveram decretada, em 1754, sua expulsão das terras de Portugal, o que só se efetivou na Colônia em 1761. Todo o patrimônio dos jesuítas passou para as mãos da Coroa, que, a partir de 1779, passou a leiloá- las aos interessados.

Essas terras constituirão os sítios e chácaras ao redor do pequeno núcleo urbano de São Paulo, tendo a sua produção de gêneros alimentícios, assim como de areia, pedras, tijolos, madeira e carvão, voltada às necessidades desse núcleo.

A criação do Instituto Butantan nas terras além-rio deu início ao Bairro do Butantã, mas não foi suficiente para promover uma acelerada ocupação da região. Foi somente a partir da retificação do Rio Pinheiros que esse processo se intensificou.

Em 1899 foi expedido ofício solicitando a criação do Laboratório Serumtherápico, que se deu em parte das terras da Fazenda Butantã, comprada pelo Estado com objetivo de criar um laboratório, sob o comando do

193 cientista Vital Brazil, para desenvolver soro e vacina para combater o surto de peste bubônica, que à época vinha assolando a cidade de Santos. O Laboratório Serumtherápico, posteriormente, teve seu nome alterado para Instituto Butantan.

Os rios Pinheiros e Tietê foram, durante um largo período de tempo, “um dos elementos mais hostis à expansão da cidade”. Da mesma forma que nos bairros “além-Tietê”, os bairros “além-Pinheiros” permaneceram isolados do corpo principal da cidade, evitando, sobretudo, a ocupação das largas e malsãs várzeas inundáveis. Em relação às terras de Butantã, tal extravasamento do corpo urbano principal em direção à suas terras começara a ocorrer, de forma incipiente, alguns anos após a implantação do Instituto Serumtherápico, com a abertura de algumas ruas na confluência externa entre “Estrada do M’Boy” (atual Avenida Francisco Morato) e a “Estrada para o Butantan” (atual Av. Dr. Vital Brazil), por volta de 1915. Esse parece ter sido o primeiro arruamento urbano existente na região “além- Pinheiros” do município de São Paulo.172

Na medida em que a cidade começa a crescer, especialmente nas primeiras décadas do século XX, a partir das intensas modificações socioeconômicas promovidas pela economia cafeeira, seu núcleo urbano vai se expandindo em direção aos seus arredores. Inúmeras chácaras e sítios serão loteadas e urbanizadas, respondendo à demanda de novas áreas para o aumento populacional da época.173

Como podemos perceber no mapa 13, de 1924, o crescimento urbano já havia consolidado alguns bairros mais próximos à área central, localizados

172 RUFINO, Márcio. A reprodução urbana nas tramas da metrópole: Operação Urbana

Consorciada Vila Sônia. (tese de doutoramento). USP – Universidade de São Paulo – FFLCH – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas – Departamento de Geografia. 2013. p. 120.

173 Para conhecer em detalhes o processo de formação fundiária da região do Butantã,

consultar RUFINO, Márcio. A reprodução urbana nas tramas da metrópole: Operação Urbana Consorciada Vila Sônia. (tese de doutoramento). USP – Universidade de São Paulo – FFLCH – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas – Departamento de Geografia – 2013.

194 antes da margem do Rio Pinheiros. O Butantã aparece como pequeno núcleo de arruamento, além do Rio Pinheiros. Essa situação foi modificada com a retificação do rio, ao final da década de 1920.

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