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Subsídios à produção agropecuária

4 RESULTADOS

4.8 Subsídios à produção agropecuária

Um exercício interessante nesse contexto é a simulação de um subsídio a ser pago aos produtores agropecuários para que, diante de uma política de redução do desmatamento, mantivessem a produção no mesmo nível que na ausência de política. Como os impactos da implementação de restrições ao desmatamento sobre a economia brasileira não são expressivos, como visto nas subseções anteriores, para esse exercício de introdução dos subsídios apenas foram simulados os níveis de redução do desmatamento do cenário

AM_CE_Exp, pois foi o cenário que apresentou maiores impactos sobre a produção agropecuária.

A Tabela 19 mostra os valores dos subsídios que deveriam ser concedidos aos produtores dos setores agrícola e pecuário calculados pelo modelo EPPA. Aqui o subsídio se trata de uma taxa ad valorem, ou seja, como percentual do valor da produção, necessária para que não haja queda na produção do setor em relação à produção observada no cenário de referência. Por exemplo, se o modelo está apontando que o valor do subsídio para o setor agrícola em 2020 é de 0,3, isso significa que para cada US$ 100 de produto agrícola, o produtor deve receber US$ 0,3 (0,3 % do valor da produção).

Tabela 19 – Taxa de subsídio (%) paga aos produtores dos setores agrícola e pecuário

Setor 2020 2025 2030 2035 2040 2045 2050

CROP 0,30 0,37 0,16 0,33 0,54 0,82 1,20

LIVE 0,42 0,88 0,92 1,68 2,47 3,40 4,46

Fonte: Resultados da pesquisa

Os resultados obtidos mostram que é baixo o valor do subsídio que deveria ser pago aos produtores agrícolas para manterem o mesmo nível de produção do cenário de referência, na presença de políticas de limitação do desmatamento. Neste caso, o subsídio chega a no máximo 1,2% do valor da produção no setor de culturas em 2050.

Embora a redução na produção pecuária seja similar à redução na agricultura, conforme apresentado no começo deste capítulo, o subsídio pago aos produtores pecuários é mais alto, passando de 0,42% do valor da produção em 2020, para 2,47% em 2040, e 4,46% em 2050. Isso ocorre porque, como já sugerido anteriormente, a intensificação na pecuária é mais forte nos cenários de políticas e, portanto, demanda mais recursos do que na produção de culturas. É interessante notar que os subsídios levam a uma queda na área de culturas, em relação ao cenário de referência, menor do que no cenário sem subsídios, enquanto a área de pecuária sofre queda um pouco maior (Tabela 20). Esse resultado é consequência do maior valor do produto do setor de culturas por unidade de área do que do produto pecuário, ou seja, a parcela do custo de produção com o fator terra é maior na produção de culturas. Dessa forma, diante de uma restrição em expansão da área total agropecuária e na presença de subsídios compensatórios específicos a cada setor, é mais vantajoso para a economia evitar a queda na área utilizada para produzir culturas e aumentar a intensificação no setor da pecuária. Para manter o nível de produção desses setores, então, maiores subsídios devem ser direcionados à pecuária do que ao setor de culturas.

Tabela 20 – Mudanças em áreas por categoria entre os cenários de políticas e o cenário de referência – em %

Categoria 2020 2025 2030 2035 2040 2045 2050 AM_CE_Exp com subsídio

CROP -0,04 -0,35 -0,76 -1,45 -2,31 -3,50 -4,92 LIVE -0,48 -2,40 -4,12 -7,19 -10,54 -14,10 -17,57 FORS -2,12 -10,94 -20,39 -27,72 -32,18 -35,02 -35,87 AM_CE_Exp original CROP -0,37 -0,79 -1,01 -1,89 -2,97 -4,41 -6,11 LIVE -0,67 -2,67 -4,34 -7,45 -10,77 -14,18 -17,50 FORS -1,60 -10,16 -19,81 -26,79 -30,97 -33,61 -34,18

Fonte: Resultados da pesquisa.

Os efeitos sobre os indicadores econômicos das políticas de limitação do desmatamento simultaneamente à introdução dos subsídios obtidos pelo modelo são apresentados nas tabelas 21 e 22. Os resultados mostram as mudanças ocorridas no PIB, na medida de bem-estar, nas exportações e importações e nos preços dos bens ofertados domesticamente dos setores agropecuários e de alimentos, no cenário de subsídios e políticas de desmatamento em relação ao cenário de referência REF. Também são apresentadas as mudanças ocorridas no cenário original AM_CE_Exp, em que os subsídios não são aplicados, para facilitar a visualização comparativa entre esses cenários.

Tabela 21 – Mudanças no PIB e bem-estar entre o cenário de política de desmatamento e subsídio e o cenário de referência – em %

Cenário 2020 2025 2030 2035 2040 2045 2050 Bem-estar Subsídio 0,07 0,08 0,02 0,04 0,05 0,07 0,10 AM_CE_Exp 0,05 0,05 -0,01 -0,02 -0,04 -0,05 -0,07 PIB Subsídio -0,02 -0,03 -0,01 -0,01 -0,01 -0,02 -0,03 AM_CE_Exp -0,03 -0,05 -0,04 -0,05 -0,07 -0,10 -0,15

Fonte: Resultados da pesquisa

De um modo geral, verifica-se que a concessão de subsídios à produção agropecuária na presença de políticas de redução do desmatamento é positiva para a economia brasileira. As perdas em PIB diminuem e se tornam praticamente nulas, chegando a no máximo -0,03% em 2050. As perdas, apesar de esperadas diante da distorção que o subsídio representa, são pouco expressivas devido à reduzida participação da agricultura no PIB do país e pelas pequenas

alíquotas necessárias para evitar a queda da produção agropecuária. A medida de bem-estar, por outro lado, melhora tanto em relação ao cenário de redução do desmatamento (sem subsídio) quanto ao cenário de referência, tornando-se positiva em todos os anos. Esse resultado sugere que o subsídio não só evita a queda na produção agropecuária12, como também altera os preços relativos desses bens de forma a beneficiar o consumidor através da substituição de bens no consumo. Ou seja, diante da restrição na expansão da produção agropecuária, os subsídios às atividades dependentes da terra favorecem o produto mais intensivo neste fator (culturas), que também é relativamente mais importante na cesta de consumo das famílias13, em detrimento do produto menos intensivo (pecuária).

Tabela 22 – Mudanças em outros indicadores econômicos entre o cenário de política de desmatamento e subsídio e o cenário de referência – em %

Setor 2020 2025 2030 2035 2040 2045 2050

Exportações

AM_CE_Exp com subsídio

CROP 0,24 0,26 -0,01 -0,01 -0,01 -0,02 0,00 FOOD -0,48 -0,49 -0,10 -0,23 -0,41 -0,64 -0,95 AM_CE_Exp original CROP -0,93 -1,19 -0,63 -1,22 -1,92 -2,84 -3,90 FOOD -1,03 -1,47 -0,98 -1,81 -2,71 -3,74 -4,95 Importações

AM_CE_Exp com subsídio

CROP -0,22 -0,24 0,01 -0,01 0,00 0,00 -0,01

FOOD 0,37 0,39 0,07 0,16 0,27 0,42 0,62

AM_CE_Exp original

CROP 0,44 0,53 0,24 0,47 0,78 1,24 1,74

FOOD 0,64 0,88 0,51 0,96 1,44 2,00 2,66

Preço dos bens ofertados domesticamente

AM_CE_Exp com subsídio

CROP -0,35 -0,35 0,01 -0,02 -0,05 -0,08 -0,15 LIVE -0,42 -0,42 0,02 0,01 0,06 0,13 0,19 FOOD -0,20 -0,19 0,03 0,03 0,04 0,05 0,05 AM_CE_Exp original CROP -0,05 0,02 0,17 0,31 0,49 0,73 1,00 LIVE 0,05 0,55 1,03 1,81 2,66 3,63 4,71 FOOD -0,05 0,06 0,24 0,42 0,62 0,87 1,14

Fonte: Resultados da pesquisa.

12

A imposição do subsídio é modelada de forma a manter o mesmo nível de produção observado no cenário de referência, ou seja, não há mudança no quantum produzido pelos setores de cultura e pecuária em relação ao cenário de referência.

13 A participação de produtos do setor de culturas é bem maior no consumo das famílias do que a participação de produtos da pecuária, de cerca de 2,4% e 0,4%, respectivamente, uma vez que a maior parte do produto da pecuária (animais vivos) destina-se à indústria processadora de alimentos.

Os resultados obtidos para os preços dos bens nacionais ofertados no mercado doméstico dos setores agropecuários e de alimentos mostram que a introdução do subsídio evita aumentos em preços, com variação de preços negativa em 2020 e 2025, o que significa que nesses anos os preços no cenário de subsídio são menores do que no cenário REF, e a partir de 2030 a variação é positiva, porém, quase nula. No caso das culturas, o subsídio gera menores preços em relação ao cenário de referência, contribuindo para o pequeno aumento em bem-estar no cenário com subsídio.

Ademais, a competitividade das exportações brasileiras melhora, sofrendo perdas menores no cenário de subsídios do que no cenário AM_CE_Exp. As exportações do setor agrícola em 2050 praticamente não se alteram no cenário de subsídio em relação ao cenário REF, e no setor de alimentos a queda diminui de -4,95% no cenário AM_CE_Exp para -0,95% no cenário de subsídios, em 2050. O aumento das importações também é menor, de 0,62% em 2050 no setor de alimentos na presença de subsídios, contra 2,66% em 2050 no cenário sem subsídios.

Dessa forma, os resultados sugerem que uma alternativa para suavizar os impactos de políticas de limitação do desmatamento sobre a agropecuária e a economia brasileira pode ser a concessão de subsídios. Esses contribuiriam para arcar com os custos da intensificação da produção agropecuária e/ou recuperação de áreas degradadas, sem comprometer a produção e consumo de alimentos no país. Deve-se considerar que, no modelo, as despesas com os subsídios são diretamente arcadas pelo agente representativo, cuja restrição orçamentária é composta pela renda das famílias e pública. Desse modo, os subsídios contribuem para distorcer a economia, o que é confirmado pela queda no PIB em relação ao cenário de referência. Contudo, as mudanças em preços relativos no setor de culturas permite um leve incremento em bem-estar, devido a uma maior importância deste bem na cesta de consumo do que dos produtos da pecuária. No entanto, deve-se salientar que as mudanças percentuais em PIB e bem-estar são bem pouco expressivas, o que, por um lado, reforça o baixo poder distorcivo do subsídio sobre a economia na presença de restrições ao desmatamento, enquanto por outro, reduz a importância de se focar na magnitude do resultado encontrado.