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4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.5 Um olhar mais geral

4.5.3 Sugestão dos limites

A princípio pode-se pensar que uma delimitação com linhas retas apresenta vantagens, tais como:

× facilitar representações cartográficas

× tornar menos trabalhosa e menos custosa uma possível demarcação

Entretanto:

 um limite reto geralmente não tem significado biológico, físico, social ou cultural;  usualmente a população usuária de uma área protegida não percebe seu espaço

através de uma carta ou um mapa;

 poucas são as UCs no Brasil que contam com marcos físicos, devido ao alto custo de implementação dos mesmos, sendo sua eficácia questionável em alguns casos

1) considerando locais de importância ecológica, oceanográfica, sócio-econômica, cultural, histórica, arqueológica

2) com base em limites reconhecidos pelas populações usuária e interessada na área

Na área em questão, a população identifica claramente os limites municipais – os rios Uru (divisa com Cururupu) e Catiaua (divisa com Cedral).

“Do Uru pra lá e do Catiaua pra lá num pertence a nóis, a gente só pode decidir o que é da gente”

durante “tempestade de idéias”, em uma das reuniões na sede do município

Percebemos essa noção da população local claramente desde o início dos trabalhos de campo, principal motivo pelo qual não estendemos o trabalho aos municípios vizinhos a leste. Considerando que a gestão de uma UC de uso sustentável é simplificada quanto menos municípios englobar, decidimos por nos restringir a um só município, o que nem sempre é a alternativa mais adequada.

Para o interior, o limite da área de manguezal é identificável pelas imagens de satélite. Em campo, verificou-se que a população reconhece bem estes limites, bem como as áreas inundáveis (“gapó”).

No mar, a plataforma continental é extensa, apresentando declive pouco acentuado, tendo aproximadamente 140 km na costa da área de estudo. Ali o reconhecimento se dá pelas maneiras: profundidade (em braças), distância da costa (em milhas ou tempo de navegação) e matéria em suspensão (“água azul”7).

Por não ser um limite fixo, e que ainda apresenta esta variação sazonal, a “água azul” não seria uma característica adequada a se usar. No entanto, utilizando-se a base batimétrica fornecida pelo IBGE8, observa-se que a pluma de sedimentos

provenientes das descargas de água doce diminui bastante pouco além da isóbata de 5

7

Os pescadores locais denominam “água azul” a região onde a quantidade de matéria em suspensão se torna bem menor, e as águas ficam mais translúcidas. Desta forma, as águas mais próximas à costa apresentam coloração amarronzada, devido à alta carga de sedimentos provenientes dos rios, inclusive do rio Amazonas na época das chuvas. Na época de estiagem, quando a vazão dos rios diminui e os ventos são mais fortes, a “água azul” chega mais próxima à costa, acontecendo o inverso no período de chuva.

8 Cedida pela Coordenação de Monitoramento Ambiental (CEMAM)/ Diretoria de Proteção (DIPRO) /

metros. Em um primeiro momento poder-se-ia pensar em considerar a isóbata de 10 metros, que segue mais próxima ao limite da pluma de sedimentos, mas o seu desenho é bastante irregular e, segundo o responsável pela Capitania dos Portos/MA, nesse caso já se adentra em área amplamente utilizada para navegação (CMG Ricardo Achylles de F. Mello, comunic. pessoal) (FIGURA 4.33).

FIGURA 4.33 – Carta náutica n° 400 sobreposta com linhas batimétricas de 5 e 10 m fornecidas pelo IBGE (na carta, onde se observam as setas são os locais de tráfego marítimo mais intenso, onde foi recomendado pela Marinha a não se estabelecer reservas)

A quebra da plataforma, utilizada como base de delimitação na APA Costa dos Corais (Beatrice Padovani Ferreira, comunic. pessoal), apesar de ser reconhecida pelos pescadores “de fora” (que pescam mais longe da costa), fica muito distante, a mais de 140 km, da linha de costa nessa porção do litoral, muito além da área de pesca atual.

“É o ‘poção’. Quando a gente vai pescar pargo de linha, tem 12, 14 braças, aí vem 20, de repente 70, aí não chega mais no fundo. É muito, muito longe, lá não vê mais terra. A água é limpinha, verdinha. Deve dar umas 200 braças lá, lá que se cria mais peixe.”

Valdeci Silva (Seu Cumã), pescador local

Consideramos que as correntes marinhas (de onda e de maré) são aspectos bastante importantes a serem considerados para este tipo de estudo. No entanto, não foram incluídas neste trabalho por falta de dados existentes e impossibilidade de se realizar este tipo de estudo especificamente para este momento.

Os manguezais (incluindo os apicuns), pela importância ecológica que têm para todo o sistema estuarino e também para os recursos pesqueiros, e por ser facilmente reconhecida pela população, foi considerado como base para o limite terrestre em outras UCs de uso sustentável no país. Na área em questão, reconhecemos duas situações:

a) nas áreas de transição com a terra firme, o limite do manguezal por vezes é bem definido, e por vezes há ocorrência de ambientes de brejo, inundáveis, localmente denominadas de “gapó” (FIGURA 4.34), que consideramos que devem ser incorporados da mesma maneira como o manguezal;

conhecido localmente por “gapó”

b) ao longo dos cursos dos rios Catiaua e Uru, a transição do manguezal com a mata sem influência da salinidade marinha é tênue e gradual. No rio Uru, como este limite à montante é bem próximo aos limites municipais (na Figura 4.35, devido à escala utilizada para delimitação do manguezal, não é possível visualizar o limite exato de manguezal, que conforme foi verificado em campo, chega próximo ao ponto indicado por “I”), a utilização deste limite político poderia ser mais adequada – no ponto da margem direita limítrofe entre Porto Rico e Mirinzal. No rio Catiaua, como é possível observar claramente na imagem STDM, um limite ecologicamente adequado seria o divisor de águas das bacias do rio Catiaua, Uru e Pericaua abrangendo assim toda a bacia do rio Catiaua na sua margem esquerda. Como esta região é bastante plana, talvez haveria necessidade de um marco físico (placa, mourão ou similar). Como este ponto é bem próximo ao povoado de Rabeca, uma outra alternativa seria considerar o porto deste povoado como limite

(FIGURA 4.35).

O rio Uru é de grande importância para a área de estudo, mas devido à sua extensão seria difícil a sua gestão a partir de uma UC costeira. Lembrando que as suas matas ciliares são integralmente protegidas através das APPs, e o que o mesmo se encontra quase totalmente na APA das Reentrâncias Maranhenses, o que deve se buscar é uma gestão do rio juntamente com os demais municípios que o margeiam. O Plano Nacional de Recursos Hídricos prevê de ações relativas a revitalização de bacias, incluindo a recuperação de matas ciliares e várzeas, a proteção e a recuperação das áreas de nascentes e a proteção de áreas de recarga de aqüíferos (MMA, 2006a).