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SUGESTÕES DE ADAPTAÇÕES DE PRÁTICAS INTERNACIONAIS

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Em casos especiais, como explicitado na nota 1 da tabela 14 e em situações nas quais o risco potencial de perdas de vidas humanas e de danos for elevado, a NBR 11.682 recomenda que, a critério do engenheiro civil geotécnico responsável, a probabilidade de ruptura do talude pode ser quantificada e estimada por um profissional especialista (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2009, p. 19). Nesses casos, a metodologia para análises probabilísticas de risco em taludes de terra proposta por Costa (2005) é uma opção que fornece os resultados necessários satisfatoriamente, uma vez que consiste em uma abordagem quantitativa de análise de risco.

A metodologia sugerida por Costa (2005) segue os mesmos princípios e conceitos apresentados por Fell et al. (2005) no seu framework para avaliação e gerenciamento de risco de deslizamentos. As principais diferenças entre essas duas metodologias se dão na determinação das consequências e nos critérios de tolerância ao risco. No que tange às consequências, Fell et al. (2005) propõem uma diferenciação entre os fatores exposição e vulnerabilidade do elemento em risco, já Costa (2005) indica, com base na literatura, uma metodologia que engloba esses fatores em um só termo. A diferenciação é possível quando se tem um conhecimento grande dos processos que envolvem os deslizamentos e os elementos em risco, como pôde ser visto na adaptação australiana para o projeto da Lawrence Hargrave Drive. Entretanto, na maioria das vezes, mesmo em países que possuem uma base de conhecimento consistente em análises de risco de deslizamento, valores numéricos para as vulnerabilidades são adotados, ao invés de calculados, devido ao alto grau de incerteza que existe nesse fator.

Os critérios de tolerância ao risco, que sugerem os valores aceitáveis e toleráveis pela sociedade e para um indivíduo em particular, são dependentes dos órgãos regulatórios em que se realiza o estudo. Por isso, as metodologias brasileiras não apresentam critérios tão definidos quanto às internacionais, já que não há critérios que regulamentam limites toleráveis e aceitáveis para riscos de deslizamentos no Brasil. Nesses casos, a população, de acordo com seu poder econômico e cultura, define os limites toleráveis e aceitáveis para si.

7.2 SUGESTÕES DE ADAPTAÇÕES DE PRÁTICAS INTERNACIONAIS

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incertezas relacionadas a encostas e taludes e garantir o desempenho esperado dos projetos e um nível de segurança adequado para pessoas, propriedades e meio ambiente. Além disso, é sabido que o conceito do Fator de Segurança é amplamente conhecido por engenheiros civis geotécnicos, desde a sua formação até a prática de projetos de construção de taludes ou estabilização de encostas e/ou taludes existentes.

Considerando o contexto brasileiro de projetos geotécnicos, acredita-se que a utilização de descritores numéricos para probabilidade de ruptura de taludes relacionados aos Fatores de Segurança dos mesmos, como a escala apresentada na adaptação canadense (modelo do Alberta Transportation – tabela 5, páginas 100-101), é considerada uma boa opção para se abordar os problemas menos complexos de análise de risco de deslizamentos de uma forma menos subjetiva no Brasil. Para a estimativa das consequências, o mesmo raciocínio poderia ser aplicado. É importante que o risco seja determinado a partir de valores numéricos, para que somente depois de obtidos os resultados da análise, estes sejam categorizados por descritores subjetivos, como: urgente, prioritário, médio e baixo risco. Isso permite uma melhor interpretação e entendimento dos fatores que influenciam no resultado da análise, sem detrimento da possibilidade de utilizar o risco geotécnico como ferramenta de priorização de recursos e gastos em manutenções de encostas e taludes.

Para casos em que uma abordagem quantitativa do risco é necessária, como situações complexas que envolvem riscos elevados a pessoas e propriedades, a metodologia proposta por Costa (2005) de uma análise probabilística de risco de deslizamentos em taludes de terra é adequada e produz resultados satisfatórios. Ressalta-se que, ao se optar por essa metodologia, é necessário obter um número elevado de dados, que consumirão custo e tempo proporcionais à quantidade de informação a ser levantada.

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8 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este Trabalho de Diplomação teve como objetivo pesquisar, analisar e comparar diferentes metodologias nacionais e internacionais para avaliação de risco geotécnico em taludes, com abordagens qualitativas e quantitativas, possibilitando a identificação de práticas internacionais que poderiam ser utilizadas em projetos brasileiros. A fim de se completar o objetivo proposto, vários assuntos pertinentes a este campo de estudo na área geotécnica da Engenharia Civil foram abordados.

Os movimentos de massa, que são os eventos considerados importantes no âmbito da geotecnia, foram apresentados e classificados, conforme a classificação de Varnes (1978). As principais definições e o framework amplamente utilizado mundialmente para se realizar uma avaliação de risco geotécnico foram descritos em um capítulo à parte, com fins de possibilitar o acesso rápido a esses conceitos e, também, uniformizar a terminologia utilizada durante todo o desenvolvimento do trabalho.

Além disso, foi proporcionada uma descrição das metodologias qualitativas e quantitativas presentes no Brasil para a condução de análises de risco geotécnico. A abordagem qualitativa é a adotada pelo IPT, que propõe seu uso em todos os municípios para combater os problemas causados por movimentos de massa. Já a abordagem quantitativa se refere ao estudo de Costa (2005) na sua dissertação de mestrado, no qual métodos probabilísticos são incorporados a uma análise de estabilidade de taludes, com o objetivo de proporcionar uma metodologia que introduza os conceitos probabilísticos e estatísticos nesse tipo de análise, considerando algumas das incertezas envolvidas nos problemas geotécnicos.

A metodologia internacional foi apresentada através da descrição detalhada do artigo escrito por Fell et al. (2005), complementado por diretrizes da AGS sobre avaliações qualitativas de risco de deslizamentos a propriedades. Para ilustrar a abordagem quantitativa internacional para análises de risco, foi exposto um exemplo de uma situação hipotética de deslizamento em aterro rodoviário. Também foram descritas experiências com adaptações da metodologia internacional a casos reais de estabilidade de taludes no Canadá, no Nepal e na Austrália. Ao completar essa parte do trabalho, os objetivos secundários do trabalho foram alcançados.

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Por fim, uma análise da pesquisa bibliográfica realizada, comparando-se as metodologias apresentadas entre si e com as diretrizes de boa prática recomendadas pela NBR 11.682 (2009) sobre Estabilidade de encostas, permitiu que sugestões fossem feitas sobre possíveis aplicações de práticas internacionais no contexto brasileiro de avaliação de risco geotécnico, em projetos corriqueiros e de baixa complexidade.

A validação da aplicabilidade dessas técnicas em projetos no Brasil ainda necessita de comprovação, através de estudos de caso, o que não foi abordado no presente trabalho. Sendo, portanto, possível assunto de futuros trabalhos e pesquisas.

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REFERÊNCIAS

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ANEXO A – Terminologia Qualitativa para uso em Análises de Risco à Propriedade (AUSTRALIAN GEOMECHANICS SOCIETY, 2007)

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Quadro A.1 – Medidas qualitativas de possibilidade de deslizamentos

(fonte: AUSTRALIAN GEOMECHANICS SOCIETY, 2007, p. 91)

Quadro A.2 – Medidas qualitativas de consequências à propriedade

(fonte: AUSTRALIAN GEOMECHANICS SOCIETY, 2007, p. 91)

Quadro A.3 – Matriz qualitativa para análise de risco à propriedade

(fonte: AUSTRALIAN GEOMECHANICS SOCIETY, 2007, p. 92)

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Quadro A.4 – Implicações dos níveis de risco

(fonte: AUSTRALIAN GEOMECHANICS SOCIETY, 2007, p. 92)

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ANEXO B – Formulário de Inspeção de Campo (KELLY et al., 2005, p. 575)