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Sugestões de redação aos dispositivos analisados

7. REPARAÇÃO DE DANOS PELO INCAPAZ

7.12. Sugestões de redação aos dispositivos analisados

Ao longo de nossa pesquisa nos deparamos com diversas sugestões de alteração dos artigos do Código Civil de 2002252.

Para o autor José de Aguiar Dias, o art. 928 deveria estabelecer que o patrimônio do incapaz constitui garantia da reparação do dano por ele causado e que por essa obrigação responde solidariamente aquele a quem incumbe a sua guarda253.

Regina Beatriz Tavares da Silva sugere que o art. 928 tenha a seguinte redação: “Os princípios da responsabilidade civil aplicam-se também às relações de família” e a inclusão do seguinte parágrafo ao art. 942: “O incapaz responderá pela indenização, preservando-se os meios indispensáveis para sua sobrevivência”, de forma a garantir a resolução da suposta antinomia entre os artigos254.

Rui Stoco sugere uma alocação diferente para o art. 928, visto que a exceção veio depois da regra, que é a responsabilidade dos pais, tutores e curadores prevista no art. 932, I e II255.

252 Após o arquivamento do Projeto de Lei n. 6.960/2002, autoria de Ricardo Fiuza, não localizamos

nenhuma proposta efetiva: “O incapaz responde pelos prejuízos que causar, observado o disposto no

art. 932 e no parágrafo único do art. 942”.

253 Da responsabilidade civil, Revista do Advogado, n. 19, p. 33-39. 254 FIUZA, Ricardo (Coord.). Novo Código Civil comentado, p. 824 e 838.

8. CONCLUSÃO

O presente estudo monográfico analisou a evolução da responsabilidade civil extracontratual das pessoas privadas de discernimento e os dispositivos que tratam da matéria no Código Civil de 2002.

O Código Civil de 1916 silenciava sobre a responsabilidade civil dos privados de discernimento. Prevalecia o entendimento de que aos incapazes falta- lhes imputabilidade e sem esta inexiste culpa, sobre os que defendiam a ampla responsabilidade dos loucos, principalmente quando abastados de bens.

De acordo com os critérios de eqüidade, justiça, ordem social, segurança da vítima, equilíbrio social, a doutrina estrangeira e a evolução de nosso direito, o Código Civil de 2002 instituiu a responsabilidade subsidiária e mitigada do incapaz em seu art. 928, atendendo aos princípios constitucionais da solidariedade social, justiça distributiva, dignidade da pessoa humana, igualdade, direito à integração e princípios da eticidade e socialidade.

O incapaz deverá ser responsabilizado apenas quando pessoa imputável responder em situação análoga, de acordo com as regras da responsabilidade subjetiva, observando os critérios de eqüidade impostos para sua responsabilização subsidiária. Como lhe falta imputabilidade, concluímos que sua responsabilidade é atribuída pela lei, com base na eqüidade, como exceção à regra da responsabilidade baseada na culpa.

São requisitos para que o patrimônio do incapaz responda pelos danos a que der causa: (i) que o ato danoso praticado pelo incapaz também responsabilize pessoa imputável em circunstância análoga; (ii) que haja nexo de causalidade entre fato e dano; (iii) que o seu responsável não tenha o dever legal de fazê-lo ou não tenha meios para arcar com a reparação; (iv) fixação com eqüidade em face da impossibilidade de comprometer seu sustento ou o de seus dependentes.

Devemos sempre lembrar que o incapaz causador do dano é, na verdade, uma pessoa capaz de possuir direitos, muitas vezes titular de patrimônio suficiente para sua sobrevivência e indenização dos danos sofridos pela vítima.

Referido artigo veio atender o sentimento de justiça, sob o prisma da eqüidade – e não da reparação integral do dano, instituindo regime de reparação de danos diferenciado ao incapaz, nos estritos termos autorizados pelo princípio constitucional da igualdade. O art. 928 observou a dignidade da vítima, pois aumentaram suas chances de reparação, e a condição peculiar do incapaz, ao mitigar a indenização.

Caberá ao magistrado observar o limite razoável para indenização que poderá ser suportado pelo incapaz sem prejudicá-lo e, assim, não será um óbice para a reparação do prejuízo à vítima.

No cálculo da indenização o magistrado deverá fixar indenização eqüitativa, mesmo que não repare todo o prejuízo, observando as necessidades do incapaz e a de seus dependentes, o estado econômico das partes, o fato causador, a extensão e o montante do dano.

Não há solidariedade a ser aplicada ao regime de reparação de danos pelo próprio incapaz, até mesmo porque o art. 934 veda o responsável de reaver do incapaz o que pagou pelos prejuízos por ele causados.

Discordamos do posicionamento extensivo quanto ao parágrafo único do art. 928 aos responsáveis do incapaz. Há proteção suficiente em nosso sistema jurídico a seus responsáveis, e pela interpretação global de todos os dispositivos podemos chegar à mesma conclusão de referido enunciado, apenas quando estritamente necessário, mantendo a regra geral da reparação integral do dano.

Quanto ao dano moral, consideramos que deverá ser de grande repercussão ao ofendido, para caracterizar a reparação de danos do incapaz. Não podemos perder de vista que o ofensor é pessoa desprovida de discernimento e, portanto, não vislumbramos muitas hipóteses em que suas atitudes possam ofender a esfera moral do ofendido.

Apesar de todas as inovações, a vítima ainda poderá ficar sem a devida reparação dos prejuízos que sofreu por ato praticado por incapaz, se o responsável não tiver a obrigação legal ou não dispuser de meios suficientes e o incapaz não tiver condições de arcar com qualquer reparação sem comprometer seu sustento ou o de seus dependentes.

Entretanto, sua condição melhorou, pois aumentaram suas chances de receber pelo menos alguma reparação, mesmo que não integral. O legislador acertou e sopesou a dignidade do incapaz causador de dano e da vítima.

O dispositivo se coaduna com a necessidade da sociedade moderna que, ao recepcionar os incapazes ao convívio e integração, necessita de uma maior garantia de reparação do dano injusto, para que eventual prejuízo não seja suportado pela própria vítima.