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Relativamente ao Questionário de Avaliação de Comportamentos de Autonomia, este revela ser abrangente, incluindo vários domínios de comportamentos de autonomia, além de que aparenta ser de fácil compreensão, considerando a elevada frequência de respostas na maioria dos itens, bem como as poucas dúvidas levantadas durante a aplicação do mesmo. Contudo, salientam-se algumas limitações, nomeadamente na elaboração de alguns dos itens e de um número reduzido de itens em alguns dos domínios avaliados. Alguns itens deveriam ser mais completos, ou incluir alguns exemplos, outros reformulados, outros talvez fizesse mais sentido retirá-los.

Segundo Ferland (2006), a criança de 5 anos consegue cortar alimentos moles, como legumes cozidos, com a faca, mas só aos 6 anos consegue cortar carne. Assim, se tivessem sido dados exemplos de alimentos no item “Corta alimentos simples com a

faca”, as respostas seriam mais conclusivas. A percentagem poderia ser mais elevada se

fosse incluído o exemplo dos legumes cozidos, e se fosse dado o exemplo da carne seria possível verificar se havia diferença entre as crianças de 5 anos e 6 anos.

44 No item “Ajuda os pais em tarefas simples”, poderiam igualmente ter sido incluídos alguns exemplos, e assim verificar que tipo de tarefas realiza a criança nestas situações, e até se poderiam observar algumas diferenças entre crianças de idades diferentes. A informação daí retirada seria mais completa e variada.

Quanto ao item “Faz birras quando contrariado(a)”, penso que poderia ou ser retirado do questionário ou ser complementado com outros itens do mesmo domínio. Com a inclusão deste item no questionário, sem mais informação com que trabalhar, ficamos apenas a saber com que frequência a criança tem comportamentos considerados “birra”, que nos permitem inferir sobre a sua capacidade de expressar a agressividade, ou contrariedade, em situações de oposição parental. Além de que a informação que se obtém com este item não é essencial para a avaliação de comportamentos de autonomia nas tarefas do dia-a-dia da criança.

No geral, os comportamentos de autonomia são avaliados de forma abrangente por este questionário. No entanto, seria útil incluir outros instrumentos, tais como a entrevista, tendo por objectivo alargar o leque de informação recolhida e aprofundar o conhecimento sobre a autonomia nos comportamentos diários, como por exemplo, a forma como estes são adquiridos, como vêem os pais essa autonomia, entre outros aspectos que poderiam ser focados. Assim seria possibilitada uma análise mais completa acerca do tema deste estudo.

Quanto aos resultados obtidos, penso que um maior número de participantes enriqueceria o estudo das diferenças grupais, principalmente para compreender melhor a diferença entre as crianças que frequentam o jardim-escola e as que não o frequentam, já que foi para estes sub-grupos que se registou a maior diferença no número de crianças. Para os sub-grupos meninas e meninos, seria interessante verificar em que itens existe maior e menor autonomia para cada sub-grupo, assim como, perceber o porquê da diferença observada. Para tal, seria relevante alargar o espectro dos dados estudados, incluindo, por exemplo, questões a colocar aos pais no que se refere às práticas educativas, para os comportamentos de autonomia, para meninos e meninas.

No que se refere às crianças que têm irmãos e as que não têm, as diferenças observadas não permitiram retirar conclusões. Contudo, e tal como para os sub-grupos das crianças que frequentam e que não frequentam o jardim-escola, seria importante

45 analisar a tendência observada de um maior número de crianças com menor autonomia para as crianças que têm irmãos, comparativamente às crianças sem irmãos.

Com o objectivo de alcançar uma melhor compreensão sobre os comportamentos de autonomia, seria relevante incluir, em futuras investigações, dados referentes às crenças dos pais sobre autonomia e comportamentos de autonomia, como por exemplo, que comportamentos de autonomia são considerados importantes e quais os que são considerados menos importantes. Algumas das explicações sugeridas neste estudo, para valores indicadores de menor autonomia, vão neste sentido, ao reflectir sobre o impacto que estas crenças podem ter nos comportamentos de autonomia.

Para as associações observadas entre uma menor autonomia e a presença de perturbação emocional e comportamental, assim como entre esta e alguns comportamentos avaliados pelo QCA, seria relevante explorar mais dados, de forma a ser possível esclarecer estas associações. Até porque, ao constatar as diferenças de resultados entre este estudo e o de Silva (2008), percebe-se a necessidade de avaliar que associação, e relação, existe realmente entre comportamentos de autonomia e perturbações emocionais e comportamentais, assim como alerta para a importância de analisar que factores contribuem para esta associação.

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Conclusão

Neste estudo, foi possível verificar que a maioria das crianças desta amostra é autónoma na maioria dos comportamentos avaliados pelo QCA, são, portanto, autónomas nos domínios da alimentação, hábitos de higiene, sono, controlo das funções de eliminação, nos cuidados diários pessoais e na realização de pequenas tarefas. Para maioria das crianças, verifica-se ainda que não apresentam perturbação emocional e comportamental.

Adicionalmente, verificaram-se diferenças no grau de autonomia, para estes comportamentos, entre crianças do sexo feminino e crianças do sexo masculino, sendo que as raparigas demonstram uma maior autonomia que os rapazes, algo que poderá ser explorado em futuras investigações. Não se verificaram, no entanto, diferenças entre crianças que frequentam o jardim-escola e as que não frequentam, contrariamente ao esperado. Assim como não se observaram diferenças no grau de autonomia entre crianças que têm irmãos e crianças que não têm irmãos. Como já foi sugerido, as diferenças grupais analisadas neste estudo deveriam ser estudadas e analisadas de forma mais completa, utilizando mais participantes e uma metodologia estatística que explore melhor as diferenças nestes grupos.

Foi ainda observada associação entre um menor grau de autonomia e a presença de perturbação emocional e comportamental, contudo, para os comportamentos de menor autonomia a associação foi menos clara, com apenas alguns itens a indicarem uma associação maior. Estas associações verificadas, como já foi sugerido, podem dever-se a outros factores que não a existência de uma perturbação emocional e comportamental. Estes dados demonstram a necessidade de verificar, em futuros estudos, se existe realmente uma associação, ou relação, entre comportamentos de menor autonomia e a presença de perturbação emocional.

Salienta-se, ainda, os comportamentos que se constataram como sendo realizados de forma menos autónoma, pela maioria das crianças, do que os restantes, e contrariamente ao esperado para a idade, por indicarem possíveis comportamentos de risco, principalmente ao se ter verificado alguma associação com a presença de perturbação emocional e comportamental.

47 A partir destes resultados, percebe-se a necessidade de explorar, em estudos semelhantes, outros factores além dos aqui considerados. As crenças dos pais, as suas práticas educativas, assim como a sua atitude perante a vontade de a criança ser autónoma, são determinantes no processo de construção de autonomia da criança, pelo que constituem exemplos de dados que devem ser considerados em futuras investigações.

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Anexo I

Questionário de Avaliação de

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