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Sugestões para intervenções psicológicas com foco na adesão de adolescentes

CAPÍTULO 5. DISCUSSÃO

5.2 Sugestões para intervenções psicológicas com foco na adesão de adolescentes

seguintes aspectos:

• Identificação de barreiras aos comportamentos de autocuidado;

• Manejo das barreiras identificadas;

• Tomada de decisão conjunta relacionada às condutas de adesão a serem implementadas;

• Exercícios de cálculo de doses de medicamentos prescritos e cálculo de percentuais de perda permitidos;

Análise da realização das tarefas de casa e feedback positivo para o cumprimento das mesmas;

• Análise do enfrentamento diante de ocasiões estressoras ou não planejadas; Outros pontos importantes devem estar presentes, como:

• Escuta empática

As principais orientações direcionadas ao acolhimento de pacientes soropositivos dizem respeito ao processo de escuta empática, que significa ouvir as principais dúvidas e dificuldades do adolescente sem emitir julgamentos de valor, indicando possíveis soluções para os dilemas apresentados, em conformidade com a opinião do jovem (Fernandes, 2010).

Conforme demonstrado nos resultados dessa pesquisa o autorrelato não deve ser adotado como única medida de adesão, pois o mesmo pode estar sendo influenciado pelo fator de desejabilidade social do paciente. Para diminuir as chances de que essa variável esteja presente, portanto, a escuta do profissional deve ser orientada para entender falhas de adesão dentro de um contexto funcional, analisando eventos antecedentes e consequentes que estiveram presentes na ocasião da ocorrência do comportamento. Nesse contexto o registro de automonitoramento pode ser incorporado como estratégia para supervisão da adesão, pelo menos durante o período em que o comportamento de adesão do adolescente está sendo estabelecido.

• Estabelecimento de metas e objetivos realistas de adesão

O esquema de tratamento antirretroviral deve ser compatível com a rotina de vida do adolescente para minimizar falhas de ingestão dos medicamentos. A partir do estabelecimento do plano de tratamento antirretroviral, a intervenção deve orientar o paciente para que se adapte às condições de adversidade. Tal adaptação deve envolver a emissão de comportamentos que estejam presentes no repertório inicial do paciente, estabelecendo mudanças graduais e direcionadas à adesão, mesmo que ocorram falhas episódicas durante esse processo.

Mudanças complexas na rotina de vida do adolescente devem ser estabelecidas em etapas, disponibilizando reforço social (seja por parte da equipe de saúde quanto por parte da família) para o cumprimento de cada passo estabelecido. Várias estratégias podem ser usadas para incorporar o esquema de adesão à rotina de vida do paciente, como monitoramento assistido da adesão pelo

cuidador e uso de dispositivos ambientais que sinalizam o momento da ingestão dos medicamentos (como programação de despertador ou bip eletrônico e uso de algum recurso áudio-visual).

A equipe de saúde deve estar constantemente alerta para verificar a adesão do adolescente, acionando o serviço de psicologia caso haja necessidade do trabalho direcionado à promoção de adesão.

• Qualificação das informações sobre o processo de combate à enfermidade

As informações fornecidas para o adolescente devem ser claras e devem envolver aspectos relacionados à doença e ao tratamento. Como a literatura mostra, grande parte dos adolescentes infectados pelo HIV via transmissão vertical tiveram a revelação do diagnóstico de maneira fracionada e tardia, sendo que, muitas vezes, as informações relativas ao HIV/aids não mantinham acurácia com relação ao processo de infecção e tratamento (Guerra, 2008). Dessa forma, é importante utilizar linguagem simples e clara, mas fidedigna, para informar ao adolescente sobre sua condição de enfermidade, fornecendo informações sobre o modo de atuação da doença e sobre a importância do tratamento. Alguns materiais podem ser interessantes nessa abordagem, como quadros e figuras ilustrativas, gráficos sobre atuação dos medicamentos antirretrovirais, depoimentos de outros adolescentes sobre a importância da adesão, etc.

• Fortalecimento da autonomia do adolescente e empoderamento

É importante explicar ao adolescente a importância do autogerenciamento do tratamento, favorecendo, dessa forma, o fortalecimento de sua autonomia. Deve-se descrever cuidadosamente as ações de autocuidado a serem adotadas, e a maneira pela qual o adolescente deverá se comportar para que possa alcançar maior independência quanto ao tratamento. A autonomia é um importante componente da adesão entre adolescentes, uma vez que, em muitos casos, os cuidadores esperam atitudes de maior iniciativa por parte dos jovens em função da fase de desenvolvimento em que esses se encontram.

O empoderamento deve ser estimulado para que o adolescente seja um usuário ativo do serviço de saúde, ensinando-o sobre a importância de negociar com o médico melhores prescrições terapêuticas e melhores condições de tratamento. Outra alternativa consiste em estimular o adolescente a engajar-se em movimentos sociais direcionados a acolher demandas de adolescentes que vivem sob a mesma condição, garantindo-se, para tanto, condições de sigilo e confiabilidade.

• Apoio à realização periódica de exames de CD4 e carga viral

Os marcadores biológicos são importantes indicadores de vulnerabilidade da saúde do adolescente. O trabalho de educação em saúde deve ser direcionado para que o adolescente entenda os resultados de seus exames, identificando relações entre seu comportamento de adesão e os resultados trazidos dos indicadores biológicos. Deve-se alertar os adolescentes de que a não adesão pode implicar um longo processo de recuperação da saúde, e que a manutenção da frequência da adesão é o principal recurso que o adolescente possui para manter seu estado de saúde sob controle.

• Incentivo ao apoio social

Conforme observado pelos resultados dessa pesquisa, adolescentes com escasso suporte social têm maior probabilidade de não seguir o tratamento. É importante envolver a família no processo de mudanças, especialmente aqueles cuidadores soropositivos, como pais e mães, com atenção especial àqueles que não aderem ao seu próprio tratamento, e que também eventualmente precisam de ajuda.

O envolvimento de cuidadores deve priorizar, no entanto, o fortalecimento da autonomia do adolescente. Isso não implica dizer que o cuidador não deve monitorar a adesão, apenas que esse não deve ser o principal responsável pela manutenção do autocuidado do adolescente, como por exemplo, ser o principal responsável por entregar as medicações nos horários programados.

Cuidadores e familiares devem estar atentos e disponíveis para: apoiar comportamentos adequados emitidos pelo adolescente, corrigir eventuais falhas de adesão, desenvolver habilidades específicas de educação sobre a doença e tratamento, oferecer condições para realização do tratamento (como meio de locomoção para o serviço de saúde e retirada dos medicamentos na farmácia) e mudar rotinas de vida que dificultam a adesão do adolescente.

É importante enfatizar que a adesão ao tratamento em HIV/aids é multifacetada, e não se limita à adesão à TARV. O alvo maior das intervenções foi a adesão às medicações, definindo de maneira precisa e objetiva as metas a serem alcançadas. No entanto, ao longo do trabalho identificou-se a necessidade de que outras condutas relacionadas à adesão fossem trabalhadas (como adesão ao serviço de saúde e maior disponibilidade de suporte social).

Ressalta-se que mesmo diante dos resultados positivos obtidos sobre a adesão das adolescentes, as jovens Antônia e Maria devem continuar sob supervisão do serviço de saúde, para garantir a manutenção dos ganhos terapêuticos obtidos relacionados à adesão.

A principal limitação desse estudo foi o número reduzido de casos analisados. É necessário que outros estudos de intervenção sejam realizados para ampliar a investigação do tema. Pode-se destacar ainda a intervenção limitada realizada com os cuidadores. O trabalho apontou para sérias dificuldades dos cuidadores em oferecer suporte à adesão. Diante das dificuldades, considera-se que a intervenção realizada foi limitada. Indica-se que outros estudos sejam elaborados a fim de aprofundar a investigação desse tema.