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Sugestões para um programa coordenado público-privado para sustentabilidade socioambiental da cadeia produtiva

siderúrgica no Brasil

As análises e observações contidas ao longo do presente estudo ofere- cem subsídios para o esforço público-privado coordenado, por meio das seguintes linhas mestras:

1) Estabelecimento de mecanismos de rastreabilidade para a produção e comercialização de insumos na cadeia produtiva siderúrgica no Brasil, em consonância com a resolução Conama 411/2009.

2) Estabelecimento de exigências e formas de apoio para que o produtor independente de ferro-gusa desenvolva fontes renováveis de madeira

C ondições par a a susten tabi lidade da pr odução de car vão v egetal par a a f abricação de f err o-gusa no Br asi l

294 (carvão vegetal), próprias ou de fornecedores reconhecidos, para a totalidade da produção.

3) Estabelecimento de impostos à exportação de ferro-gusa. Tal se justifi caria como compensação pelo fato de dois terços da produção de ferro-gu sa à base de fl orestas nativas serem exportados. Assim, o setor externo contribuirá com esforço fi scal necessário à redução do desmatamento.

4) Estabelecimento de critérios para ocupação de biomas com fl orestas plantadas que possuam rendimentos mínimos da ordem de 60 m3/ha,

por ano.

5) Estabelecimento, nos próximos cinco anos, de critérios mínimos de produtividade de carvoejamento ao redor de 400 kg por tonelada de madeira.

Conclusões

As constatações do estudo permitem-nos agora responder as questões previamente levantadas.

A área a ser plantada pelo setor siderúrgico para garantir que todo ferro-gusa fabricado com carvão vegetal não seja oriundo de desmatamen- tos precisa mais que dobrar em relação aos níveis atuais, num período de 10 anos, com efeitos muito relevantes no caso das regiões do Pampa e do Pantanal e menos importantes nas demais.

A elevação na produtividade do carvoejamento, de 250 kg/tonelada de madeira para 350 kg a 400 kg/tonelada, poderá reduzir à metade a necessi- dade de área plantada. A elevação conjunta da produtividade do carvão e das fl orestas reduz a menos de 50% do que seria necessário aos níveis vigentes.

Há terras propícias ao fl orestamento/refl orestamento em todos os biomas, porém as de maior produtividade, no caso da cultura de eucalipto, são as do sul da Bahia e do Espírito Santo. No caso dos biomas do Pampa e do Pantanal, cuja elevada percentagem seria ocupada pelos novos plantios, os fl orestamentos/refl orestamentos disputarão as terras com outras culturas.

As áreas a serem plantadas com espécies exóticas ou nativas não são muito extensas em relação às terras agricultáveis, mas podem ser relevantes no caso dos biomas do Pampa e do Pantanal.

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295 Os fl orestamentos/refl orestamentos não possuem as variedades animais e

vegetais das fl orestas nativas, mas ensejam o fl orescimento de fl ora e fauna, enriquecendo a área refeita, uma vez degradada.

A demanda por água, no caso das plantações de eucalipto, não é maior que a de outros cultivos nacionais, tampouco mais que a da Mata Atlântica ou da Floresta Amazônica, adaptando-se em regiões com até 400 mm de chuvas por ano, ou seja, regiões semiáridas. Níveis de precipitação entre 800 mm a 1.200 mm, entretanto, propiciam volume de água necessário aos plantios mais produtivos.

A ampliação das áreas plantadas, seja com eucalipto ou variedades na- tivas, irá sequestrar quantidades adicionais de carbono, reduzindo o efeito estufa e colaborando para a melhoria do microclima de certas regiões, em particular daquelas mais áridas. Estima-se que cada tonelada de madeira de eucalipto sequestre e fi xe, aproximadamente, 1,6 tonelada de CO2 ao longo de seu processo de formação. Há, portanto, espaço para que o Brasil se torne um hospedeiro de projetos de MDL (Mecanismo de Desenvolvimento Limpo). A demanda por terras agricultáveis para o plantio de espécies exóticas ou nativas, tudo o mais mantido constante, aumentará o preço da terra, mormente daquelas mais produtivas (sul da Bahia e Espírito Santo, no caso de eucalipto).

Os efeitos sobre o nível de emprego não são claramente defi níveis, pois dependerão da forma dos novos cultivos: se intensivos e mecanizados, nas áreas já exploradas, ou extensivos e manuais, em novas áreas. De qualquer modo, o aumento da área cultivada terá, pelo menos, efeitos positivos sobre os empregos indiretos.

O programa de fl orestamento/refl orestamento, embora possa criar con- dições de sustentabilidade para a produção de carvão e gusa, não garante, infelizmente, o fi m dos desmatamentos. Haverá, ainda, a demanda por madeira nativa para outros fi ns, e a fi scalização e as penas concomitantes deverão ser os fatores de contenção dos crimes contra o meio ambiente.

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