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CAPÍTULO II – LEGISLAÇÃO EDUCACIONAL ANTI-RACISMO

III. 3.1 Sujeitos da Pesquisa

A populaçãopesquisada, da qual se extraiu uma amostra de voluntários que se dispuseram a responder ao instrumento de pesquisa, constituiu-se de professores coordenadores de uma Diretoria Regional de Ensino, localizada na cidade de São Paulo. O trabalho buscou analisar a compreensão desses profissionais em relação ao ensino de história e cultura afro-brasileira e as possibilidades e limites abertos pela legislação educacional anti-racismo.

O posto de trabalho do professor coordenador pedagógico na modalidade como encontramos na rede de ensino básico da SEE/SP, foi implementado, pela primeira vez, com a Resolução no 28 da Secretaria de Estado de Educação de São

Paulo, de 4 de abril de 1996, cuja função pode ser sintetizada em: democratizar a escola por meio do trabalho coletivo e articular a unidade escolar com as diretrizes difundidas pelo sistema de ensino.

A modalidade estudada neste trabalho foi instituída em 3 de outubro de 2006, pela resolução nº 66 da SEE/SP (em anexo 4), que altera um pouco o documento anterior, pois mantém as normas organizacionais para credenciamento e admissão deste profissional na rede, mas redireciona responsabilidades, amplia apoio administrativo, o intercâmbio escola-comunidade, além enfatizar o envolvimento com o levantamento de índices de avaliações internas e externas.

Para tanto, esse profissional é admitido nas escolas estaduais da rede oficial do Estado de São Paulo quando há, na escola, 12 ou mais classes do ensino fundamental ou médio, em dois ou mais turnos, bem como em escolas de tempo

integral, onde, com o regime de 9 horas diárias e pelo menos 140 alunos matriculados e freqüentes, independe da quantidade de classes do ensino fundamental em funcionamento.

De acordo com a Resolução SEE/SP N˚ 66, de 03/10/2006, a contratação do professor coordenador passa pelas seguintes etapas:

I – O credenciamento obtido pela aprovação em processo promovido pela Diretoria de Ensino, que consistirá de uma prova escrita;

II – Apresentação de proposta de trabalho junto às escolas;

III – Seleção e a indicação, pelo Conselho de Escola, na unidade escolar, da melhor proposta de trabalho apresentada;

IV – A designação do docente indicado para o posto de Professor Coordenador, por ato de competência do Diretor de Escola, a ser publicado no Diário Oficial do Estado – D.O.E. (Resolução SEE-SP, n° 66/06, art. 4°).

Além dessas etapas, o professor que pretende exercer a função de professor coordenador pedagógico, para passar pelo processo seletivo, deverá preencher os seguintes requisitos:

I - Ser portador de diploma de licenciatura plena;

II – Contar, no mínimo, 3 (três) anos de experiência como docente da rede estadual de ensino;

III - Estar com vínculo docente na rede estadual de ensino, por ocasião da apresentação da proposta e da designação;

Parágrafo único - O docente readaptado poderá exercer as atribuições de Professor Coordenador na própria sede de exercício ou em outra unidade escolar, fazendo jus à remuneração correspondente com diferença entre a quantidade de horas de sua jornada/carga horária e a estabelecida na designação para o referido posto de trabalho, desde que, em qualquer caso, apresente prévia manifestação e autorização da C.A.A.S. da Secretaria da Saúde (Resolução SEE/SP, n° 66/06, art. 3°).

Devido ao perfil profissional, este sujeito de pesquisa tem a função de conduzir a proposta pedagógica como resultado de uma ação coletiva orientada pela Diretoria de Ensino e suas normas regimentais. Em se tratando da dimensão

específica, circunscreve-se em orientar o professor de educação básica no trato de questões pertinentes às competências formativas de cada aluno.

Desse modo, uma das funções do professor coordenador é fazer cumprir a Lei no 10.639/03, por meio da criação de atividades que contemplem a diversidade,

subsidiando os professores mediante formação continuada e com instrumentos que ampliem algumas condições de trabalho. Sendo assim, o professor coordenador orientará a formação contínua do professor e, ao fazer isso, transmitirá sua forma de compreender e interpretar o fazer pedagógico. A respeito da importância da formação continuada, afirma Borges (2007, p. 52) que

(...) a formação do professor não ocorre de forma linear, não se constrói por acumulação de conhecimentos, mas sim por meio de uma consciência crítica sobre a própria experiência e em interação não só com a comunidade escolar, mas também com outros seguimentos da sociedade. Contudo, para que a ação formativa tenha retorno efetivo no trabalho do professor em sala de aula, há necessidade de um acompanhamento sistemático desse esforço na relação teoria e prática, durante o processo de formação continuada.

No que diz respeito ao processo da formação continuada dos docentes, a Resolução da SEE/SP n° 66/2006 também prevê a importância da atuação do professor coordenador junto à equipe escolar, definindo os HTPCs como momentos privilegiados para esse fim, pois reúnem, semanalmente, os professores para discussão e reflexão sobre teoria e prática e o coordenador pedagógico pode aproveitar esta oportunidade de reflexão para trabalhar dentro de uma perspectiva multicultural.

III. 3.2. Critério de Escolha da Amostra

Os critérios de escolha da amostra foram estabelecidos visando atingir os objetivos da pesquisa, de conhecer a percepção do professor coordenador sobre o ensino de história e cultura afro-brasileira, identificar as dificuldades que o professor coordenador tem para colocar em prática os preceitos da legislação educacional anti-racismo, principalmente a Lei 10.639/03, e identificar como o professor coordenador compreende sua prática em relação à temática das discussões acerca da diversidade étnica.

De início, planejou-se questionar professores coordenadores de duas diretorias de ensino: uma da capital de São Paulo e outra de Marília, interior do Estado de São Paulo. A intenção era contrastar dados pertencentes a duas variáveis socioeconômicas e culturais diferentes. Contudo, a amplitude da proposta exigiria um tempo e uma estrutura que inviabilizaria a realização da pesquisa, o que fez redirecionar o trabalho para apenas uma diretoria.

Foi escolhida, então, uma diretoria de ensino da capital de São Paulo, porque apresentava maior facilidade de pesquisa, de acordo com as condições da pesquisadora, como questionar os professores coordenadores, por exemplo. A diretoria escolhida de inicio conferiu total apoio à pesquisa, colocando à disposição o responsável pela oficina pedagógica que comanda os trabalhos de todos os professores coordenadores. Definida a Diretoria de ensino foram utilizados os seguintes critérios para seleção da amostra:

a) Pertencer à Diretoria Regional de Ensino da cidade de São Paulo escolhida. Deve-se destacar que freqüenta o ensino público desta Diretoria uma população heterogênea e oriunda de vários países, bem como de diferentes estados do Brasil, com contextos sociais divergentes, ou seja, um ambiente onde exige uma educação multicultural;

b) Atuar em uma escola que atenda alunos do ensino fundamental, ciclo I. Optou-se por privilegiar o professor coordenador que trabalha em escolas com crianças de idade entre 6 e 10 anos, por considerar que a infância abrange uma fase importante para a formação e desenvolvimento do caráter do indivíduo, e

c) Interesse individual e institucional em participar da pesquisa, pois a imposição dificultaria a relação com os sujeitos de pesquisa, embora se saiba que a rejeição por si só, ou ainda, a forma como algumas respostas foram expressas, já se constitui em importante material de análise já que a freqüência desse tipo de reação pode ser analisada como um certo descompromisso com a temática racial no âmbito escolar.

Definidos os critérios para a constituição da amostra da pesquisa, foram escolhidos dez sujeitos para constituir amostra final, esses sujeitos são voluntários que responderam o questionário satisfatoriamente. Observa-se agora como ocorreu a coleta de dados.

III. 3.3. Coleta de Dados

Os dados desta pesquisa foram coligidos de duas fontes: 1°) Legislação referente ao ensino de história e cultura afro-brasileira; e, 2°) respostas dos professores coordenadores a um questionário elaborado de acordo com os objetivos de pesquisa (cf. modelo de questionário no anexo 5 e 6.)

III. 3.3.1 Legislação

A análise da legislação incidiu inicialmente sobre a Resolução determinante das normas de seleção, contratação e funções do professor coordenador.

Depois da análise da legislação federal anti-racismo, recentemente aprovada na área da educação, a presente pesquisa centrou-se na Lei nº. 10.639/03 que se configura no dispositivo legal de maior visibilidade em relação aos demais, ao estabelecer a obrigatoriedade do ensino de história e cultura afro-brasileira nos estabelecimentos de educação.

Os documentos analisados foram:

1. Lei nº 10.639/03 que altera a Lei nº 9394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional, para incluir no currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática história e cultura afro- brasileira (em anexo 1).

2. CNE/CP 03/2004, aprovado em 10/03/2004 - Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana. (em anexo 2).

3. Resolução nº 01, de 17 de junho de 2004 - Institui Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana; (em anexo 3)

4. Resolução SEE/SP nº 66, de 03 de outubro de 2006 - Dispõe sobre o processo de credenciamento, seleção e indicação de docentes para o posto de trabalho do professor coordenador; (em anexo 4).

A ordem dos documentos listada acima está organizada cronológicamente e não obedece à seqüência que aparece no texto.

Além desses documentos legais, foram tomadas como fonte as respostas do questionário aplicado a dez professores coordenadores e a análise dos acontecimentos durante a coleta de dados.

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