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3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

3.2 Sujeitos e campo de pesquisa

A fim de alcançarmos o nosso objetivo central, que é investigar como se constituem as práticas de revisão e de reescrita no processo de ensino-aprendizagem de produção de textos

escritos nos anos iniciais do Ensino Fundamental, entrevistamos professoras que lecionam nos 4º e 5º anos do Ensino Fundamental de uma escola da rede pública municipal do Recife, situada no bairro da Várzea, Escola Alegria do Saber4. Todas as etapas da coleta de dados desta pesquisa ocorreram após a aprovação do Projeto de Pesquisa no Comitê de Ética em Pesquisa da UFPE (cf. ANEXO 1). A escolha da referida instituição de ensino se deve ao fato de ser a escola onde a pesquisadora trabalha e para onde retornará, após a conclusão da pesquisa. Como o trabalho investigativo desenvolvido no Mestrado Profissional nos permite intervir na realidade em estudo, consideramos que a pesquisa por nós empreendida pode contribuir na mediação docente no processo de ensino-aprendizagem da escrita.

A unidade escolar em questão atende, em média, 430 (quatrocentos e trinta) estudantes, da pré-escola ao 5º ano do Ensino Fundamental. Apresenta boa estrutura física, com rampas de acesso para o segundo e terceiro pavimentos, favorecendo, desse modo, a mobilidade dos alunos com alguma limitação física. Conta com oito salas de aula; biblioteca com bom acervo; sala de recursos, na qual há atendimento dos alunos com deficiência, no contraturno; sala de tecnologia equipada com mesas interativas, tablets, material do lego; sala dos professores; uma cantina adequada para que os estudantes possam merendar, devidamente acomodados; um pátio com um minipalco, onde, geralmente, acontecem os eventos da escola. Todas as salas citadas apresentam condicionadores de ar, mas, devido à falta de manutenção periódica, nem todos funcionam. Em algumas salas de aula do terceiro pavimento está havendo um problema de infiltração e, quando chove forte, uma das professoras informantes costuma desenvolver a aula na biblioteca, por conta das goteiras.

Escolhemos o 4º e o 5º ano por entender que nesses anos do Ensino Fundamental se faz um trabalho mais constante e sistemático com a produção de textos escritos, se comparado com o desenvolvido nos anos que compõem o Ciclo de Alfabetização. A atenção dos professores do 1º ao 3º ano costuma concentrar-se na apropriação do sistema de escrita alfabética por parte dos educandos.

Antes de realizarmos as entrevistas com as professoras, apresentamos, em linhas gerais, a nossa intenção de pesquisa, a partir da leitura do Termo de Consentimento, conforme orientação do Comitê de Ética em Pesquisa. Das seis docentes que atuam no segmento selecionado, cinco aceitaram participar da pesquisa como informantes. Selecionamos duas professoras para a fase de observação. As duas educadoras escolhidas atuam no 5º ano do

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Por se tratar da instituição onde a pesquisadora trabalha e como a nossa finalidade não é expor a unidade de ensino, mas sim investigar as práticas de produção de textos escritos, mais especificamente as práticas de revisão e de reescrita, atribuímos à escola campo de pesquisa o nome fictício “Alegria do Saber”.

Ensino Fundamental e estão há dois anos lecionando nessa escola. Para a seleção adotamos os seguintes critérios: as professoras desenvolvem um trabalho sistemático com a produção de textos escritos; consideram as práticas da revisão e da reescrita importantes para o desenvolvimento da capacidade textual-discursiva dos estudantes.

Realizamos a entrevista semiestruturada a partir de um roteiro previamente elaborado (cf. ANEXO 2). O quadro a seguir apresenta o perfil das professoras informantes:

Quadro 2 – Perfil das professoras informantes

Sujeito Idade Formação Tempo de exercício da

docência Professora A 30 Licenciatura em Letras (2007) na

UNOPAR e Pedagogia (2016) na UVA; Especialização em Gestão Escolar (2011) na FACIPE.

15 anos

Professora B 39 Pedagogia (2003) na UFPE 7 anos

Fonte: A autora, 2018.

As entrevistas aconteceram no período de 09 a 26 de maio de 2017. A nossa intenção era, logo após a seleção das professoras, começarmos as observações, mas, devido ao calendário da campanha salarial organizado pelo Sindicato dos Professores (paralisações e greve), tivemos que adiar. Além disso, as próprias docentes informantes acharam por bem iniciarmos essa etapa de coleta de dados após o retorno do recesso escolar, porque estavam em processo avaliativo e de fechamento de unidade.

Observamos as aulas das duas professoras selecionadas, no período compreendido entre os dias 31 de julho e 1º de setembro de 2017, durante cinco semanas. Embora o nosso foco sejam as práticas de produção de textos escritos, sobretudo o trabalho com a revisão e a reescrita, consideramos pertinente observar todas as aulas de língua portuguesa do período delimitado, a fim de compreender o percurso metodológico das docentes no trabalho com a escrita; se os gêneros estudados na leitura eram os mesmos solicitados nas propostas de produção; e se havia uma relação entre a abordagem de questões de ordem gramatical e a atividade de elaboração de textos escritos.

3.3 Construção do corpus da pesquisa

Com a finalidade de alcançarmos o nosso objetivo geral, elencamos os seguintes objetivos específicos:

i) analisar que concepções de língua, texto e escrita permeiam a prática e o discurso dos professores;

ii) analisar o percurso metodológico adotado pelos docentes nas atividades de produção escrita;

iii) verificar que tipos de marcas interventivas esses professores realizam nos textos dos alunos e quais aspectos privilegiam na avaliação dessas produções.

Para tanto, realizamos, como já foi mencionado, uma entrevista semiestruturada, a qual foi gravada em áudio e, posteriormente, transcrita.

Segundo Bogdan e Biklen (1994), nas investigações qualitativas, as entrevistas podem ser utilizadas de duas formas: podem ser a estratégia predominante ou podem ser utilizadas aliadas a outras técnicas de coleta de dados, como a observação, a análise documental, entre outras. Nesta pesquisa, a entrevista foi utilizada a partir da triangulação com outras técnicas: a observação e a análise documental.

De acordo com os autores, a entrevista permite “ao investigador desenvolver intuitivamente uma ideia sobre a maneira como os sujeitos interpretam aspectos do mundo” (BOGDAN; BIKLEN, 1994, p. 134). As entrevistas realizadas com as professoras informantes, em conjunto com as demais técnicas citadas, favoreceu a captação de indícios de quais concepções de língua, texto e escrita subjazem à prática do ensino de produção de textos escritos, especialmente, as operações de revisão e de reescrita, bem como a compreensão do percurso metodológico adotado por elas.

O procedimento da observação ocorreu durante cinco semanas. Assistimos a todas as aulas de língua portuguesa ministradas pelas professoras informantes, Professora A (12 aulas) e Professora B (11 aulas). Para Lüdke e André (1986, p. 26), a observação, quando usada como principal método de coleta de dados ou aliada a outras técnicas, “possibilita um contato pessoal e estreito do pesquisador com o fenômeno pesquisado”, uma vez que o contato diário com os sujeitos permite ao investigador aproximar-se da “perspectiva deles” e tentar apreender os significados atribuídos por eles à realidade que os cerca e às suas ações.

A organização do horário na escola campo de estudo, assim como ocorre com a maioria das unidades de ensino que atendem aos anos iniciais do Ensino Fundamental, não segue um horário marcado por hora/aula. Geralmente, as docentes distribuem as disciplinas

em duas por dia e a divisão é marcada pelo horário do intervalo. Dessa forma, as aulas observadas tinham uma duração, em média, de 3 horas. Todas as aulas foram também audiogravadas, mas apenas as que abordavam o trabalho com a produção de textos escritos foram transcritas. Além da gravação em áudio, elaboramos notas de campo e realizamos conversas informais, para possíveis esclarecimentos sobre as atividades solicitadas. O quadro abaixo apresenta uma síntese das propostas de produção de textos escritos desenvolvidas por cada docente, no período de observação.

Quadro 3 – Propostas de produção de textos escritos desenvolvidas pelas professoras

Fonte: A Autora, 2018.

A Professora B também desenvolveu uma proposta de recontagem de livros literários, que teve início antes do nosso período de observação. Como não acompanhamos todo o desdobramento dessa atividade, decidimos não incluí-la em nossa análise.

Com o propósito de atingirmos o nosso terceiro objetivo específico, utilizamos também como corpus de nossa pesquisa as produções dos estudantes, sobretudo as que sofreram alguma marca interventiva das professoras informantes. Seguindo a orientação do Comitê de Ética, solicitamos aos responsáveis por essas crianças o consentimento, por meio do termo de autorização de participação em pesquisa de sujeitos menores de idade, para que tivéssemos acesso aos seus textos. Não obtivemos o consentimento dos responsáveis por duas crianças, uma aluna da Professora A e um aluno da Professora B. Por essa razão, os textos desses alunos não foram recolhidos nem analisados.

Como a maioria das produções escritas foi registrada nos próprios cadernos dos aprendizes, não foi possível fotocopiá-las. Optamos, dessa forma, pela fotografia. A turma da

5A própria Professora B intitulou essa atividade de produção como “reescrita”. No capítulo “Resultados”

esclarecemos o que a docente compreende por reescrita nesse exercício.

Professoras Propostas de produção de textos escritos

Professora A  Cartaz  Parlenda  Propaganda  Carta do leitor Professora B  Narrativa (história)  Diário  Anedota

 Reescrita5 de um texto moralizante  Literatura de cordel

Professora A era composta por 29 crianças (15 meninos e 14 meninas, uma delas com deficiência auditiva); e a turma da Professora B apresentava 24 estudantes (16 meninos e 8 meninas; entre os meninos, 3 com deficiência intelectual). Esses alunos com algum tipo de deficiência contam com o auxílio de estagiários e realizam atividades diferenciadas, com exceção da aluna da Professora A.

3.4 Procedimentos de análise

Analisamos, inicialmente, a primeira conversa que tivemos com as professoras informantes. Buscamos estabelecer relações entre o discurso dessas educadoras e o encaminhamento metodológico adotado por elas, nos momentos de intervenções orais e/ou escritas durante e após a produção textual, em busca de indícios de quais concepções de língua, texto e escrita estão subjacentes ao trabalho pedagógico realizado pelas docentes.

Em seguida, analisamos o percurso metodológico desenvolvido pelas professoras informantes para o ensino e aprendizagem da produção escrita. Para tanto, elegemos as seguintes categorias analíticas: i) explicitação das condições de produção; ii) etapas de elaboração textual (planejamento, revisão e reescrita); iii) abordagem didática dos gêneros textuais. Assim, observamos se as propostas de produção textual se assemelham aos contextos extraescolares de escrita, em que os elementos constitutivos da situação discursiva são levados em conta para a eficiência do processo interlocução (objetivos, destinatário, suporte, meio de circulação).

Também, verificamos se, ao trabalhar didaticamente os gêneros textuais, as docentes atentam para todas as suas dimensões ou privilegiam os aspectos formais, em detrimento dos semântico-discursivos. À luz, especialmente, de Sercundes (2011), observamos se as atividades de escrita têm um fim em si mesmas (escrita como consequência), ou são concebidas enquanto trabalho, no qual o texto é passível de ser revisto e aprimorado, a fim de que atenda, satisfatoriamente, aos propósitos para os quais foi produzido. Em nossa análise, alguns trechos das transcrições foram apresentados com a indicação da fala dos alunos com uma sinalização numérica. Entretanto, o número não corresponde ao mesmo aluno na aula em discussão, muito menos nas outras; apenas indica a mudança de turno entre os estudantes.

Por fim, descrevemos e analisamos as estratégias adotadas por cada professora para intervir nos textos dos alunos, tanto orais quanto escritas. No que diz respeito à análise documental, recolhemos 104 textos dos estudantes, dos quais 53 são dos discentes da

Professora A e 51, da Professora B. Para fins de estudo, enumeramos os textos da seguinte maneira: de 1 a 53, textos da turma da Professora A, e de 54 a 104, textos da turma da Professora B. Dessas produções textuais, analisamos apenas as que traziam algum tipo de marca interventiva, a partir das formas de correção propostas por Ruiz (2001): correção indicativa, resolutiva, classificatória e textual-interativa, e por Menegassi e Gasparotto (2016): textual-interativa tipo questionamento, apontamento e comentário.

Além de observar o tipo de marcação textual e/ou icônica no texto dos alunos produzidas pelas educadoras, verificamos a natureza dos problemas identificados, à luz de Jesus (2011), Suassuna (2014), Costa Val et al. (2009), entre outros, com a finalidade de percebermos se as professoras tomam o texto do aluno como uma proposta de sentidos ou destacam, predominantemente, problemas de ordem estrutural, gramatical. Para melhor visualização e entendimento dos objetivos, instrumentos e categorias analíticas, apresentamos a seguir um quadro sinóptico:

Quadro 4 – Síntese dos procedimentos metodológicos

Fonte: Autora, 2018.

Objetivos Instrumentos Categorias de análise

Analisar que concepções de língua e produção de texto permeiam a prática e o discurso dos professores-sujeitos desta pesquisa.  Entrevista semiestruturada;  observação de aula.

 Concepções de língua, texto e escrita.

Analisar o percurso metodológico adotado pelos professores- sujeitos nas atividades de produção escrita.

 Entrevista semiestruturada;  observação de

aula.

 Explicitação das condições de produção;

 etapas de elaboração textual (planejamento, revisão e reescrita);

 abordagem didática dos gêneros textuais.

Verificar que tipo de marcas interventivas esses professores realizam nos textos dos alunos e quais aspectos privilegiam na avaliação dessas produções.  Textos dos estudantes;  observação de aulas;

 Correção indicativa, resolutiva, classificatória e textual-interativa (questionamento, apontamento e comentário);

4 RESULTADOS

Neste capítulo expomos os resultados das análises do trabalho desenvolvido por cada professora informante no que se refere ao ensino da produção de textos escritos, separadamente. Iniciamos a nossa apresentação discutindo quais concepções de língua, texto e escrita subjazem à prática de ensino promovida por cada professora. Para tanto, procuramos estabelecer relações entre a entrevista inicial e a prática de sala de aula. Além disso, descrevemos e discutimos as propostas de produção de textos promovidas por elas; destacamos em quais condições os textos foram gerados e o percurso metodológico adotado; analisamos também o trabalho desenvolvido a respeito da revisão e da reescrita com os estudantes, sobretudo a partir das intervenções orais e das marcas interventivas nos textos dos aprendizes.

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