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CAPÍTULO 4 A LÓGICA DO CAMINHO TRILHADO

4.3 Sujeitos e instrumentais

Para esclarecer a lógica do pensamento, nesta pesquisa, apresenta-se o percurso metodológico adotado. Foi realizada a pesquisa documental, ou seja, consulta aos processos ou prontuários da Vara da Infância, boletins de ocorrência, relatórios quantitativos das medidas sócio-educativas, entre outros, para localização dos adolescentes, verificação do ato infracional e caracterização da medida sócio-educativa aplicada.

Os processos ou prontuários judiciais e boletins de ocorrência são documentos históricos e oficiais e o trabalho de análise destas informações compôs o procedimento metodológico da pesquisa, que também foi composta pela pesquisa bibliográfica (bibliotecas, artigos, internet, livros, jornais, entre outros) e pesquisa de campo (com diferentes atores das medidas sócio-educativas, juiz, promotor, defensor, delegado, gestores das medidas, adolescentes que cumpriram medida de internação ou meio aberto).

Para efeitos didáticos, o trabalho metodológico se desenvolveu a partir das seguintes etapas:

1º etapa: pesquisa documental: consulta de documentos, boletins de ocorrências,

prontuários;

2º etapa: pesquisa de campo: entrevista com diretor do cartório de menores e

conselheiro dos direitos das crianças e dos adolescentes;

3º etapa: pesquisa de campo: entrevista com os operadores dos sistemas: juiz,

promotor, delegado, gestores de medidas;

4º etapa: entrevista com os adolescentes.

Goldenberg (2007) explica que a pesquisa não se resume em procedimentos puramente metodológicos, mas também representa uma possibilidade de re(aprender-se) a olhar, ou seja, construir um olhar científico. O objetivo da pesquisa é encontrar outras leituras, ou olhares mais críticos sobre a realidade dada, o que qualifica como pesquisadores,

A lógica do caminho trilhado 115 diferenciando-os do senso comum. Goldenberg (2007) afirma, ainda, que a pesquisa social requer criatividade, disciplina, organização, modéstia, baseando-se no confronto entre o possível e o impossível, entre o conhecimento e a ignorância.

Na análise de Minayo (1998, p. 23) a pesquisa é um “processo de busca teórica constante [...] é uma aproximação sucessiva de realidade que nunca se esgota, fazendo uma combinação particular entre teoria e dados.”

Parte-se das considerações de Goldenberg (2007), quando ensina que a metodologia é o caminho possível para a pesquisa, cuja variação decorre do problema de pesquisa a ser estudado. Para este trabalho adota-se, como metodologia, a pesquisa qualitativa como ferramenta ou instrumental mais adequado ao estudo do objeto, as medidas sócio-educativas e a questão social.

A pesquisa qualitativa compreende um conjunto de técnicas interpretativas que visam descrever e decodificar os componentes de um sistema complexo de significados; traduzir e expressar os fenômenos do mundo social reduzindo a distância entre o indicador e o indicado, entre teoria e dados, entre contexto e ação. (MAANEN, 1979, p. 520)

Dessa forma, Minayo (1998, p. 68), para quem a lógica dialética explica a transformação, ressalta que:

Nada se constrói fora da história. Ela não é uma unidade vazia ou estática da realidade, mas uma totalidade dinâmica de relações que explicam e são explicadas pelo modo de produção concreto. Isto é, os fenômenos econômicos e sociais são produtos da ação e da interação da produção e da reprodução da sociedade pelos indivíduos.

Entre as técnicas de pesquisa qualitativa mais utilizadas, no âmbito das ciências sociais, destaca-se a entrevista como importante recurso para obter informações de interesse a uma investigação social. A entrevista possibilita a obtenção de dados referentes aos mais diversos aspectos da vida social, possui enorme flexibilidade, pois o pesquisador pode formular perguntas orientadas, com um objetivo definido, frente a frente com o respondente e dentro de uma interação social. As entrevistas estruturadas permitem ainda o tratamento quantitativo dos dados (estatístico também).

Neste tipo de pesquisa, os formulários se diferenciam na sua forma de aplicação, dos questionários. Nos formulários as perguntas são feitas pelo entrevistador, que indaga o entrevistado com um roteiro pré-estabelecido, já os questionários são preenchidos diretamente pelos próprios entrevistados.

Neste trabalho, para realização da pesquisa de campo, opta-se pelas entrevistas estruturadas a partir de formulários, com pré-determinação de questões, roteiro pré- estabelecido para atender os objetivos propostos. O leitor encontrará no final deste trabalho todos instrumentais utilizados nesta pesquisa nos Apêndices B, C, e D.

Minayo (1998, p. 102) chama a atenção sobre o cuidado na elaboração de cada questão, considerando que ela se apresente como pressuposto ao marco teórico desenhado na construção do objeto. Quanto à amostragem, sugere a autora, na pesquisa qualitativa o critério não deve ser numérico, “a amostra ideal é aquela capaz de refletir a totalidade em suas múltiplas dimensões.”

Sabe-se que a entrevista estruturada apresenta uma relação padronizada e fixa de perguntas (formulário), cuja ordem e redação permanecem invariáveis para os entrevistados ou sujeitos do mesmo segmento.

No caso desta pesquisa os formulários utilizados, variaram de acordo com os sujeitos entrevistados envolvidos nas medidas sócio-educativas. Foram realizados quatro tipos de formulários: um para recuperar a história das medidas (conselheiros de direitos e diretor da Vara da Infância), outro foi aplicado junto aos responsáveis pela aplicação das medidas (judiciário, promotoria, defensoria, delegacia), um terceiro para a realização da entrevista com os gestores e outro, ainda, para entrevistar os adolescentes que cumpriram medida sócio- educativa.

É importante justificar e esclarecer quem são os sujeitos da pesquisa. Foram escolhidos como sujeitos, diferentes atores sociais ligados direta ou indiretamente ao objeto de estudo, cujas representações sociais, sobre o sistema de garantia de direitos dos adolescentes em conflito com a lei, podem contribuir significativamente na ampliação do entendimento, da aplicabilidade, da eficiência e da eficácia das medidas sócio-educativas. São os sujeitos-atores que compõe a rede de atenção aos adolescentes em conflito com a lei:

sistema de segurança, sistema de justiça e sistema de medidas sócio-educativas. Foram convidados os sujeitos-atores com formação técnica, liderança e ações concretas na defesa dos direitos sociais, que se diferenciaram pela sua participação e luta no Conselho de Direitos da Criança e do Adolescente, em Araraquara ou, ainda, porque em virtude do cargo que ocupam poderiam auxiliar na coleta de informações sobre o surgimento e funcionamento das medidas sócio educativas.

A lógica do caminho trilhado 117 As representações sociais significam a reprodução de uma percepção anterior ou do conteúdo do pensamento. Em ciências sociais são consideradas como categorias do pensamento, de ação e de sentimento que expressam a realidade, explicam-na, justificando-a ou questionando-a [...] as percepções são consideradas consensualmente importantes, atravessando a história e as mais diferentes correntes do pensamento social.

Para realizar as entrevistas, foi fundamental desde início considerar os aspectos éticos e metodológicos para a seriedade e legitimidade da pesquisa. Inicialmente foi solicitada autorização por escrito à Vara da Infância e Juventude, Policia Civil e gestores das medidas para realização do estudo.

Os diferentes atores das medidas sócio-educativas ao assinarem o termo de autorização, foram previamente convidados e esclarecidos sobre a importância da sua participação e os objetivos da pesquisa, para a comunidade, para o pesquisador e particularmente a importância da colaboração pessoal do entrevistado, especialmente os adolescentes em cumprimento de medida (Apêndice D).

Foi ainda aplicado um pré-teste em uma amostra dos sujeitos a serem entrevistados. Todas as entrevistas foram agendadas com antecedência, via comunicação telefônica, deixando claro o caráter confidencial das informações prestadas e do anonimato. As entrevistas forma gravadas e transcritas posteriormente para analise de conteúdo das falas.

A fim de selecionar os adolescentes a serem entrevistados com autorização do poder judiciário realiza-se um sorteio aleatório (Apêndice E). A partir daí, o cartório de menores forneceu uma lista grande com todos os nomes e endereços para que se realizassem os contatos e os convites necessários.

No caso dos adolescentes em regime de internação, egressos da medida, foi fornecida uma lista com 36 nomes de adolescentes. Entrevistá-los representou uma grande dificuldade, pois foram realizadas visitas, contatos telefônicos e apenas 4 adolescentes desta listagem inicial foram localizados.

Houve certo medo, desconfiança e resistência das famílias em fornecer informações sobre o paradeiro do adolescente egresso do sistema de internação. Quando se conseguia falar com o próprio adolescente, ainda havia problema na compreensão e aceitação da proposta de pesquisa. Resolve-se, então, visitar a unidade de internação com autorização judicial e entrevistar os adolescentes, entretanto isso não foi permitido pela direção.

Por fim foram entrevistados, no total, 12 adolescentes (3 adolescentes de cada medida sócio educativa: PSC, LA, Semi liberdade, Internação), 4 gestores das medidas, 1 juiz, 1

promotor e 1 delegado, 1 diretor do cartório de menores, 1 conselheira do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e Adolescente.

A partir do material coletado, foram analisados os conteúdos de cada entrevista. Na análise dos conteúdos das entrevistas encontraram-se algumas categorias fundamentais para responder a inquietação sobre as medidas sócio-educativas. Posteriormente, buscou-se, a partir dessas categorias e significados comuns, encontrar nexos de sentido entre esses elementos estabelecendo conexões entre as falas dos sujeitos e o objeto de pesquisa.