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Capítulo 3 – Metodologia

3.1. Sujeitos do grupo de estudo

A seleção dos sujeitos a incluir no grupo de estudo, isto é, com a condição de perturbação de linguagem primária (PLP), teve em conta, entre outros, os parâmetros e critérios definidos para o estabelecimento do diagnóstico diferencial com outras perturbações da linguagem (conforme descrito na seção 2.1.1.), nomeadamente:

 Idade entre os 3A6M e 6A6M;

 Apresentar como língua materna o PE e ser monolingue;

 Apresentar alterações de linguagem (pelo menos 1,5 DP abaixo da média para a idade na componente de compreensão e/ou expressão);

 Apresentar uma audição normal (limiar auditivo igual ou inferior a 20 dB, nas frequências testadas);

 Não apresentar défice cognitivo;

 Não apresentar evidências de lesão neurológica ou perturbação da interação com pessoas ou objetos;

 Não apresentar alterações da estrutura e função oral.

3.1.1. Identificação dos sujeitos

A identificação dos sujeitos foi conseguida a partir de pedidos de colaboração através da rede de contactos de terapeutas da fala (TF) da Universidade de Aveiro e do contacto direto com jardins- de-infância da região de Aveiro e Coimbra. Nesta última situação, o processo iniciou-se com o contacto à direção do agrupamento, com entrega do pedido de autorização para realizar a identificação de possíveis sujeitos e sua avaliação linguística (Formulário de Consentimento ao Órgão da Direção da Instituição – anexo 5). Após aprovação do agrupamento, era realizado o contacto direto com as educadoras do jardim-de-infância, onde lhes era transmitido, de uma forma geral, os objetivos do estudo e as características da população alvo. A par da identificação dos sujeitos, eram contactados os seus encarregados de educação e agendada uma reunião de forma a transmitir e esclarecer os objetivos e procedimentos do estudo.

Os encarregados de educação de todas as crianças avaliadas, mesmo as que acabariam por não participar no estudo por não cumprirem algum dos critérios, autorizaram as avaliações/participação da criança no estudo, assinando uma declaração de consentimento (Formulário de Consentimento para os Encarregados de Educação – anexo 6).

Os mesmos procedimentos, junto dos encarregados de educação, foram realizados quando os sujeitos eram identificados por TF em contextos particulares (consultórios ou IPSS).

3.1.2. Materiais e instrumentos utilizados na identificação dos sujeitos

Para a confirmação dos critérios de inclusão e exclusão recorreu-se, numa primeira fase, à avaliação da componente linguística e se necessário também da motricidade oro-facial, para despiste de eventuais alterações. Estas avaliações foram realizadas pela autora do estudo, normalmente em contexto natural da criança (escola ou casa). Na presença de dificuldades de linguagem e ausência de défices oro-motores, os sujeitos eram encaminhados para uma avaliação auditiva e cognitiva (QINV). Estas avaliações foram realizadas por um audiologista e uma psicóloga que colaboraram no estudo e decorreram no Laboratório de Fala, Linguagem e Audição (SLHlab) da Universidade de Aveiro.

3.1.2.1. Avaliação Linguística

A avaliação da linguagem foi realizada pela aplicação do Teste de Avaliação da Linguagem na Criança (TALC), de Kay e Tavares (2007) , tratando-se este de um teste formal, estandardizado para as crianças falantes do PE (entre os 2A11M e os 5A11M). É um teste que apresenta uma boa fiabilidade, apresentando valores de consistência interna (medida a partir do α de Cronbach) para os totais da compreensão de 0,84 e para os de expressão de 0,90.

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A escolha deste teste de avaliação justifica-se, então, pelo facto: de permitir a obtenção de uma medida quantitativa e fidedigna para o funcionamento linguístico e, consequentemente, permitir a utilização do critério de inclusão com base no desvio-padrão; de avaliar um conjunto considerável de competências linguísticas, realizando uma distinção entre a componente compreensiva e expressiva da linguagem (o que permite a identificação de perfis distintos de perturbação linguística); de se tratar de um instrumento estandardizado para a faixa etária envolvida no estudo.

3.1.2.2. Avaliação Auditiva

O rastreio auditivo consistiu na obtenção de alguns informações relacionadas com a história clínica do foro auditivo e antecedentes otológicos, na realização de uma otoscopia para visualização do canal auditivo externo e membrana timpânica e exame audiométrico, que avaliou a audição bilateralmente nas frequências de 250, 500, 1000, 2000, 4000 e 8000 Hz. Estas avaliações foram realizadas por um audiologista e decorreram nas instalações do SLHlab da Universidade de Aveiro.

3.1.2.3. Avaliação Cognitiva

Os desempenhos cognitivos não-verbais foram registados pela aplicação da Escala de Inteligência de Wechsler para a Idade Pré-Escolar e Primária – edição revista (WPPSI-R), estandardizada para as crianças portuguesas (Seabra-Santos, 2006). Estas avaliações foram realizadas por uma psicóloga, com prática na aplicação do teste, e decorreram nas instalações do SLHlab da Universidade de Aveiro.

3.1.2.4. Anamnese

Foi realizada uma breve entrevista aos pais (ou cuidadores) das crianças utilizando, para tal, o Protocolo de Anamnese de Linguagem na Criança da Universidade de Aveiro12, disponível em acsa.web.ua.pt. O objetivo principal deste procedimento consistiu na recolha de informação relativa, principalmente, à história pré e perinatal, história clínica e desenvolvimento psico-motor e social, de forma a confirmar alguns dos critérios (por exemplo, a ausência de algum quadro ou episódio clínico que pudesse ser justificativo da alteração de linguagem manifestada). Na tabela do anexo 7 apresenta-se, de forma resumida, os principais dados recolhidos na anamnese.

3.1.2. Caracterização do grupo de estudo

Este estudo integrou um total de 20 crianças (6 identificadas e avaliadas pela autora – PC, BA, RP, RS, MP e VN - e as restantes 14 integrantes do grupo de estudo da Tese de Doutoramento de Lousada (2012)) com idades compreendidas entre os 3 anos e 8 meses e os 6 anos e 7 meses (idade média de 61,25 meses ± 11,67), monolingues e falantes nativas do PE. Verificou-se que nos sujeitos identificados existia um maior número de crianças do sexo masculino (15), o que é congruente com os dados da literatura que indicam uma maior incidência da PLP neste sexo (Leonard, 1998; Tomblin, et al., 1997).

Na tabela 2 apresentam-se alguns dados pessoais, demográficos e relativos às avaliações realizadas, dos sujeitos do grupo de estudo.

Tabela 2 – Dados pessoais, demográficos e relativos às avaliações realizadas, dos sujeitos do grupo de estudo.

Criança Idade Sexo Distrito Linguagem Audição13 QINV

Compreensão Expressão

PC 6A6M M Coimbra Normal <1,5 DP Normal 92

BA 5A10M F Aveiro Normal <7,5 DP Normal 84

12

Protocolo de Anamnese de Linguagem na Criança da Universidade de Aveiro (Processo INPI 465220 com despacho de concessão em 27/8/2010, inserido no Boletim da Propriedade Industrial Número 2010/08/31 (168/- 2010); Deferimento pela IGAC em 2/06/2010)

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RP 4A10M M Coimbra Normal <3 DP Normal 109

RS 5A1M M Aveiro Normal <5 DP Normal 114

MP 3A7M M Aveiro Normal <5 DP Normal 111

VN 3A8M M Coimbra Normal <3,5 DP Normal 109

AD 4A2M F Viseu Normal <8 DP Normal 82

AM 5A4M M Aveiro Normal <3 DP Normal 66

AP 6A3M M Coimbra Normal <8 DP Normal 66

CA 4A2M F Aveiro Normal <2 DP Normal 117

DG 5A3M M Aveiro Normal <3 DP Normal 87

DM 6A7M M Aveiro Normal <1,5 DP Normal 109

FP 6A3M M Coimbra Normal <8 DP Normal 66

JC 6A5M M Aveiro Normal <5 DP Normal 63

LA 5A2M F Aveiro Normal <4 DP Normal 83

MR 4A F Aveiro Normal <3 DP Normal 89

MS 4A M Aveiro Normal <3 DP Normal 85

RF 4A9M M Aveiro <1.5 DP <4 DP Normal 84

RM 5A4M M Aveiro Normal <3 DP Normal 62

TM 4A11M M Aveiro <2 DP <4 DP Normal 116

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