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SUJEITOS NULOS DE ACORDO COM O ÍNDICE NÚMERO-PESSOAL NA MORFOLOGIA VERBAL

O sujeito nulo no português moçambicano

SUJEITOS NULOS DE ACORDO COM O ÍNDICE NÚMERO-PESSOAL NA MORFOLOGIA VERBAL

Índice número-pessoal no

verbo N. absoluto % pesos relativos

1ª pessoa do singular 577/1053 54,8 0,48 2ª pessoa do singular 21/23 91,3 0,90 3ª pessoa do singular 425/789 53,9 0,41 1a pessoa do plural 276/392 70,4 0,64 3a pessoa do plural 215/336 49,5 0,56 TOTAL 2593

No que concerne à primeira pessoa do plural, a desinência –mos é bastante comum – 392 ocorrências – sendo que 70,4% das ocorrências foram com sujeito nulo. Entre esses casos, a desinência co-ocorre com o a gente em diversas entrevistas:

(95) A gente ainda não chegamos ao ponto de encontrar (MZ6)

(96) A gente nasce, cresce, seguimos a orientação dos pais, o que diz os adultos. (MZ9)

(97) É lá onde a gente vai nos finais de semana...em conjunto com os irmãos...honramos a Deus...agradecemos de tudo que ele nos tem feito durante toda a semana. (MZ8)

Além da frequência mais alta, a desinência –mos pôde ser encontrada amplamente na fala de todos os informantes, mesmo entre os menos escolarizados. Já o

que a estratégia mais comum para a expressão da primeira pessoa do plural seja de fato a marca morfológica –mos, acompanhada ou não de um pronome.

O paradigma flexional da amostra analisada apresenta todas as formas identificadas no PE (com exceção do morfema da segunda pessoa do singular vós, que também não é tão usual no português europeu contemporâneo). Com a alta taxa de concordância observada, conforme será mostrado mais adiante, o licenciamento e identificação de sujeitos nulos, tal como no português europeu, estariam de fato em plena atividade no sistema do PM L2, pelo menos à primeira vista.

No entanto, o surgimento de possibilidades que não aparecem na língua-alvo – como, por exemplo, o uso do você com o morfema de segunda pessoa do singular e a ausência da marca de número na terceira pessoa do plural – nos levam a algumas reflexões sobre os rumos que o português pode tomar no seu processo de nativização em Moçambique: todas as formas verbais se manterão e o estatuto pro-drop se assemelhará ao do português europeu ou poderá emergir um sistema mais próximo ao do português brasileiro? A emergência na amostra de possibilidades não existentes no PE seria um indicativo da direção que o sistema caminhará ao longo do processo de nativização do português?

Analisando os pesos relativos, podemos perceber que a forma que mais favorece ao sujeito nulo é a segunda pessoa do singular, seguida da primeira do plural e terceira do plural. Infelizmente, pelo tipo de coleta que foi realizado – ou seja, entrevistas sociolinguísticas tipo DID – o número de ocorrências de segunda pessoa é baixo, o que impede de tirarmos conclusões mais precisas e generalizações mais fidedignas sobre o panorama geral demonstrado pelo paradigma. No entanto, se esses dados forem representativos da fala não monitorada dos moçambicanos, é plausível considerar que o PM está sendo relativamente bem sucedido ao reproduzir as marcas flexionais da língua-alvo. Em termos qualitativos, contudo, o paradigma mostra alguns sinais de simplificação, o que torna incerto o quadro que irá emergir do processo de nativização.

2.4.2 Traço [± animado]

Seguindo a ordem de relevância, o programa selecionou o traço [± animado] para o referente do sujeito como um dos mais significativos na ocorrência de sujeitos nulos. Os resultados obtidos foram:

SUJEITOS NULOS E O TRAÇO [± animado]

Traço do sujeito N. absoluto % p. relativos

+ animado 1349/2375 56,8 0,47 - animado 165/218 75,7 0,75

TOTAL 2593

Sabemos que as línguas de sujeito nulo canônicas tendem a rejeitar o uso de pronomes pessoais quando os referentes são seres não animados. Como os referentes com traço [-animado] são essencialmente uma terceira pessoa do discurso – ou seja, algo do qual os interlocutores falam, e não um dos interlocutores – o referente pode ser facilmente recuperado no discurso. Quando a recuperação não é possível por meio do sujeito nulo, as línguas canonicamente pro-drop como o italiano preferem usar os demonstrativos ou indefinidos (Cf. Di Eugenio, 1996), que também não foram estratégias muito frequentes na amostra analisada.

No PB, referentes com traço [-animado] também apresentam altas taxas de sujeitos nulos. Em termos comparativos, contudo, os falantes brasileiros preenchem mais a posição de sujeito nesses casos do que os de PE, visto que o morfema da terceira pessoa é o mais sincrético do sistema e pode denotar, inclusive, um sujeito nulo indeterminado, forma inovadora que não está presente na variedade europeia (Galves 1987).

Os dados levantados por Duarte (1995) mostram que no PE os sujeitos com traço [- animado] apresentam uma taxa de nulos de 93%, ainda que o contexto ofereça restrições à recuperação desse sujeito no discurso, como por exemplo, a interpolação de elementos que acabem por gerar um distanciamento desse sujeito com orações posteriores. Duarte afirma que o traço [-animado] e as sentenças encaixadas nas quais o sujeito é correferente ao sujeito da sentença matriz seriam de fato as maiores características dos sujeitos nulos nas línguas do tipo do italiano e, por isso, apresentam índices tão altos de não realizações pronominais.

Nesse mesmo estudo, Duarte aponta que a taxa de sujeitos nulos com traço [- animado] é de 44% na fala carioca, ou seja, menos da metade do que foi visto nos dados com o PE. Mais uma vez, os dados analisados no presente trabalho mostram que o sujeito nulo do PM mostra um comportamento que parece estar no meio do caminho entre o PB e o PE.

Duarte (1995) afirma que, em línguas como italiano e espanhol, a recusa a pronomes sujeitos com traços [-animado] é ainda maior que no português europeu. A existência de 7% de sujeitos pronominais explícitos com esse traço na amostra do PE por ela analisada (totalizando 5 ocorrências) pode ser um indício de que esse seria um “ponto frágil do sistema”. Nesse sentido, o processo de mudança no PB poderia ter se iniciado a partir de contextos desse tipo. Especificamente para o PM, fica aqui a mesma questão levantada na seção anterior: no que diz respeito a taxas de frequência com sujeitos nulos [+ animados] e [- animados], o processo de nativização da língua dará lugar a um sistema mais próximo do português europeu ou do português brasileiro?

2.4.3 Regularidade morfológica do verbo

Os números obtidos em função da caracterização do verbo como regular ou irregular foram os seguintes: