2. O PROBLEMA DE ALOCAÇÃO DAS PERDAS DE
2.6 Sumário
Com a implantação do livre acesso à rede para os usuários do sistema, é necessário repensar os mecanismos físicos e financeiros da compensação de perdas de transmissão, de forma a se oferecer alternativas de análises e soluções para este problema.
Dado que, no novo ambiente da indústria de energia elétrica, a busca pela eficiência técnica e econômica, global e individual é comum a todos os agentes do mercado, e considerando que, a utilização do sistema de transmissão incorre em custos que devem ser pagos por estes mesmos agentes, faz-se necessária a elaboração de técnicas que permitam atribuir a cada um dos participantes do mercado, a responsabilidade devida pelo uso dos serviços de transmissão, e a partir disto, lhe ser cobrado um preço razoavelmente justo por tal uso.
Dentre estes custos da utilização da transmissão, destaca-se o custo devido às perdas no sistema. Trata-se de um problema não trivial, devido principalmente à característica de comportamento não linear das perdas. O problema da alocação destas perdas é o tema principal deste trabalho.
No próximo capítulo, serão apresentadas e descritas as metodologias mais conhecidas na literatura, no que se refere ao problema da alocação das perdas ativas de transmissão, tanto para o mercado Pool quanto para o modelo de Contratos Bilaterais.
METODOLOGIAS PARA ALOCAÇÃO DAS
PERDAS DE TRANSMISSÃO
3.1 Introdução
O problema de alocação das perdas do sistema ganhou uma maior importância a partir da reestruturação da indústria de energia elétrica, quando os custos pelos serviços de transmissão passaram a ser contabilizados separadamente ao custo devido a geração de potência ativa.
Este problema mostra-se de significativa consideração, visto que, o custo devido às perdas presentes no sistema representa uma significativa cifra de milhões de dólares. Isto exige a elaboração de metodologias que permitam alocar as perdas de transmissão e os seus custos entre os agentes do sistema, com o intuito de que a competitividade seja mantida.
Vários métodos vêm sendo propostos na literatura para resolver o problema de alocação das perdas de transmissão. Todavia, ainda não existe um consenso geral, sobre o melhor método a ser seguido, uma vez que, todos possuem algum tipo de arbitrariedade [Vasconcelos, 2005].
Os resultados obtidos a partir da alocação de perdas podem ter uma grande influência nos custos, nos lucros e nas decisões dos participantes do mercado de energia elétrica, visto que, podem ser utilizados como sinalizadores de investimentos em pontos específicos do setor. Podem ainda influenciar a eficiência econômica das empresas e a operação do sistema [Vasconcelos, 2005].
A principal dificuldade para se encontrar um método que seja eficiente e justo, deve-se principalmente ao comportamento não-linear das perdas ativas de transmissão na ocorrência de alguma modificação na operação do sistema [Conejo, 2001], [Conejo, 2002], [Expósito, 2000]. Em [Conejo, 2001] e [Fang, 2002], são fornecidos alguns critérios, com base nos quais devem ser desenvolvidos os métodos para a alocação de perdas, a saber:
• O método deve ser capaz de analisar o impacto de cada participante do mercado nas perdas considerando sua relativa localização de demanda na rede;
• Deve evitar ocorrências de subsídios cruzados, ou seja, situações em que a parcela da perda atribuída a uma barra com elevada demanda de potência, porém localizada próxima a um parque gerador, é maior do que aquela atribuída à barras que, mesmo como reduzida demanda de potência, contribuem mais acentuadamente para o aumento das perdas totais em função de sua localização no sistema;
• Ser consistente com a solução do fluxo de carga; • Evitar ou reduzir aproximações;
• Ser simples, e fácil de entender e implementar.
Esses critérios permitiriam aos métodos de alocação atingir o objetivo de distribuir, entre geradores e cargas, a responsabilidade pelas perdas no sistema de transmissão de forma equilibrada e eficiente.
3.2 Princípios para uma Alocação Ideal de Perdas
Considerando-se que a alocação das perdas de transmissão pode ser feita por meio de diversas metodologias, e que estes resultados influenciam diretamente na eficiência global do mercado, servindo de sinais econômicos utilizados para incentivar uma melhor utilização da rede, torna-se então conveniente dispor de princípios fundamentais que possibilitem efetuar uma comparação entre estas diversas metodologias. Apresentam-se a seguir, os grandes princípios julgados como fundamentais.
Objetividade, transparência e simplicidade.
O método deve basear-se em dados objetivos da rede e não conter simplificações excessivas em relação à operação dos sistemas elétricos, implicando que cada método respeite as leis físicas que regem tais sistemas. Visto que a rede de transmissão é utilizada por distintas entidades, a transparência nas metodologias de alocação de custo é essencial. O método deve ser simples e fácil de compreender de forma a permitir a qualquer agente do mercado efetuar o seu cálculo para estudar situações futuras. Deve ainda ser transparente, o que implica que os dados utilizados nos cálculos sejam conhecidos e facilmente verificados por todos.
Eficiência econômica
A eficiência econômica implica que, os resultados da alocação reflitam os custos econômicos reais, tendo ainda em consideração a necessidade de se evitar situações de subsídio cruzado. O método deve permitir o envio de sinais econômicos capazes, não só de incentivar consumidores e produtores em regime especial a localizarem-se em locais mais favoráveis para o sistema (que conduzam a menores perdas globais), mas também tendentes a incentivar os investimentos na rede. Nota-se que o método deve condicionar a utilização de novos usuários da rede, além de desencorajar decisões não econômicas dos usuários já existentes, por meio da transmissão de sinais econômicos adequados. Os sinais econômicos enviados devem fazer-se sentir, quer nos consumidores e produtores em regime especial, quer nos distribuidores, uma vez que os custos influenciam a forma como os primeiros utilizam a rede e também a forma como os distribuidores a exploram e a mantêm.
Retorno suficiente
O método deve garantir o retorno do valor global das perdas, embora evitando o retorno excessivo. Este princípio procura garantir a viabilidade financeira da
empresa detentora da rede física de distribuição, bem como permitir os investimentos necessários ao seu funcionamento em condições técnico-econômicas adequadas.
Igualdade e não discriminação
O método deve promover a igualdade entre os utilizadores da rede nas mesmas circunstâncias.
Estabilidade
O método deve promover a estabilidade dos custos a suportar por cada utilizador da rede e por conseqüência a estabilidade do preço de energia. Em outras palavras, o método não deve contribuir para uma excessiva volatilidade dos preços de energia.
Consistência
O método deve ser consistente, ou seja, fornecer resultados consistentes em diferentes situações de funcionamento do sistema.
Aplicabilidade em mercados abertos
O método deve permitir a sua aplicação de forma correta a sistemas elétricos com caráter competitivo, ou seja, o método deve ser politicamente implementável.