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2. O Nordeste e o desenvolvimento desigual

2.3. Superintendência para o Desenvolvimento do Nordeste – SUDENE

Em Dezembro de 1959, foi aprovada a nova autarquia federal foi criada a Superintendência para o Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE). De acordo com a Lei nº 3.692/59 a concepção original tinha as seguintes características: em primeiro a autoridade vinculada ao Presidente da República, a quem se reportaria o Superintendente, de forma direta; a legitimidade, com a colaboração dos Governos Estaduais; e a excepcionalidade administrativa, conforme observado no Quadro 2.

A agência era composta por Conselho Deliberativo e uma Secretaria Executiva. Ao primeiro foram atribuídas ações junto ao Presidente e ao segundo foram

conferidas a elaboração dos programas e a coordenação junto a outros órgãos. O Brasil dinâmico e em modernização intensa dos tempos de JK aprofundava o hiato entre o Centro Sul e o Nordeste. A SUDENE foi criada com o intuito de mudar a forma e o conteúdo da ação do Governo Federal na região, foi concebida com este objetivo, ganhando renome internacional (ARAÚJO, 2000).

Com essas características a agência estava apta a cumprir suas atribuições. Inicialmente, planejar ou estabelecer as diretrizes da Política de Desenvolvimento do Nordeste; encaminhar ao Presidente da República o projeto do I Plano Diretor e suas respectivas revisões; coordenar a execução dos programas e projetos e designar seus membros e comissões; cooperar e dar assistência aos programas e executar os mesmos diretamente ou através de convênios (REN, 1997).

Segundo Araújo (2000), a atuação da SUDENE está baseada em quatro grupos de atividades, que podem ser expressas resumidamente:

Capacitação técnica e organizacional – baseada no desenvolvimento das atividades na preparação de recursos humanos; coordenação técnica e financeira com Estados e Municípios;

 Área de informação e documentação – trabalho voltado para o recobrimento cartográfico regional: investigação dos recursos naturais e estruturais da sociedade;

 No setor de política e programação – as atividades foram concentradas na planificação das transformações estruturais na região. Coordenação e supervisão de programas e projetos integrados; coordenação dos programas de defesa civil;

 Área de execução de obras e serviços – planejou e coordenou ações voltadas para o fortalecimento da base econômica do Nordeste. Como consequência surgiu o Programa de Apoio ao Pequeno Produtor Rural (PAPR), as Centrais de Abastecimentos (CEABS), o Programa de Desenvolvimento do Turismo no Nordeste (PRODETUR) e os Serviços de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE).

QUADRO 2 – CONCEPÇÃO ORIGINAL DA SUDENE

Fonte: SUDENE, 1990.

Na época de sua criação, o Nordeste tinha uma população de 22 milhões de habitantes e índices sociais explosivos. A Região correspondia a 31% da população brasileira, participava com 13% da renda nacional e tinha renda per capita de 43% inferior a média do País (MOREIRA, 1979).

A SUDENE seria o primeiro órgão permanente de planejamento regional brasileiro, e passaria a atuar sobre uma área de 1.760 Km², equivalentes a 20,6% do território brasileiro, englobando o Nordeste, o Vale do Jequitinhonha e o norte de Minas Gerais e o norte do Espírito Santo. Os nove Estados do Nordeste, que ocupam uma área de 1.561.177,8 Km², 18,3% do território nacional, são: Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia (MOREIRA, 1979).

Portanto, caber-lhe-ia o papel de induzir, de forma veloz, o tão sonhado desenvolvimento, promovendo a industrialização, capaz de efetivar a substituição de importações inter-regionais. Para isso dois fatos eram decisivos: primeiro, contar com o apoio da empresa privada nacional e, segundo, com a convergência das medidas dos governos estaduais (MOREIRA, 1979).

1) Características

a) AUTORIDADE (Vinculada ao Presidente da República); b) LEGITIMIDADE (Colaboração intergovernamental); a

c) EXCEPCIONALIDADE ADMINISTRATIVA (Autonomia e instrumentalização complementar e específica).

2) Atribuições

a) PLANEJAMENTO (Informação e política);

b) COORDENAÇÃO (Articulação de atuação federal);

c) COOPERAÇÃO E ASSISTÊNCIA (Apoio técnico e financeiro); d) EXECUCAÇÃO (Direta e/ou indireta).

3) Composição

a) CONSELHO DELIBERATIVO (Instância política e decisória); b) SECRETARIA EXECUTIVA (Instância técnica e operativa).

Para Maranhão (1982), a aprovação da lei de criação da SUDENE pelo congresso em dezembro de 1959, foi um triunfo político para Juscelino Kubitscheck e para Celso Furtado.

Com a criação da SUDENE, o Governo Federal equipou-se para formular a sua política de desenvolvimento no Nordeste dentro das diretrizes unificadas. Os investimentos federais serão agora submetidos a critérios de essencialidade, consubstanciados num Plano Diretor, a ser apresentado pelo Sr. Presidente da República ao Parlamento Nacional, que poderá assim exercer o seu trabalho crítico da forma mais fecunda (FURTADO, 1989, p. 81).

A fim de sistematizar os trabalhos e assegurar-lhes a continuidade de ação, a SUDENE passou a operar em função de planos plurianuais, denominados Planos Diretores de desenvolvimento econômico e social do Nordeste. O planejamento do desenvolvimento do Nordeste foi exercido na sua plenitude através dos quatro Planos Diretores: I PD [1961-1963], II PD [1963-1965], III PD [1966-1968], IV PD [1969- 1973] (SUDENE, 1990).

O I Plano Diretor teve sua estrutura assentada, principalmente, no diagnóstico da economia nordestina. A sua política foi orientada para criação da infraestrutura econômica, aproveitamento racional dos recursos de água e recursos minerais, reestruturação da economia agrícola, colonização, racionalização do abastecimento, industrialização, saúde pública, educação de base e levantamento cartográfico (SUDENE, 1980).

No II Plano Diretor a preocupação da SUDENE foi a de promover investimentos na construção de habitações populares.

No III Plano Diretor realizou-se um considerável avanço quanto ao equacionamento dos problemas que envolviam a elevação dos padrões de vida da população, o objetivo era valorizar a mão-de-obra e promover o desenvolvimento.

No IV Plano Diretor, a industrialização alcançou maior grau de unidade, decorrente da formulação que tinha como principais objetivos: a consolidação do parque industrial, a elevação do nível de produtividade de empresas tradicionais da região e a implantação e diversificação do parque de manufaturas regionais (SUDENE, 1980).

Vale salientar que os planos diretores colocados em prática seguiam uma diretriz comum: promover o desenvolvimento regional, norteados pelo diagnóstico

elaborado pelo GTDN. Sobre esse aspecto, Maranhão (1982) afirma que uma das características comuns de todos os quatro planos é a crença na validade do diagnóstico da economia regional elaborado pelo GTDN, que acabou por se constituir no único modelo analítico para a elaboração de tais documentos. É notável, entretanto, como a despeito disto às estratégias propostas pelos quatro Planos Diretores se afasta das diretrizes gerais proposta pelo Relatório do GTDN. Como consequência, é quase impossível identificar a este nível a recalescência no Nordeste de uma política particular, seja de desenvolvimento industrial, desenvolvimento agrícola ou migrações.