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Superior Tribunal de Justiça

5.2 Jurisprudência dos Tribunais Superiores

5.2.1 Superior Tribunal de Justiça

O tema já não desperta tanta controvérsia em sede do Superior Tribunal de Justiça. Tanto a quinta quanto a sexta turma mostram-se favoráveis à investigação direta pelo Ministério Público. Nesse sentido, já foi até mesmo editada a Súmula nº 234, que apesar de não cuidar diretamente do tema, já sugere a orientação adotada pelo Superior Tribunal de Justiça.

O enunciado da Súmula nº 234 de 13/12/1999, dispõe:

A participação de membro do Ministério Público na fase investigatória criminal não acarreta o seu impedimento ou suspeição para o oferecimento da denúncia.

Consolidou-se o reiterado entendimento de que a participação do membro do Ministério Público na investigação não o torna impedido ou suspeito para ofertar a denúncia. O que se asseverou foi que a investigação por parte do Ministério Público é uma atribuição que emana da própria Constituição e o seu exercício não pode culminar no impedimento ou suspeição dos seus membros, até mesmo porque a tarefa investigatória é um dos consectários da própria titularidade privativa da ação penal pública.

Embora, a possibilidade ou não do Ministério Público investigar diretamente não seja o ponto central do enunciado, este parte da premissa de que seria plenamente possível a prática de atos investigatórios pelos membros que compõem a instituição.119

119 Em que pese algum entendimento contrário na doutrina como pode ser visto na interpretação do

enunciado feita por Renato Stanziola Vieira, o qual assegura: o teor da súmula 234 do STJ não atrapalha a colocação de limites à atuação do Ministério Público. Afinal, se pelo sim, pelo não, cogita-se de algum “poder implícito”, a tal “poder” corresponde o limite (explícito) sob pena de soçobrar o Estado de Direito. Participação na fase investigativa criminal, diz a súmula; nunca presidência. Quem participa não preside e

Assim afirma Paulo Rangel, ao analisar os precedentes que deram origem a súmula:

À primeira vista pode parecer que a súmula refere-se à suspeição ou impedimento, única e exclusivamente, no sentido de não estar impedido o membro do Ministério Público de oferecer denúncia em face dos indiciados, se participou na fase das investigações. Porém, pesquisando os acórdãos que deram origem à súmula, verifica-se que todos se referem às investigações criminais diretas pelo Ministério Público que, diante das informações colhidas, formou sua opinio delicti e ofereceu denúncia. Os acusados impetraram Habeas Corpus e o Superior Tribunal de Justiça denegou todos os pedidos, e diante das reiteradas arguições120, editou a súmula.121

Também é este o entendimento sufragado em julgamentos mais recentes sobre a matéria, o que evidencia ainda mais o tratamento dado à matéria no âmbito do Superior Tribunal de Justiça.

No Habeas Corpus nº 83.020/RS julgado em 18/12/2008, o Ministro Og Fernandes foi categórico ao afirmar validade dos atos investigatórios levados a cabo pelo Ministério Público:

PENAL E PROCESSO PENAL. HABEAS CORPUS. POLICIAL CIVIL. EXTORSÃO. DESCLASSIFICAÇÃO. CONCUSSÃO. MINISTÉRIO PÚBLICO. INVESTIGAÇÃO. LEGITIMIDADE. INQUÉRITO. AÇÃO PENAL. NULIDADE. INEXISTÊNCIA. MEMBRO DO MINISTÉRIO PÚBLICO. IMPEDIMENTO. SÚMULA 234/STJ. APLICAÇÃO. CRIMES FUNCIONAL E NÃO FUNCIONAL. RITO PROCESSUAL. ORDINÁRIO. ART. 514 DO CPP. APRECIAÇÃO EM OUTRO WRIT. PREJUDICIALIDADE. CONDENAÇÃO. FALTA DE PROVAS. MATÉRIA FÁTICO-PROBATÓRIA. APRECIAÇÃO INVIÁVEL. VIA INADEQUADA. ILICITUDE DAS PROVAS. NÃO CONSIDERADAS. DECISÃO GENÉRICA. INEXISTÊNCIA.

1. A jurisprudência assente nesta Corte é no sentido de que, em princípio, são válidos os atos investigatórios realizados pelo Ministério Público, cabendo- lhe ainda requisitar informações e documentos, a fim de instruir os seus procedimentos administrativos, com vistas ao oferecimento da denúncia. 2. "A participação de membro do Ministério Público na fase investigatória criminal não acarreta o seu impedimento ou suspeição para o oferecimento da denúncia" (Súmula n.º 234/STJ).

3. A plena defesa e o contraditório, como é cediço, são reservados para a fase processual, posto que o procedimento administrativo inquisitorial constitui mera peça informativa.

[...]

9. Ordem parcialmente conhecida e, nessa extensão, denegada. DJe: 02/03/2009.

não substitui outra autoridade, mas esforça-se para não desnaturar a função de controlar externamente o trabalho da polícia judiciária. Vieira, Renato Stanziola. Ainda, investigação criminal direta do Ministério Público: poder implícito ou limite explícito? Proposta de novo enfoque. Boletim IBCCRIM nº 199, junho/ 2009. Acessado em 20 de novembro de 2013.

120 HC nº 4074-2, de 28/11/1994, HC nº 6.662 de 27/04/1998, HC nº 7.445 de 01/12/1998, HC nº 9.023 de

08/06/1999, entre outros anteriores a dezembro de 1999, data de confecção do enunciado sumulado.

Corrobora esse entendimento a Ministra Laurita Vaz em decisão proferida no dia 23/09/2008 em sede de Habeas Corpus nº 94.810/MG, in verbis:

HABEAS CORPUS. CRIMES DE AMEAÇA E ATENTADO VIOLENTO AO PUDOR COMETIDOS CONTRA VÍTIMAS MENORES. MINISTÉRIO PÚBLICO. PODERES DE INVESTIGAÇÃO. LEGITIMIDADE.

1. Não tendo havido por parte do Ministério Público a presidência de inquérito policial propriamente dito, esse, sim, exclusivo das autoridades policiais, mas, tão-somente a realização de diligências investigatórias, necessárias ao exercício de suas atribuições de

dominus litis, não se verifica qualquer ilegalidade a ser reparada na

espécie. É que tal atribuição decorre de expressa previsão constitucional (art. 129, incisos VI, VIII, da Constituição Federal), oportunamente regulamentado no art. 8º, incisos II e IV, e § 2º, da Lei Complementar n.º 75/93.

2. Ademais, além da competência da polícia judiciária não excluir a de outras autoridades administrativas (art. 4º, parágrafo único, do Código de Processo Penal), a atuação do Parquet também não encontra adstrição à existência do inquérito policial, podendo até ser dispensado, quando já existirem elementos suficientes para embasar a ação penal.

3. Precedentes desta Corte.

4. Ordem denegada. DJe 13/10/2008.

Por fim, essa também é a posição adotada pelo Ministro Arnaldo Esteves Lima no julgamento de Recurso Especial nº 610.072/MG no dia 30/10/2008, in verbis:

RECURSO ESPECIAL. PENAL E PROCESSUAL PENAL. PREQUESTIONAMENTO. INEXISTÊNCIA. INVESTIGAÇÃO REALIZADA PELO MINISTÉRIO PÚBLICO, SEM PARTICIPAÇÃO DA POLÍCIA JUDICIÁRIA. POSSIBILIDADE. PRESCRIÇÃO PELA PENA EM PERSPECTIVA. IMPOSSIBILIDADE. RECURSO NÃO-CONHECIDO.

[...]

2. O Ministério Público, por expressa previsão constitucional e legal, possui a prerrogativa de instaurar procedimento administrativo de investigação e conduzir diligências investigatórias, podendo requisitar diretamente documentos e informações que julgar necessários ao exercício de suas atribuições de dominus litis .

[...]

4. Recurso especial não-conhecido. DJe: 24/11/2008.

Visto o posicionamento do Superior Tribunal de Justiça passa-se agora ao exame da jurisprudência do Supremo Tribunal Federal.

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