• Nenhum resultado encontrado

SUPERVISÃO

No documento DISSERTACAO (páginas 46-50)

PARTE I ENQUADRAMENTO TEÓRICO

5. SUPERVISÃO

5.1. Conceito e finalidades da supervisão. Papel do Supervisor

Na revisão da literatura surgem diversas definições do conceito de supervisão, Glickman, (1985,citado por Formosinho, 2002, p.23) define-a como “a função da escola que promove o ensino através da assistência directa a professores, desenvolvimento curricular, formação contínua, desenvolvimento de grupo e investigação-ação”. Alarcão & Tavares, (2003, p.16) define a supervisão de professores “como o processo em que um professor, em princípio mais experiente e mais informado, orienta um outro professor ou candidato a professor no seu desenvolvimento humano e profissional.” Alarcão (1995, p.144) considera que:

a supervisão tem como objetivo produzir inovação, ou seja, construir práticas e saberes mais adequados aos problemas e aos desafios com que os profissionais se confrontam no decurso das suas interações nos contextos educativos, mas é simultaneamente o processo de inovar, pelas possibilidades de transformar e de criar alternativas, que se constitui no motor da própria supervisão.

A supervisão no contexto da formação de professores é definida por Vieira, (1993, p.28) como uma “actuação de monitoração sistemática da prática pedagógica, sobretudo através de procedimentos de reflexão e de experimentação.” Para esta autora os processos centrais da supervisão são a reflexão e a experimentação e as funções do supervisor serão informar, questionar, sugerir, encorajar e avaliar.

A função de supervisão e o papel do supervisor têm evoluído desde os anos 80 sendo agora a supervisão um processo reflexivo crítico, orientado para o desenvolvimento profissional dos professores e para promover a autonomia do aluno, sendo o supervisor considerado como um “ecologista social”. O papel do supervisor tradicional e do supervisor numa pedagogia para a autonomia encontra-se caracterizado no Quadro 6.

47

Quadro 6

Papéis do supervisor numa pedagogia para a autonomia (transcrito de M. Moreira, 2004, p.141)

A supervisão tem, assim, como objetivo principal o aconselhamento e a melhoria da comunicação e cooperação nas organizações e é uma forma específica de formação contínua. Trata-se de um processo com um sentido regulador não só dos processos de ensino aprendizagem como também no desenvolvimento qualitativo de uma organização. Segundo Alarcão & Roldão (2010, p. 54), o processo de supervisão tem a função de apoiar, regular o processo formativo e tem como consequência preparar os professores para “a actuação em situações complexas a exigir adaptabilidade; a observação crítica; a problematização e a pesquisa; o diálogo; a experienciação de diferentes papéis; o relacionamento plural e multifacetado; o autoconhecimento relativo a saberes e práticas.”

Alarcão et. al., (2003) consideram ainda que aos supervisores numa escola reflexiva compete: dinamizar comunidades educativas; privilegiar culturas de formação centradas na identificação e da resolução de problemas específicos de escola, num contexto de metodologia de investigação-ação; acompanhar a formação e integração dos novos agentes educativos; fomentar a auto e heterosupervisão; colaborar na conceção no projeto de desenvolvimento da escola; colaborar no processo de autoavaliação institucional, colaborar no processo de monitorização do desempenho de professores e funcionários e dinamizar atitudes de avaliação dos processos de educação e dos resultados de aprendizagem obtidos pelos alunos.

O supervisor, para desempenhar estas funções, deverá ter um conjunto de conhecimentos como: conhecimento contextualizado da escola como organização; conhecimento dos membros da escola e das suas características como indivíduos e como grupos; conhecimento das estratégias de desenvolvimento institucional e profissional; conhecimento dos fenómenos inerentes à aprendizagem; e conhecimento de metodologias de avaliação da qualidade e conhecimento das ideias e das políticas sobre educação. (Alarcão et.al.,2003)

PAPÉIS DO SUPERVISOR

Tradicionalmente... Numa Pedagogia para a Autonomia…

Orientador/perito “científico e pedagógico - didáctico”

Gestor de formação Observador principal Avaliador privilegiado (…)

“Perito alargado” em didáctica de…e supervisão (e investigação)

Facilitador do ensino e da investigação para uma PA: negociador, co-gestor, co-experimentador, co-observador, co- avaliador…

“Investigador” em supervisão (e em pedagogia) (…)

48 A supervisão não é um processo meramente técnico porque envolve trabalhar com pessoas, factos e contextos e requer do supervisor capacidades reflexivas, comunicativas, relacionais, analíticas, interpretativas e de avaliação. Os objetivos da supervisão não se atingem de uma só vez e por isso este processo é “uma ação multifacetada, faseada, continuada e cíclica” (Alarcão et. al.,2003, p.80)

A metáfora do caleidoscópio permite definir melhor o processo de supervisão. Segundo Vieira (2006) encontra-se representada no Quadro 7.

Quadro 7

Comparação entre as imagens do caleidoscópio e o conceito de supervisão (Vieira 2006 p.9)

Caleidoscópio Supervisão

As imagens do caleidoscópio dependem, do número e da posição dos espelhos, e do número, forma e cor dos elementos que neles se refletem

Princípios éticos e conceptuais da supervisão como a colegialidade na relação supervisiva ou a articulação entre reflexão profissional e autonomia dos alunos Espelhos

Práticas de desenvolvimento e qualificação profissional a experimentação, a reflexão crítica, a observação, a narrativa

Padrão que resulta da reflexão Padrão que resulta da reflexão dos princípios nas

práticas

Configuração que produz as imagens Configuração específica numa dada situação

Alarcão et. al., (2003, p.80) consideram cinco fases no ciclo da supervisão “a) encontro pré-observação; b) observação propriamente dita; c) análise de dados; d) encontro pós-observação”.

Formosinho (2002, p.24) considera que “a supervisão detém três funções específicas: (1) melhorar a instrução, (2) desenvolver o potencial de aprendizagem do educador e (3) promover a capacidade da organização de criar ambientes de trabalho autorrenováveis”.

Alarcão et. al.,(2010, p. 55) consideram que a focagem da supervisão é a reflexão acerca da prática, através de várias estratégias como sejam: “a) demonstração; b) atuação; c) observação; d) reflexão analítica e crítica; e) envolvimento em projetos; f) avaliação; g) organização de dossiers e portfólio em contextos de acompanhamento personalizado e em grupo com forte presença de questionamento crítico e feedback formativo.”

Embora a supervisão seja um conceito que tem estado em Portugal confinado à orientação da prática pedagógica na formação inicial de professores e educadores, este conceito também pode ser aplicado a outros contextos como sejam a formação contínua de supervisores, e a formação pós-graduada de professores /supervisores em supervisão.

O processo de supervisão é complexo e tem uma dimensão transversal e horizontal que se focaliza não só no professor como em toda a organização da escola. De acordo com

49 Formosinho (2002, pp.142-147) podemos distinguir os vários modelos distintivos da prática de supervisão.

Acerca do modelo se supervisão clínica (Formosinho, 2002, p.142 cita Swyder,1988:262-263) refere que “…Quase todas as variações do modelo de supervisão clínica envolvem uma relação diádica, reunião de pré-observação, observação focada na sala de aula análise seguida de uma reunião de pós-observação para feedback e planeamento com o objetivo de melhorar a instrução. ”Alarcão et.al., (2003, p.118 citam Smyth) e afirmam que ao contrário dos outros modelos de supervisão que atuam de fora para dentro, “este modelo atua de dentro para fora pondo o acento na observação reflexão do próprio ensino e na colaboração e entreajuda dos colegas”. Estes autores consideram ainda que este modelo não deve ser usado na formação inicial mas sim na formação contínua e por isso junta o conceito de supervisão clínica ao de formação contínua.

No entanto, Sergiovanni e Starratt (1993, citado em Tracy, 2002 e em por Neves 2007) apresentam os benefícios e perigos que advêm dos modelos de supervisão sob a forma da metáfora de janelas e muros. Segundo estes autores as janelas ajudam a expandir a visão das coisas e a solucionar problemas enquanto os muros, neste caso os modelos de supervisão servem para nos limitar.

50

No documento DISSERTACAO (páginas 46-50)