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2 REVISÃO DE LITERATURA

2.15 L IPÍDIOS

2.15.3 Suplementação lipídica e consumo voluntário

Em nutrição animal, o consumo de alimentos é fundamental, pois determina o nível de nutrientes ingeridos e, por conseguinte, o desempenho animal (Van Soest, 1994). O consumo voluntário de alimentos é a quantidade de alimentos ingerida por um animal ou um grupo de animais durante um período de tempo no qual eles têm livre acesso ao alimento (Forbes, 2007).

O hipotálamo é a área do cérebro associada ao consumo de alimentos. Estímulos na área lateral do hipotálamo são responsáveis pelo início da alimentação, já a área ventromedial inibe o consumo. Outras áreas do cérebro também parecem estar relacionadas à ingestão de alimentos, e o controle central do consumo deve ser regulado pela interação entre as diferentes áreas (Forbes, 2007).

Algumas teorias têm sido propostas a fim de explicar o controle do consumo em mamíferos. Hipóteses simples foram postuladas, nas quais somente um único fator (distensão estomacal, temperatura hipotalâmica, concentração sanguínea de glicose ou reserva de lipídios, entre outras) é responsável pelo controle do

consumo, entretanto não são satisfatórias. Desta forma se faz necessário combinar fatores metabólicos e físicos, que interagem para o controle do consumo de alimentos (Forbes, 2007).

Os animais se alimentam a fim de satisfazer suas exigências de energia, a não ser que fatores limitantes impeçam que isto ocorra, sendo que o ambiente é o fator mais comumente considerado (Forbes, 2007).

Nos mamíferos, os lipídios dietéticos são absorvidos preferencialmente pelo sistema linfático e, por isso, sobrepassam o fígado. Infusões intravenosas de emulsões lipídicas deprimem o consumo e este efeito não é acompanhado pelo aumento da concentração de glicose ou insulina (Forbes, 2007).

A colecistoquinina (CCK) é um hormônio intestinal secretado durante a alimentação e passagem da digesta pelo duodeno. Fortes evidências revelam que a CCK é um importante limitante do consumo. Os receptores envolvidos na resposta à CCK estão presentes no cérebro, mas também no estômago, estimulando sua contração e, por meio disso, ativando mecanorreceptores que enviam a informação ao sistema nervoso central, via nervo vago (Forbes, 2007). Em ruminantes, existe um atraso entre a alimentação e a chegada do alimento ao duodeno, local de produção da CCK. Desta forma, a CCK poderia ser menos importante nestes animais do que em animais monogástricos. Entretanto, o aumento dose-dependente de CCK ao fornecer diferentes quantidades de lipídios na dieta de vacas tem sido observada três horas após a alimentação, dando suporte para o envolvimento deste hormônio no controle do consumo em ruminantes (Forbes, 2007), principalmente em dietas ricas em lipídios (Choi et al., 2000).

O aumento no teor energético das dietas pode ser obtido pela inclusão de lipídios, com a vantagem de reduzir os efeitos negativos de altas quantidades de concentrados, ricos em amido, sobre o ambiente ruminal. Porém, o uso de suplementos de lipídios pode diminuir a ingestão de alimentos e reduzir a digestibilidade dos outros ingredientes da dieta, devido à modificações na digestão ruminal e hidrogenação de ácidos graxos no rúmen (Doreau e Chilliard, 1997).

Maia et al. (2008) avaliaram a inclusão de 3 e 5% de óleo de licuri ou óleo de mamona na dieta de cabras mestiças Moxotó em lactação, recebendo feno de capim Buffel e palma forrageira como volumosos (57% da MS da dieta). O teor de extrato etéreo foi de 3,17% na dieta controle, 5,8% nas dietas contendo 3% de suplemento lipídico e 7,56% nas dietas contendo 5% de suplemento lipídico. O consumo de matéria seca (CMS) (kg/dia) foi de 2,26 na dieta controle, 2,03 na dieta contendo 3% de óleo de licuri, 1,73 na dieta contendo 5% de óleo de licuri, 2,13 na dieta contendo 3% de óleo de mamona e de 1,95 na dieta contendo 5% de óleo de mamona. A inclusão de óleo de licuri reduziu o CMS nos dois níveis de inclusão avaliados (P<0,05). Já a inclusão de óleo de mamona reduziu o CMS somente na dieta contendo cinco% de inclusão do suplemento (P<0,05).

Neste mesmo estudo, os pesquisadores relacionaram as possíveis causas da redução do consumo. Primeiramente pelo efeito do lipídio de reduzir a digestibilidade da fibra e em reduzir a taxa de passagem gastrointestinal da digesta, como consequência de seus efeitos negativos sobre o crescimento microbiano, principalmente de bactérias celulolíticas, podendo estar relacionado ao aumento da secreção de colecistoquinina decorrente da presença de ácidos graxos insaturados na digesta. E, por último, o efeito do tamanho da cadeia de ácidos graxos, uma vez que o óleo de licuri possui, predominantemente, ácidos graxos de cadeia curta e média, até 12 carbonos (caprílico, láurico e mirístico), que podem ter efeito mais significativo sobre a fermentação ruminal do que aqueles de cadeia longa presentes no óleo de mamona (predominantemente ricinoleico e linoleico).

Oliveira et al. (2007) estudaram o efeito da inclusão de óleo de soja ou de soja grão integral na dieta de novilhos bubalinos Murrah. As dietas suplementadas continham 5,54% (soja grão integral) e 6,21% (óleo de soja) de extrato etéreo. Os CMS (kg/dia) foram de 8,62, 8,30 e 7,64 para as dietas controle, contendo grão de soja integral e óleo de soja, respectivamente. Houve redução do CMS nas dietas suplementadas com lipídios.

A suplementação com lipídio protegida (sabão cálcico de óleo de palma), semente de linhaça inteira ou semente de girassol inteira na dieta de vacas em lactação foi avaliada por Petit et al. (2004). As dietas suplementadas continham de 6,2 a 6,7%

de extrato etéreo enquanto a dieta controle somente 3,6%. O uso de lipídio na dieta não afetou o CMS dos animais, apresentando média de 21,7 kg/dia.

Em condições de temperatura efetiva elevada, acima da zona termoneutra, ocorre redução do consumo de alimentos com o objetivo de reduzir a produção de calor associada à alimentação, digestão, absorção e metabolismo, a fim de prevenir o aumento excessivo da temperatura corporal (Forbes, 2007). Nessas condições, a suplementação da dieta com lipídios pode ser utilizada, desde que o incremento pelo calor de lipídios é mais baixo e a densidade energética mais alta, comparado a carboidratos e proteínas. Desta forma é possível aumentar a ingestão de energia em ambientes quentes (West, 1999; Palmquist e Mattos, 2006).

Knapp e Grummer (1991) avaliaram o efeito da inclusão de 5% (MS) de um suplemento lipídico composto de 60% de ácidos graxos de cadeia longa e 40% de sebo para vacas em lactação, com produção entre 31 e 45 kg de leite/dia, em câmaras climatizadas mantidas em termoneutralidade (20,5ºC, 38% de umidade relativa do ar) ou estresse pelo calor (31,8ºC, 56% de umidade relativa do ar). A dieta em avaliação continha 6,8% de ácidos graxos e a dieta controle somente 2,8%. Os pesquisadores verificaram que o CMS foi superior para os animais mantidos em ambiente termoneutro em relação àqueles em condições de estresse pelo calor (20,1 x 14,6 kg/dia). Houve uma redução de 27,4% no CMS dos animais devido ao estresse pelo calor. Entretanto, não houve diferença no CMS devido à inclusão de lipídio na dieta, tanto em ambiente termoneutro como de estresse pelo calor.

Moallem et al. (2010) estudaram o efeito da suplementação com grãos ou com lipídio sobre o desempenho de vacas leiteiras em condições de estresse pelo calor durante 11 semanas. Neste período, a temperatura máxima e mínima foi de 31,5 e 22,9 ºC, respectivamente, e a umidade relativa do ar máxima e mínima de 86,6 e 50,4%. O CMS foi menor (P<0,001) para os animais que receberam qualquer uma das suplementações em relação à dieta controle. Segundo os autores, a maior densidade energética das dietas suplementadas, acima de 1,78 Mcal/kg de MS, deve ter sido responsável pelo menor consumo dos animais. Neste mesmo estudo, devido à redução de CMS, houve redução do consumo de energia metabolizável e energia líquida para lactação (Mcal/dia) para os animais

que receberam grãos ou lipídios como suplemento da dieta. Entretanto, os animais que receberam lipídios canalizaram a energia para produção de gordura do leite e alcançaram a maior produção de leite corrigida para 4% de lipídio entre os tratamentos.

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