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Suporte familiar como rede de apoio

No documento Memórias musicais em pessoas idosas (páginas 97-100)

6. ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS

6.4. I NTERPRETAÇÃO F ENOMENOLÓGICA DAS E NTREVISTAS

6.4.6. Suporte familiar como rede de apoio

A família, quando estruturada, constituí um alicerce estável no percurso de vida dos seus elementos, permitindo que fortes ligações emocionais perdurem. No sentido de

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conhecer a perspetiva dos participantes acerca deste tema, foi colocada a seguinte questão, que apela a uma comparação entre passado e presente.

 Que diferenças podem existir entre as famílias que conheceu no passado e as famílias do presente?

Tendo em conta que a dinâmica familiar tem vindo a sofrer alterações ao longo do tempo foi possível recolher as seguintes narrativas:

e1: “As famílias dispersam-se. As famílias atuais dispersam-se um pouco”.

e2: “No passado eram mais unidas do que agora, no presente. Agora as pessoas até nem é só nas famílias, até mesmo na vizinhança. (…) Hoje ninguém se cumprimenta. As pessoas vivem num prédio e não se falam, não conhecem as pessoas do prédio. Não falam umas para as outras”.

e3: “Hoje em dia tenho a sensação, não interprete mal o que vou dizer, que os pais comportam-se mais, em relação aos filhos, como amigos do que como pais. E um pai é pai”.

e4: “Tenho que aceitar a diversidade. Tenho que conseguir adaptar-me à nova situação. O que há hoje é uma evolução muito grande, positivamente”.

e5: “Antigamente, a gente tinha muito respeito pelas pessoas mais velhas, respeitávamos muito e fazíamos tudo o que elas mandavam. Hoje, já não é assim, cada um faz o que quer. E mesmo que os pais os mandem fazer outra coisa eles fazem como querem, não obedecem. E nesse tempo, a gente não faltava ao respeito dos pais”. e6: “Pois, as diferenças aqui… antigamente as pessoas, primeiro que tudo, não se espalhavam como se espalham agora. Ficavam! Os filhos ficavam trabalhando junto dos pais ou muito perto dos pais, isto até ao 25 de Abril. Depois, daí tudo mudou e hoje já não digo os filhos, já falo nos netos que já não têm tempo, acabou o tempo… Nós tínhamos tempo, eu tive os meus pais comigo até Deus os levar e hoje não há tempo, nem tão pouco para os ir levar ao lar. Já não digo de os ir lá visitar, de os ir lá levar. Pegam no telemóvel e chamam a ambulância (olhe)6 (.)4 vão levar os meus pais ao lar que eu quando puder vou lá vê-los, e isso marca-me muito…”.

No geral, todos os entrevistados referem uma diferença que marca negativamente as famílias de hoje, ao referir que os seus elementos vivem mais distantes uns dos outros, havendo menos tempo para momentos em família. No geral, os participantes associam este

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facto a um maior número de casos de abandono dos idosos e, portanto, de maior solidão ao longo do processo de envelhecimento. O fenómeno de globalização contribuiu, por outro lado, para o desenvolvimento de cidades mais heterogéneas com alterações a vários níveis: político, social, económico, cultural e religioso.

Na 6.ª entrevista (e6), ficou patente a ideia de não haver tempo para a família, pelo facto dos elementos se dispersarem, em consequência da maior mobilidade e do ritmo frenético em que as pessoas vivem atualmente. Na 5.ª entrevista (e5), é levantada a questão da falta de respeito dos mais novos para com os mais velhos, algo que era impensável acontecer antigamente.

Na 3.ª entrevista (e3), é feita uma análise sobre a relação que se estabelece entre pais e filhos hoje em dia. É referido que a relação estabelecida tem vindo a sofrer alterações evoluindo no sentido de uma relação de amizade (de igual para igual), o que poderá colocar em causa a autoridade enquanto pais e possivelmente o respeito pelos mesmos. Na 4.ª entrevista (e4), é feita referência ao facto de haver uma evolução positiva da família ao longo do tempo, havendo por parte do participante motivação para de adaptar às mudanças. Enquanto uns entrevistados orientam as suas respostas para os aspetos positivos das transformações da família contemporânea, outros preferem realçar os aspetos negativos, diferenças que resultam das experiências de vida de cada um.

Em relação ao tema da solidão nas pessoas idosas, sabe-se que é um problema recorrente, o qual merece toda a atenção. Atualmente, existem histórias de solidão entre as pessoas mais velhas e é recorrente notícias de filhos que não obedecem aos pais ou que os maltratam. Posto isto, foi necessário colocar a seguinte questão:

 Conhece algum caso deste tipo?

Perante esta questão, as respostas obtidas foram do seguinte teor:

e1: “Bom está um pouco diferente, diferente5. Está diferente e porquê? A Cátia hoje

está aqui e o seu trabalho hoje está aqui, mas se não houver tem de ir para outro lado”. e2: “Não, mas sei que há. Eu de perto não conheço. (…) Choca-me. Choca-me muito5.

Antigamente, mesmo que fossem pobres, dava-se sempre valor aos mais velhos de uma maneira diferente que hoje não se dá, era o avô e respeitava-se. Hoje, não há grande respeito dos mais novos para com os mais velhos”.

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e4: “Não. Nem lá e nem cá (...). É muito mau, muito mau4,7. Infelizmente é... acho que

é verdade. Não tenho dúvidas que isso acontece, mas é muito mau”. e5: “É triste haver este... (.)3 certas solidões. É triste! Agente tem pena...”.

e6: “Não, felizmente, não conheço. Ainda bem que não conheço… porque eu não suportava”.

Nenhum entrevistado declarou conhecer pessoalmente casos de solidão, abandono ou maus tratos a pessoas idosas. Porém, confirmam ter ouvido falar deste tipo de casos, manifestando tristeza e revolta face a estes acontecimentos. Devido à maior vulnerabilidade das pessoas idosas é mais provável que venham a experienciar a solidão. O aparecimento de limitações físicas e psíquicas conduz a uma maior pré-disposição ao isolamento social, sendo a perda de alguém próximo, a distância física da família ou a ausência de amigos fatores que contribuem para que a pessoa idosa se sinta cada vez mais sozinha, devido a ausência de uma rede de suporte.

No documento Memórias musicais em pessoas idosas (páginas 97-100)

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