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3. TRANSTORNOS MENTAIS E COMPORTAMENTAIS EM

3.4. Suporte Social, Rede Social e Saúde

A literatura aponta que a produção do conhecimento sobre suporte social deu seus primeiros passos a partir dos anos 50, pós- guerra, e tomou forma através dos estudiosos preocupados em sua conceituação como, Caplan (1976), Cobb (1976), Barrera (1981), Antonucci e Jackson (1990) entre outros, como cita Campos (2004). Desde então, há um crescente interesse na correlação entre suporte social e saúde.

Canasqui e Barsaglini (2010), ao analisarem resumos de artigos internacionais e nacionais sobre o tema do ponto de vista das Ciências Sociais e Humanas, no período entre 1980-2005, identificaram que a literatura internacional se respalda na Psicologia Social, em várias correntes da Sociologia e da Ciência Política. Já, a literatura nacional dialoga menos com as teorias psicossociais e mais com as sociológicas e antropológicas, realçando-se, pela abordagem do apoio, com a rede social, com a solidariedade, com a reciprocidade, com as trocas e valores culturais, lançando-se do privado para o social e a com a sua capacidade de organização civil e de ações coletivas.

Em relação à nomenclatura utilizada para denominar suporte social, Gonçalves Pawlowski, Bandeira e Piccinini (2011), em seu estudo, encontraram uma grande variedade de termos que se referem ao suporte social e rede social como: rede social de apoio, rede de apoio social, rede de suporte social, rede de apoio social e afetivo, rede de relações, suporte familiar, suporte psicossocial, suporte social de apoio, apoio familiar e apoio psicológico. Acrescentam ainda que vários estudos utilizam descritores relacionados a estes construtos, buscando defini-los, como: relacionamento social, relações interpessoais, laços sociais, participação social e empoderamento ou empowerment .

O uso indiscriminado dos conceitos de suporte social e rede social também foi encontrado pela autora do presente trabalho. Por exemplo, nos artigos pesquisados, identificou-se com freqüência a denominação de apoio social no título e ao longo do trabalho ao passo que nos descritores e abstract surge o termo suporte social. Além disso, observou-se que não existe clara distinção entre rede social e suporte social.

O constructo suporte social é apontado por Cunha, Carvalho, Santos, Ferreira, Barros, e Mendonça (2009) como tendo adquirido grande importância na atualidade na área de Psicologia da Saúde, principalmente por apresentar direta relação entre sua existência e a prevenção e recuperação de doenças físicas, mentais e afetivas. Antunes & Fontaine (2005), por sua vez, afirmam que o suporte social está entre os fatores de redução do impacto causado por eventos estressores, daí sua relevância no aprofundamento de pesquisas nesta área.

Na abordagem sistêmica, Sluzki (1997) afirma que este constructo vem sendo desenvolvido e forjado a “muitas mãos”, em várias áreas do conhecimento, desde teóricos do psicodrama (Moreno, 1951), da antropologia (Barnes, 1954) e na área de família (Bott, 1957; Speck e Attneave, 1973 e; Ruevi, 1979).

A literatura indica não ser consensual uma definição do constructo suporte social, bem como as dimensões ou categorias que o compõem. Contudo, para Ribeiro (1999), os estudiosos concordam que o domínio de suporte social é multidimensional e que diferentes categorias do suporte social têm variados impactos sobre os indivíduos ou grupos. O suporte social aparece também referendado como sendo um metaconstruto composto de elementos conceituais nos achados de Matsukura, Marturano e Oishi (2002).

Para Campos (2004, p. 141), citando Caplan (1976), sistemas de suporte social são constituídos de “padrões duradouros de vínculos que contribuem de maneira significativa para a manutenção da integridade física e psicológica do individuo”. E acrescenta que para o suporte social ter o efeito de proporcionar um sentimento de proteção e apoio à pessoa, não basta o indivíduo estar na rede, mas sim, estabelecer uma forma de relacionamento interpessoal, uma relação bi-pessoal que se projeta e se apóie de forma a propiciar redução do estresse e bem-estar psicológico. Cobb, (1976 apud Campos, 2004), descreve ser a dinâmica do suporte social um relacionamento próximo e acolhedor. Esse autor elenca três elementos que compõem o suporte: emocional (sentimento de ser amado, cuidado e protegido); valorativo (sentimento de auto- estima, consideração e respeito) e; comunicacional (sentimento de

pertencimento a uma rede de mútuas obrigações). Avalia como de maior relevância as trocas afetivas, de cuidados mútuos e de comunicação livre e aberta. O suporte social caracteriza-se por ser solidário, com papéis definidos e contato constante. Assim, o resultado esperado de uma rede efetiva é o sentimento de coesão e apoio que empresta ao indivíduo recursos para o enfrentamento da realidade, agindo como fator moderador e redutor do estresse, emprestando força para lidar com a dificuldade.

O conjunto de redes individuais e grupais numa sociedade caracteriza-se como uma rede de redes, mapa importante para configuração de propostas adequadas de ação educativa de promoção e prevenção de saúde comunitária. E conceitua rede social como um “sistema aberto que através de um intercâmbio dinâmico entre seus integrantes e com integrantes de outros grupos sociais possibilita a potencialização dos recursos que possuem” (Dabas, 1995, p. 10). Por sua vez, Sluzki (1997, p. 42) considera rede social pessoal como “a soma de todas as relações que o indivíduo percebe como sendo significativas ou define como diferenciadas da massa anônima da sociedade”. Afirma que é esta rede que confere o reconhecimento e a legitimidade de sua identidade e auto-estima, bem estar, competência, valores e hábitos de saúde, cidadania e habilidade de gerenciar mudanças em situação de crise.

Rede social, então, são todos os membros com os quais o indivíduo se relaciona, mas somente uma parte restrita dessas ligações é considerada laço ativo (Ornelas, 2008), ou seja, que proporcionam sociabilidade e suporte social. O autor apresenta a diferenciação entre rede social e suporte social, considerando que este último é a qualidade das relações estabelecidas na rede social no sentido de apoio a situações de crise. Cobb, (1976), citado por Campos (2004) e Ornelas (2008), propõe a conceituação de suporte social como a informação que conduz o indivíduo a acreditar que é estimado, valorizado e parte integrante de uma rede de comunicação e obrigação mútuas e considera o suporte social um amortecedor de estresse, concluindo que este desempenha uma função de facilitador da confrontação e adaptação em situação de crise. House (1981), também citado por Ornelas (2008), define suporte social como o conjunto de transações interpessoais, envolvendo as preocupações a nível emocional (gostar, amar e empatizar), a ajuda de bens e serviços, as informações sobre o meio envolvente e o reconhecimento, ou seja, as informações para uma auto-avaliação. Portanto, segundo Ornelas (2008), diferencia-se rede social de suporte

social entendendo que os tipos de laços de uma rede social proporcionam diferentes tipos de suporte social.

Dessen e Braz (2000) diferenciam apoio social de rede apresentando a ideia de laço social para incluir os dois conceitos. Para as autoras, rede é a teia social, isto é, o contexto mais amplo no qual o indivíduo está inserido. Apoio se refere à ajuda recebida em determinados momentos da vida das pessoas para prover necessidades específicas. Desse modo, apoio social é considerado uma dimensão funcional ou qualitativa da rede social - ter alguém com quem contar em uma situação difícil em que o mesmo necessite receber auxílio material, emocional ou afetivo. A rede social é então a estrutura social através da qual é oferecido o apoio. É como a imagem de pontos conectados por fios (Andrade & Vaitsman, 2002). Sendo assim, o estudo das redes permite mapear as relações entre os sujeitos ou grupos a começar pelos contatos diretos identificando intensidade, tamanho, frequência e qualidade dos contatos.

Ao sistematizar o conceito de rede social, Sluzki (1997, p. 59) afirma que essa pode ser registrada em forma de ‘mapa mínimo’, que inclui todos os indivíduos com quem a pessoa interage. Este mapa se constitui de quatro quadrantes, quais sejam: família, amizades, relações de trabalho (ou escolares), relações comunitárias (de serviços ou credos). Embora o indivíduo esteja posicionado no centro do quadrante, o suporte social é considerado pelo autor como sendo descentralizado, flutuante e dinâmico. Estes quadrantes inscrevem-se em três áreas: o círculo interno de relações intimas (família, amigos, contato cotidiano); círculo intermediário (relações sociais ou profissionais); círculo externo (relações ocasionais, conhecidos).

Dentro das características estruturais da rede, Sluzki (1997, p. 60) define os seguintes itens: Tamanho (número de pessoas participantes da rede); Densidade (conexão entre os participantes); Composição (distribuição dos participantes em cada quadrante); Dispersão (acesso para gerar influência); Homogeneidade (distinção de idade, sexo, cultura e nível sócio econômico dos participantes); Atributos de Vínculo (característica do vínculo, intensidade, multidimensionalidade de funções que uma pessoa faz, reciprocidade, compromisso, freqüência dos contatos, durabilidade e história em comum) e; Funções (companhia social, apoio emocional, guia cognitivo e de conselho, regulação social, ajuda material e de serviços e acesso a novos contatos).

A importância de mapear a rede social, avaliando suas características, funções e atributos dos vínculos, consiste em levantar quem pode auxiliar ou impedir a promoção da mudança considerada

necessária naquele momento em que foi realizada. Dentro deste contexto, mostra-se útil a utilização de instrumentos que auxiliem a organizar e utilizar os dados que permeiam as redes sociais. O mapa de redes, segundo Sluzki (1997), é um instrumento que permite a coleta e organização destes dados, auxiliando na avaliação sobre o tipo de intervenção possível, bem como na clarificação de quem convidar dessa rede para participar do processo a fim de auxiliar na otimização dos recursos do indivíduo ou grupo.