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5 PRISÃO PROVISÓRIA EM FACE DA RAZOÁVEL DURAÇAO DO

5.4 Supremo Tribunal Federal

Contrariando os tribunais acima citados, o STF vem fazendo o caminho inverso, ou seja, vem concedendo habeas corpus sob a alegação de excesso de prazo, até mesmo em casos de crimes hediondos como mostra a jurisprudência e o caso a seguir citados:

E M E N T A: HABEAS CORPUS - CRIME HEDIONDO - CLAMOR PÚBLICO - DECRETAÇÃO DE PRISÃO CAUTELAR - INADMISSIBILIDADE - PRISÃO CAUTELAR QUE SE PROLONGA DE MODO IRRAZOÁVEL - EXCESSO DE PRAZO IMPUTÁVEL AO PODER PÚBLICO - VIOLAÇÃO À GARANTIA

CONSTITUCIONAL DO DUE PROCESS OF LAW - DIREITO QUE ASSISTE AO RÉU DE SER JULGADO DENTRO DE PRAZO ADEQUADO E RAZOÁVEL - PEDIDO DEFERIDO. A ACUSAÇÃO PENAL POR CRIME HEDIONDO NÃO JUSTIFICA A PRIVAÇÃO ARBITRÁRIA DA LIBERDADE DO RÉU. – (...) O CLAMOR PÚBLICO NÃO CONSTITUI FATOR DE LEGITIMAÇÃO DA PRIVAÇÃO CAUTELAR DA LIBERDADE. - O estado de comoção social e de eventual indignação popular, motivado pela repercussão da prática da infração penal, não pode justificar, só por si, a decretação da prisão cautelar do suposto autor do comportamento delituoso, sob pena de completa e grave aniquilação do postulado fundamental da liberdade. (...) O JULGAMENTO SEM DILAÇÕES INDEVIDAS CONSTITUI PROJEÇÃO DO PRINCÍPIO DO DEVIDO PROCESSO LEGAL. – (...) O excesso de prazo, quando exclusivamente imputável ao aparelho judiciário - não derivando, portanto, de qualquer fato procrastinatório causalmente atribuível ao réu - traduz situação anômala que compromete a efetividade do processo, pois, além de tornar evidente o desprezo estatal pela liberdade do cidadão, frustra um direito básico que assiste a qualquer pessoa: o direito à resolução do litígio, sem dilações indevidas e com todas as garantias reconhecidas pelo ordenamento constitucional. O EXCESSO DE PRAZO, NOS CRIMES HEDIONDOS, IMPÕE O RELAXAMENTO DA PRISÃO CAUTELAR. - Impõe-se o relaxamento da prisão cautelar, mesmo que se trate de procedimento instaurado pela suposta prática de crime hediondo, desde que se registre situação configuradora de excesso de prazo não imputável ao indiciado/acusado (....).

HC 80379 / SP - SÃO PAULO. Relator(a): Min. CELSO DE MELLO. Julgamento: 18/12/2000. Órgão Julgador: Segunda Turma

Um caso recente chamou a atenção do país na primeira semana de setembro de 2008. Após concederem, em 23 de abril deste ano, a liberdade a R.F.S, preso em flagrante em julho de 2004 por tentar resgatar presos custodiados no Presídio de Franco da Rocha, em São Paulo, os ministros do STF decidiram no dia 09 de setembro estender a liberdade aos demais envolvidos no caso.

Consta no HC 93523 que os 10 acusados fortemente armados teriam se reunido na tentativa de resgatar presos custodiados naquele presídio. Eles foram denunciados por homicídio qualificado, porte ilegal de arma de fogo, falsificação de documento público, receptação e formação de quadrilha.

Os 10 acusados estavam presos há mais de quatro anos, sem sequer terem sido ouvidos, ou seja, a instrução criminal ainda não havia terminado. A justificativa da justiça é que, como os acusados faziam parte de uma facção

criminosa, o contingente policial disponível não era suficiente para garantir a segurança no caso de transporte para audiência, ou seja, mesmo tratando-se de um concurso material de vários delitos, o STF entendeu que quatro anos era tempo mais do que suficiente para eles terem sido julgados, não havendo porque manter uma prisão provisória ilegal neste caso, daí porque foi determinada a soltura de todos eles.

Em seu voto, o ministro Carlos Ayres Brito chegou a ressaltar que não houve nenhuma medida, por parte dos advogados dos réus, que buscasse atrasar a instrução. O principal motivo do atraso é o cancelamento de audiências, com seguidas remarcações. “Faltou efetivo estatal para apresentação de presos ao juízo criminal, tendo em vista a alta periculosidade dos agentes”, afirmou o ministro.

Três dias depois (12/09/2008), por decisão da juíza Tatiane Moreira Lima Wickihaldes, da 1ª Vara Judicial de Francisco Morato, foi decretada a prisão preventiva de nove dos acusados. A juíza argumentou também que a prisão preventiva foi decretada “para a manutenção da ordem pública, devido à alta periculosidade dos acusados”. A decisão teve parecer favorável do MPF-SP (Ministério Público Federal de São Paulo). “Não se trata de questionar o excesso de prazo devidamente reconhecido pelo STF, uma vez que os réus encontram-se detidos pela prisão em flagrante. Contudo, superada a questão do excesso de prazo da prisão em flagrante, nesse momento se analisam os requisitos da prisão preventiva, que até o presente não haviam sido considerados”.

Na prática, para esses acusados, não houve alteração alguma. Tanto a prisão em flagrante quanto a prisão preventiva são tipos de prisão cautelar, ou seja, provisória, apesar de cada uma ter sua característica própria. O interessante neste caso é perceber que uma juíza de primeira instância teve entendimento diverso e efetivou sua posição contra o tribunal maior deste país, mandando prender quando este havia mandado soltar.

Este caso ilustra bem certo tipo de questão. Provavelmente aqui, os acusados serão condenados pelos crimes que cometeram; o problema é que devido à morosidade judicial, encontram-se presos ilegalmente. O seu direito

fundamental à razoável duração do processo deve ser respeitado acima de qualquer coisa. O sujeito não pode encontrar-se há quatro anos preso sem ao menos ter sido ouvido.

O grau de periculosidade desses acusados é inegável, porém deve-se ter em mente que acima disso encontra-se seu direito a uma jurisdição célere. E é isto que o STF está protegendo.

Em outra decisão de crime hediondo, o mesmo tribunal julgou constrangimento ilegal por excesso de prazo no caso de um sujeito preso há dois anos por ter cometido crime hediondo, ou seja, estabelece um prazo de até dois anos para o processo ter se encerrado, se não será concedido um HC.

Apesar de parecer contraditório, o direito de um indivíduo altamente perigoso ser colocado acima de toda coletividade, o que essa decisão quis garantir em último caso é a segurança jurídica da sociedade, respeitando o princípio de que todos são iguais perante a lei, tendo os mesmos direitos e deveres.

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