• Nenhum resultado encontrado

As influências pedagógicas da teoria de Rousseau, apresentadas através de seu Emílio, passam a ter uma grande influência também nos ideais de Georges Hébert, principalmente no período em que ele deixa a vida militar para dedicar-se inteiramente a Colégio de Atletas de Reims.

Figura 13. Colégio Atletas de Reims – França, 1913 [Georges Hébert orientando uma aula de corridas]. Bibliothèque Nationale de France.

Atrelada a esta concepção da busca pelo conhecimento deste “lugar natural”, de um possível “retorno necessário” à esta natureza no qual Hébert acreditava, surge um grande movimento de terapias oriundas do chamado Movimento Naturista, desenvolvido na França e na Alemanha, a partir da influência da Medicina Naturista, que teve a contribuição significativa do Dr. Paul Carton, amigo de Hébert e propagador do seu método.

O Movimento Naturista foi uma coalizão informal de movimentos de reformas dos hábitos e estilos de vida que tomou forma e consistência na França após as descobertas colonizadoras de novos mundos naturais, selvagens, com estilos de vida simples. Esse movimento naturista vai reagir aos aspectos debilitantes da industrialização e da urbanização do século XIX.

A Europa do século XVIII e início do século XIX – especialmente nos países centros da ‘dupla revolução’ política e econômica, ocorrida respectivamente na França e Inglaterra – vai desenvolver através de determinadas políticas de saúde formas explícitas de controle das populações urbanas, onde o corpo dos indivíduos e o ‘corpo social’ são tomados como objetos mensuráveis, passíveis de classificações e generalizações isentas de paixões e impregnadas da neutralidade própria da abordagem positivista de ciência. (LANGLADE & lANGLADE, p. 27.).

Seus precursores, quase todos oriundos das ciências médicas, tentam buscar outro entendimento para não aceitar as condicionantes opressoras da degradação humana que ocorria com as populações em geral nesses países, e que todos esses processos eram fruto da modernidade emergente, que trazia um discurso dos direitos sociais, mas na essência escravizava profundamente a maioria da população mais pobre.

Vão investigar através de suas pesquisas, a problemática das questões da saúde, e mesmo que se utilizassem das mesmas técnicas científicas de outros médicos-higienistas, tentaram desenvolvê-la buscando outros caminhos para propiciar melhorias reais ao modo de vida das pessoas.

Propuseram reformas para os hábitos de vestir das pessoas, indicaram os hábitos alimentares vegetarianos, a abstinência de álcool e tabaco, e criaram com estes estudos terapêuticos diversos, discussões em torno de temáticas novas, denominadas climatologia, a helioterapia, a hidroterapia, a naturopatia. Oportunizando-se dessa popularidade do naturismo na Europa, Georges Hébert será muito influenciado por toda essa produção científica e intelectual, também devido ao fato de ser contemporâneo e amigo de muitos desses cientistas.

Figura 14. Colégio de Reims - França, 1913-[Georges Hébert comandando um exercício de marchas com os participantes sob nudez controlada]. Bibliothèque Nationale de France.

Nesse período em que a própria medicina tradicional ainda não dispunha de recursos suficientes para diagnosticar as doenças existentes e muito menos a cura delas, estes pensadores naturistas defende a vivencia e a experimentação, cada vez maior, dos recursos da natureza, como alternativa terapêutica e cura natural das enfermidades, se utilizando da luz solar, da água fresca, do ar puro, da alimentação natural, da utilização de roupas largas.

Este se configura como mais um dos acontecimentos sociais que permeavam a realidade europeia, especificamente na França e Alemanha, onde o movimento naturista se propagou e expandiu-se para outros países.

Figura 15 - Campo do Colégio Atletas de Reims – França, 1913. [Georges Hébert no seu banho de sol regular]. Bibliothèque Nationale de France.

Georges Hébert utilizará bastante alguns dos princípios do Naturismo em suas práticas corporais do Método Natural, principalmente o que ele convencionou chamar de "nudez controlada". Se o leitor observar as imagens que foram apresentadas e as que ainda apresentaremos no decorrer dessa pesquisa, perceberão que todos os atletas adultos, as crianças - meninos e meninas até uma certa idade - aparecerão sempre de bermudinhas bem curtas ou de sungas. O próprio Hébert sempre aparecerá nas aulas do Colégio de Atletas de Reims que apresenta e orienta sempre seminu, de sunga ou bermudão e posando em fotos de tapa-sexo, como na Figura 16 que aparecerá na sequência.

Figura. 16. Georges Hébert posando com tapa-sexo aos 38 anos de idade. Escola de Atletas de Reims - Paris - 1913.

Ele utilizar-se-á como modelo principal como o faz nas fotos que posa como discóbolo de Miron e como lanceiro, para mostras que seu corpo é o resultado de seu método natural que ele aplica a si mesmo, e que dá resultados. Esta atitude de Hébert é bastante ousada para a época, colocando seus atletas exibindo seus corpos num evento público no Parque Pommery, na Escola de Reims em Paris em 1913.

Hébert quer mostra a grande diferença que existe entre a exibição dos corpos fortes e resistentes de seus atletas em relação às exibições feitas pelos esportistas que expunha apenas músculos. Ele afirma que seus atletas eram fortes e estavam fortes porque se prepararam naturalmente para o dia-a-dia, para as necessidades de seu cotidiano, que treinar horas e horas constantemente para ficar forte e resistente deveria ter uma finalidade, uma utilidade prática, e não apenas para mera exposição. Por isso que as apresentações de levantar outros atletas, levantar mastros, pedras, toras de madeira, fazer escaladas em cordas, carregar os outros nas costas, saltar obstáculos como muros e cercas faziam parte dos movimentos naturais, e serviriam para a vida real dos indivíduos desde tenra idade.

Fig. 17. Nos jardins da roda-gigante em Paris: Georges Hébert e os marines da Escola Naval de Lorient, Nov. 11, 1909, pose de resgate [demonstração ginástica do método Hébert]. Bibliothèque Nationale de France.

Fig. 18. Tuileries, [movimentos de grupo, 02 de maio de 1915] do partido de fitness. Bibliothèque Nationale de France.