CAPÍTULO II – Sobre a Análise Econômica do Direito (AED)
2.2. Surgimento e contexto histórico
A AED descende do pragmatismo, uma corrente de pensamento desenvolvida nos
Estados Unidos da América. Essa corrente se caracteriza pela proposta de que “se dirijam os
pensamentos e a reflexão filosófica para problemas práticos, contingencias, típicos da
existência cotidiana” (GODOY, 2005, p. 4). Assim, marcava-se um pensamento que repudiava
a lógica por si só e que tinha um foco muito bem definido na realidade e utilidade dos fatos.
Pela ótica do pragmatismo, discussões metafísicas serviam tão somente para alimentar
curiosidades, sem, contudo, ser útil aos problemas reais, sendo a realidade a concepção que
informa todo o pensamento pragmático (GODOY, 2005, p. 5).
Desenvolveu-se, então, bebendo nas fontes do pragmatismo, o realismo jurídico, por
meio da proclamação “da concepção instrumentalista e funcionalista do direito indicando o
caráter indeterminado das normas jurídicas, admitindo a decisão forense como o resultado de
intuições e idiossincrasias dos magistrados” (GODOY, 2005, p. 5). Karl Llewellyn, um dos
nomes fortes do realismo jurídico, por sua vez, acreditava que o direito tinha pouco para dizer
à vida, que seria totalmente independente de qualquer formalismo normativo.
A partir do realismo jurídico, surgiram outras duas correntes de pensamento, a critical
legal studies, que denunciava a forte influência da política nas decisões jurídicas, chegando a
proclamar law is politicts, e o direito e economia (GODOY, 2005, p. 6).
O movimento direito e economia era marcado por sua forte crença de que as decisões
jurídicas deveriam ser baseadas numa relação de custo X benefício, tendo em mente que o
direito só seria perspectivo se proporcionasse uma maximização das relações econômicas
(GODOY, 2005, p.7). Sem dúvida, um dos nomes que mais endossava esse pensamento era o
de Richard Posner que ficou ainda mais conhecido com a publicação de seu livro The Economic
Analysis of Law, em 1973.
Para o direito e economia, a economia, sem dúvida, era a ciência mais apta a oferecer
respostas para os problemas jurídicos, sendo capazes de orientar as reflexões jurídicas. É o
exemplo da lei da oferta e da procura, que poderia ser utilizada para analisar a relação entre
cometimento de crimes e o aumento das penas, e dos custos de oportunidades, como ferramenta
para se quantificar a indenização devida em certos casos, ambos conceitos econômicos com
aplicação extremamente útil ao direito (GODOY, 2005, p. 10 e 11). Em síntese, temos que:
A economia é a ciência das escolhas racionais, orientada para um mundo no qual os recursos são inferiores aos desejos humanos. Nesse sentido, o homem é um maximizador de utilização racional. As satisfações são aumentadas na medida em que comportamentos são alterados. Custos informam as opções, os custos sociais diminuem a riqueza da sociedade, os custos privados promovem uma realocação desses recursos. Quem encontra um tesouro não aumenta a riqueza da sociedade (POSNER, 2003 apud GODOY, 2005). Valor, utilidade e eficiência norteiam escolhas. Quando percebemos decisões jurídicas ou métodos normativos como escolhas, do juiz ou do legislador, conclui-se que essas decisões poderiam se orientar pelos cânones de valor, utilidade e eficiência, que se distanciam de concepções de justiça, teóricas e contemplativas. Admite-se também, bem entendido, que o alcance da economia é limitado, dado que se centra em valor, utilidade e eficiência.
(GODOY, 2005, p. 11 e 12)