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2. TELETRABALHO NA SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO

2.2. Surgimento do teletrabalho no Brasil

Atualmente, o Brasil vive uma reestruturação permanente do capital, conforme entendimento do sociólogo Ricardo Antunes. Para ele, essa reestruturação “levou a um processo, em escala planetária, onde a lógica do capital financeiro invadiu todos os espaços da produção lato sensu”,90 flexibilizando-a e desregulamentando de forma ilimitada (essas

modificações podem ser mais ou menos impactantes dependendo da resistência que os sindicatos e a classe trabalhadora oferecem).91 Portanto, verifica-se que a Revolução Tecnológica Microeletrônica não atingiu somente as indústrias ou o trabalho dos operários de uma fábrica, mas também “todos os departamentos de uma empresa, todos os setores da economia, e, mais, todos os aspectos de nossa vida cotidiana foram profundamente atingidos pelos avanços recentes da microeletrônica”.92 E, mesmo com todas as transformações sofridas

pela sociedade, o trabalho ainda continua sendo vital para o homem.93

89 BARROS, Alice Monteiro. Curso de Direito do Trabalho. 11. ed. São Paulo: LTr, 2017. p. 214.

90 O proletário digital na era da reestruturação permanente do capital. Entrevista especial com Ricardo

Antunes. Disponível em: <http://www.ihu.unisinos.br/159-noticias/entrevistas/582010-o-proletario-digital-na- era-da-reestruturacao-permanente-do-capital-entrevista-especial-com-ricardo-antunes>. Acesso em 20 jan. 2019.

91 O proletário digital na era da reestruturação permanente do capital. Entrevista especial com Ricardo

Antunes. Disponível em: <http://www.ihu.unisinos.br/159-noticias/entrevistas/582010-o-proletario-digital-na- era-da-reestruturacao-permanente-do-capital-entrevista-especial-com-ricardo-antunes>. Acesso em 20 jan. 2019.

92 CASTRO, Antonio Escosteguy. Trabalho, tecnologia e globalização: a necessidade de uma reforma sindical.

São Paulo: LTr, 2006. p. 29.

93 O proletário digital na era da reestruturação permanente do capital. Entrevista especial com Ricardo

Antunes. Disponível em: <http://www.ihu.unisinos.br/159-noticias/entrevistas/582010-o-proletario-digital-na- era-da-reestruturacao-permanente-do-capital-entrevista-especial-com-ricardo-antunes>. Acesso em 20 jan. 2019.

Na Era da Sociedade da Informação, os trabalhadores de uma empresa podem colaborar entre si, ainda que estejam executando suas funções em locais diferentes e com horários diferentes. Na realidade, são integrantes de uma equipe virtual de trabalho que está constituída por pessoas que “colaboran en un mismo proyecto, comparten información, aplicaciones, recursos, aun a pesar de encontrarse en lugares geograficamente diferentes y com husos horários distintos”94.

O teletrabalho, então, é fruto dessa reestruturação. Na realidade, as formas de realizar o trabalho se aperfeiçoam, por isso, segundo o entendimento de Magali Souza, essa modalidade de trabalho nada mais é do que o mesmo trabalho a distância já desenvolvido em outras épocas, entretanto, “na sociedade da informação, ganha nova roupagem, e se vale da tecnologia para viabilizar sua realização na casa do trabalhador ou no lugar que julgar adequado, desde que tenha um equipamento de comunicação ligado à internet”95. Assim, cabe

destacar que o Ministério da Ciência e Tecnologia, por meio da edição do Livro Verde da Sociedade da Informação no Brasil, aponta que o teletrabalho constitui “uma nova abordagem do trabalho por parte dos indivíduos diante da possibilidade de se estabelecerem novos tipos de vínculos e relações de trabalho com os empregadores”96.

É válido mencionar que a edição do Livro Verde foi gerada em 1997 como um método governamental “para conceber e estimular a adequada inserção da sociedade brasileira na Sociedade da Informação, como forma de se vivenciar um novo paradigma lastreado na revolução tecnológica”.97 Isso demonstra que o estudo sobre o teletrabalho no Brasil não é

algo recente, entretanto, no ordenamento jurídico brasileiro não havia previsão do teletrabalho até 16.12.2011, oportunidade em que foi publicada a Lei n. 12.551/2011, a qual alterou a redação do art. 6º da Consolidação das Leis do Trabalho objetivando equiparar os efeitos jurídicos da subordinação exercida por meios telemáticos e informatizados à exercida por meios pessoais e diretos.

Portanto, nota-se que foi por intermédio dessa lei que houve a determinação da igualdade dos direitos do empregado à distância e do empregado convencional.98 Em razão

94 DIÁZ, Viviana Laura. Teletrabajo y neurotecnología – una guía imprescindible para gestionar el trabajo 4.0. ebook. Buenos Aires: Granica, 2018. posição 3236.

95 SOUZA, Magali Rodrigues de. Teletrabalho: o direito à desconexão como exigência para o trabalho decente. 2017. Tese de Mestrado. Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas. p. 32.

96Sociedade da Informação no Brasil: livro verde. Disponível em:

<https://www.governodigital.gov.br/documentos-e-arquivos/livroverde.pdf>. Acesso em 24 nov. 2018.

97 SIMÃO FILHO, Adalberto. Sociedade da Informação e seu lineamento jurídico. Apud PAESANI, Liliana

Minardi. O Direito na Sociedade da Informação. São Paulo: Atlas, 2007. p. 17.

98 BASSO, Danielle de Mello; BARRETO JR, Irineu Francisco. O telerabalo e a supressão de seus direitos na

disso, os contratos existentes de teletrabalho eram equiparados aos contratos de home office, sendo assim, para estipular as regras no contrato com o teletrabalhador, ou ainda, para solucionar litígios envolvendo o teletrabalho, aplicavam-se as determinações do trabalho prestado no domicílio do empregado.

Ocorre que tal conduta não podia prosperar, pois home office e teletrabalho são duas modalidades de trabalho diferentes, cada uma com suas peculiaridades e, ainda assim, a previsão legal era genérica e por isso incapaz de solucionar possíveis problemas decorrentes de um assunto tão vasto e específico (fato este que gerava grande insegurança jurídica) que vem ganhando cada vez mais espaço no cotidiano da sociedade informacional, em decorrência do aumento significativo de pessoas desenvolvendo suas atividades pelo teletrabalho. Segundo pesquisa nacional realizada em 2016 pela Sociedade Brasileira de Teletrabalho e Teleatividades - SOBRATT, sobre home office, em comparação ao ano de 2014, houve um aumento de 50% no número de empresas que estão implantando a prática.99

Assim, para sanar a lacuna existente na legislação trabalhista sobre o tema, em novembro de 2017 a Lei n. 13.467/2017 entra em vigor e com isso, é inserida no ordenamento jurídico brasileiro previsão sobre a figura do teletrabalho, constante no Capítulo II-A da Consolidação das Leis do Trabalho (art. 75-A a 75-E), bem como em uma das exceções do art. 62 do mesmo diploma, conforme analisado no capítulo anterior.

Jan./Jun. 2018. p. 62.

99 SOBRATT. Pesquisa Home Office Brasil 2016 – Teletrabalho e Home Office, uma tendência nas empresas brasileiras. Disponível em: <http://www.sobratt.org.br/index.php/11-e-12052016-estudo-home-

3. EFETIVIDADE DAS NORMAS DE SAÚDE E SEGURANÇA NO