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Capítulo 3. Mobilidade urbana sustentável

3.4. Sustentabilidade na mobilidade urbana

Segundo uma diretiva recente do Governo Brasileiro, no introito da Lei 12587/2012, de 3 de Janeiro, pode-se definir mobilidade urbana sustentável como o resultado de um conjunto de políticas de transporte e circulação que visa proporcionar o acesso amplo e democrático ao espaço urbano, através da priorização dos modos não-motorizados e coletivos de transporte, de forma efetiva, que não gere segregações espaciais, socialmente inclusiva e ecologicamente sustentável. A mobilidade deverá ser prioritariamente baseada nas pessoas e não os veículos.

Paulo Santos 49 A aplicabilidade do conceito de sustentabilidade à mobilidade urbana é, como já se apreciou, uma matéria de uma complexidade elevada, dada a multiplicidade de fatores envolvidos. Ribeiro et al. (2008) refere que, apesar da dificuldade em consubstanciar de forma exata a definição do conceito de mobilidade urbana sustentável, a sua aplicação a situações concretas permite um melhor entendimento da abrangência do significado. Para além disso, a aplicabilidade deste conceito terá de ser entendida num sistema global, isto é, não se pode dizer que a rua X ou Y apresenta níveis de mobilidade sustentável adequados, mas sim que o sistema de arruamentos que serve uma determinada área do espaço urbano, ou ainda de todo o espaço urbano pode apresentar essa característica. O equilíbrio entre o meio (entenda-se como local ou via de passagem) e o todo urbano é um dos aspetos chave necessários para garantir a operacionalidade de todo o espaço urbano utilizado como meio de deslocamento.

A promoção dos modos suaves, para se obterem padrões elevados de mobilidade sustentável não poderá surgir de forma fortuita, nem isolada, pois isso não trás uma solução ao problema. A mobilidade sustentável num meio urbano passa pelo equilíbrio entre a utilização dos diferentes modos de transporte, quer na oferta, quer na procura, garantindo sempre a funcionalidade e acessibilidade dos indivíduos às diferentes formas de deslocação e aos serviços que normalmente estão presentes nos espaços urbanos. O impacto dos diferentes modos de transporte no meio urbano é gradual em função do modo utilizado, pois provoca uma ocupação diferenciada (Figura 13).

(a) (b) (c)

Figura 13 – Espaço urbano ocupado função do modo de transporte individual (a), coletivo (b) e suave (c)

50 Paulo Santos Garantir um patamar de mobilidade urbana sustentável passa por gerir e planear cada um dos sistemas de transporte de forma individual, mas garantindo a sua relação direta com os outros, priorizando os TC e os modos suaves, mas não proibindo a utilização do TI, de modo a garantir-se a totalidade das opções ao indivíduo. Porém é possível condicionar as suas escolhas, mas ao mesmo tempo, permitir um leque de opções ajustadas, práticas e de custo reduzido no que concerne à sua mobilidade dentro do espaço urbano. Este tipo de abordagem permitirá um desenvolvimento económico e social equilibrado, minimizando os danos ambientais e contribuindo para patamares de governança muito acima dos hoje praticados, com uma administração a aplicar políticas de mobilidade mais eficientes e objetivas.

Ainda na procura de definições de sustentabilidade, torna-se evidente a multiplicidade de aspetos que são associados às questões económicas, sociais e ambientais. No entanto, a projeção desta definição na mobilidade urbana é escassa. Segundo Plowright (2002) o conceito de sustentabilidade urbana deverá pautar-se pelo equilíbrio e igualdade entre regiões, entre gerações (quer no âmbito social quer no âmbito geográfico), a proteção do ambiente, a redução a valores mínimos da utilização de recursos naturais não renováveis, pela viabilidade e diversidade ao nível económico, pelo bem estar do individuo e da sociedade em que se insere, não relegando a satisfação das necessidades humanas.

Para alcançar a denominada mobilidade urbana sustentável as cidades procuram, cada vez mais, formas de incentivar a deslocação dos cidadãos através da utilização de transportes que sejam alternativos ao transporte individual motorizado. Por exemplo, procuram incentivar as deslocações a pé, a utilização do transporte público, incentivar a utilização de combustíveis não poluentes ou de energias renováveis, procuram oferecer serviços de transporte público adequados às necessidades dos cidadãos, procuram obter uma boa integração dos sistemas de TC a preços atrativos e ao mesmo tempo procuram soluções que tornem os transportes coletivos mais rápidos, confortáveis e seguros.

Segundo Wolfram (2004), a necessidade de tornar a mobilidade urbana sustentável surge devido ao aumento do congestionamento nos centros urbanos, aos impactos que este produz e à pouca eficiência e eficácia dos TC. O problema do congestionamento tem vindo a aumentar devido à expansão urbana, devido ao um aumento das distâncias entre o local de residência e o seu emprego, ou o comércio e serviços utilizados, incentivando a utilização do transporte privado individual. Por outro lado, o aumento da utilização do transporte privado individual

Paulo Santos 51 tem contribuído para a degradação da qualidade do ar, para o aumento do ruído e para o aumento do número de acidentes nos grandes aglomerados urbanos, diminuindo consequentemente o bem-estar dos cidadãos.

Uma mobilidade urbana sustentável, também pode contribuir para atenuar muitos dos desafios económicos, que hoje em dia, alguns países enfrentam, como por exemplo, a perda de competitividade, o aumento do desemprego, a exclusão social e o aumento da poluição ambiental. Pois, a mobilidade urbana sustentável garante uma boa acessibilidade interna e externa aos centros urbanos, levando as empresas e os cidadãos a compararem a qualidade de vida, os sistemas de transportes e as vantagens existentes entre diferentes centros urbanos. Assegurar uma mobilidade urbana eficiente também pode aumentar o desenvolvimento económico de uma cidade, uma vez que origina um aumento do investimento local por parte das pequenas e médias empresas, nomeadamente nas áreas das telecomunicações, tecnologia ambiental, turismo e transportes, que consequentemente irão fazer aumentar a oferta de emprego e o bem-estar social dos cidadãos.

Por outro lado, um sistema de transporte eficiente permite reduzir os custos económicos do transporte para os cidadãos e para o Estado, pois o custo com as tarifas e o peso dos subsídios e investimentos pode diminuir. Neste contexto, a Comissão Europeia em conjunto com as autoridades metropolitanas, de diversas cidades, pretendem encontrar soluções para que se possa melhorar a qualidade de vida dos cidadãos e criar uma mobilidade urbana compatível com o crescimento económico.

É possível salientar que a existência de um sistema de transporte urbano eficiente, seguro e amigo do ambiente é sem dúvida necessário para garantir uma mobilidade urbana que conduza a um elevado nível de qualidade de vida para os cidadãos e consequentemente de sustentabilidade das urbes.