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O desenvolvimento sustentável já é considerado como relevante para diversos sistemas sociais e também para projetos e programas, sendo principalmente presente em projetos públicos, de engenharia e construção civil (Gareis et al., 2013).

Silvius, Brink, & Kohler (2012) propõe uma definição para a gestão de projetos sustentáveis: “gerenciamento de projeto sustentável é a gestão da mudança em projetos organizados em políticas, ativos ou organizações, com a consideração do impacto econômico,

social e ambiental do projeto, seu resultado e efeito, para agora e para as gerações futuras” (p.198).

Labuschagne & Brent (2004) consideram que as abordagens mais comuns (top-down e

bottom up) utilizadas para incorporar os princípios da sustentabilidade nas organizações não

surtiram os efeitos desejados. Ainda segundo estes autores, são necessárias ferramentas que incluam a sustentabilidade no desenvolvimento de processos, de forma que possa ocorrer o alinhamento das metodologias de negócios com os princípios da sustentabilidade. Labuschagne & Brent (2004) defendem ainda que as metodologias de gestão de projetos devem fazer parte deste alinhamento, uma vez que o impacto de seus projetos para a sociedade, meio ambiente e economia são de responsabilidade das empresas, ainda que depois da conclusão dos mesmos.

Para Gareis et al. (2013), a primeira experiência de muitas organizações com a sustentabilidade se dá através de projetos de patrocínios, prêmios, doações, voluntariado social ou serviços de saúde, que não podem deixar de serem consideradas boas iniciativas, mas que não estão realmente no foco das organizações e em caso de crise, são as primeiras ações a serem cortadas. De acordo com os autores, estas iniciativas não atendem a necessidade de incluir o desenvolvimento sustentável nos processos de negócios da organização.

Os pilares social, econômico e social são igualmente importantes e interdependentes, conforme Gareis, Huemann, & Martinuzzi (2011) e sujeitos às instabilidades geradas pelas pressões sociais, políticas, econômicas e ambientais e ainda aos ciclos e conflitos (Elkington, 2001). Complementando o TBL para o campo da gestão de projetos, Gareis et al. (2013) acrescentam orientações relacionadas à temporalidade (curto, médio e longo prazo), localização (local, regional e global) e ainda orientação baseada em valores.

A temporalidade do desenvolvimento sustentável em gestão de projetos contrapõe as expectativas das futuras gerações (longo prazo) à necessidade das organizações em apresentar resultados financeiros em curto/médio prazo. Gareis et al. (2013) citam Dyllick & Roberts (2002, p. 132), que apontam que “a obsessão por lucros no curto prazo é contrária ao espírito da sustentabilidade”. Considerando que o projeto é um empreendimento temporário (PMI, 2013), a dimensão de longo prazo deve ser aplicada para o produto ou serviço que o projeto cria.

A orientação da localização fica clara no conceito de desenvolvimento sustentável, uma vez que os efeitos de uma ação em um local podem apresentar consequências em escala

regional ou até global. Além disso, as organizações necessitam atingir um equilíbrio de escala em suas operações.

Os valores e considerações éticas fazem parte do conceito de desenvolvimento sustentável desde o início, conforme valores definidos no GRI (Global Reporting Initiative), como equidade inter e intra gerações, transparência, justiça, confiança e inovação.

Silvius, Ron, et al. (2012) apontam que a natureza temporária dos projetos causa contrastes entre a sustentabilidade e a gestão de projetos. Outras diferenças fundamentais também mencionadas pelos autores são apresentadas no Quadro 3.

Quadro 3 - Contrastes entre os conceitos de desenvolvimento sustentável e projetos

Desenvolvimento Sustentável Gestão de Projetos

Orientação longo + curto/médio prazo Orientação curto prazo

No interesse desta e futuras gerações No interesse do patrocinador e partes interessadas Orientação para o ciclo de vida Orientação para entregáveis/resultados

Social, ambiental, econômico Escopo, tempo e orçamento

Aumentando complexidade Reduzindo complexidade

FONTE: Silvius, Ron, et al. (2012)

Weniger, Huemann, Oliveira, Barros Filho, & Weitlaner (2013) acrescentam que para muitas organizações, o projeto é apenas o início de um processo de perspectiva de longo prazo e que, portanto, a perspectiva econômica não deve se ater apenas ao curto prazo. Com isso, estes autores pretendem diferenciar a visão do desenvolvimento sustentável pela ótica do projeto (curto prazo) quanto pela ótica do investidor (longo prazo). A proposição de diferenciar projeto e investimento (curto versus longo prazo) também é defendida por Gareis et al. (2013), apresentada na Figura 8.

Silvius, Brink, et al. (2012) apontam três áreas principais em que a integração da sustentabilidade trará efeitos na gestão de projetos:

 Processos de gestão de projetos: os autores analisaram o Guia do

Conhecimento em Gerenciamento de Projetos (PMBoK – Quarta Edição) editado pelo Project Management Institute (PMI) e verificaram que não existe nenhuma menção explícita à sustentabilidade. O aspecto econômico foi depreendido a partir da tripla restrição, mas não foram encontradas menções para aspectos como meio ambiente e sociais;

Figura 8 - Investimento e projeto FONTE: Gareis et al. (2013)

 Processo de mensuração e reporte e ainda na atuação da governança dos projetos: mesmo para o aspecto econômico, não existe um consenso se os mesmos também podem ser utilizados para a avaliação da sustentabilidade. Nos aspectos ambientais e sociais, os autores sugerem que o gerente de projetos busque nos relatórios de sustentabilidade existentes (ex.: GRI) os indicadores relevantes para seus projetos e;

Competências do gerente de projeto: os autores avaliaram o ICB (IPMA

Competence Baseline) do IPMA (International Project Management Association). Os aspectos da sustentabilidade estão compreendidos em

diversas descrições de competências, entretanto os autores citam que não há uma integração destes aspectos e que uma definição mais detalhada é necessária.

Carvalho & Rabechini Jr. (2011) alertam para a urgência quanto a considerar os aspectos da sustentabilidade na gestão de projetos, considerada incipiente tanto na perspectivas acadêmicas quanto no ambiente prático.