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Crol é uma técnica ventral, alternada e “simétrica” na qual as acções motoras dos MS e MI tendem a assegurar uma propulsão contínua. Do ponto de vista mecânico, esta é a técnica mais eficiente (Holmér, 1983) devendo-se ao facto de ser alternada o que evita grandes oscilações intracíclicas da velocidade, e ainda devido à posição do corpo que lhe é inerente permitindo trajectos subaquáticos bem orientados e por sua vez resultantes propulsivas com direcção muito próxima da linha de deslocamento do corpo (Lima, 2005).

O corpo deve estar o mais horizontal possível, com a cabeça em posição natural no prolongamento do tronco, tentando oferecer a menor resistência ao avanço. Em relação ao alinhamento horizontal, o nadador deve manter uma posição alta na água (importância da acção dos MI), não deve elevar exageradamente a cabeça e deve reduzir as componentes verticais do trajecto motor dos MS que poderá acontecer durante a entrada, a Acção Descendente e a saída. Quanto ao alinhamento lateral, o nadador deve aproximar as acções propulsivas do eixo longitudinal de deslocamento, não deve cruzar os apoios e deve evitar a recuperação lateral. O nadador deve ainda fazer rotação do corpo em torno do eixo longitudinal, o que facilita a aproximação das acções motoras ao eixo de deslocamento, a recuperação com elevação e flexão dos cotovelos, a acção equilibradora dos MI, não agravando o arrastamento.

Quadro 27: Principais erros técnicos e respectivas consequências relativamente à posição corporal na técnica de Crol. Adaptado de Fernandes et al. (2008).

Erros técnicos mais frequentes Consequências

Nadar numa posição

exageradamente alta, com a cabeça muito levantada

Aumenta a resistência frontal, ou seja o arrasto hidrodinâmico provocado pela forma

Acção dos MI muito funda Aumenta a resistência frontal, ou seja o arrasto provocado pela forma

Rotação longitudinal do corpo exagerada

Aumento da resistência frontal e necessidade de um reequilíbrio em detrimento de uma

acção propulsiva das pernas Bacia não fixa e oscilações

longitudinais

Desvios no alinhamento e aumento da resistência frontal

NA acção dos MS distinguem-se as seguintes acções: Entrada, Acção Descendente (AD), Acção Lateral Interior (ALI), Acção Ascendente (AA), Saída e Recuperação. A entrada da mão na água deve ser feita com o MS flectido, no prolongamento do ombro de forma a provocar a menor turbulência e arrasto de onda. O MS deve estar em rotação interna, de maneira a que, a palma da mão esteja orientada para fora. A entrada deve acontecer no espaço entre a projecção do ombro e o eixo longitudinal. Depois de entrar, acontece o deslize, em que se dá a extensão do cotovelo em imersão e o adiantamento do ombro do mesmo lado.

Quadro 28: Principais erros técnicos e respectivas consequências relativamente à entrada dos MS na técnica de Crol. Adaptado de Fernandes et al. (2008).

Erros técnicos mais frequentes Consequências

Apoio cruza a linha média do corpo Perda do alinhamento lateral provocando um aumento do arrasto hidrodinâmico

Esmagamento do apoio

Perda do alinhamento horizontal provocando um maior arrasto

hidrodinâmico

Extensão incompleta Diminui o percurso subaquático e altera a sincronização

Apoio precoce e grande velocidade da mão

A mão fica em profundidade muito rapidamente, prejudicando o alongamento

e o agarre; maior arrasto hidrodinâmico

A AD deve começar no momento em que o MS contrário termina a sua fase propulsiva. Após o MS terminar o deslize, o pulso flecte, orientando a palma da mão para fora, para baixo e ligeiramente para trás (ângulo aproximadamente de 30º a 40º). De seguida a mão move-se para baixo e para trás, relativamente ao corpo do nadador, descrevendo uma trajectória curvilínea. O cotovelo vai flectindo gradualmente durante esta fase. Esta é a fase menos propulsiva mas, é no entanto, muito importante na colocação dos segmentos propulsivos na posição mais correcta, de forma a executar as acções seguintes com o máximo de eficiência.

Quadro 29: Principais erros técnicos e respectivas consequências relativamente à AD na técnica de Crol. Adaptado de Fernandes et al. (2008).

Erros técnicos mais frequentes Consequências

“Empurrar” a água directamente para

baixo Perda de alinhamento horizontal

Cotovelo caído O antebraço empurra a água para baixo diminuindo a força propulsiva efectiva

Início imediato do movimento para dentro

Altera a sincronização; induz a iniciar a força propulsiva com o cotovelo caído; menor

A ALI tem início no momento em que o MS atinge o ponto mais profundo da sua trajectória. Mantendo a sua trajectória circular, a mão desloca-se para cima, para dentro e para trás, por intermédio da flexão do cotovelo. A velocidade da mão aumenta progressivamente, aumentando também a capacidade propulsiva. A palma da mão orienta-se para cima, para dentro e para trás (ângulo entre 20º a 40º).

Quadro 30: Principais erros técnicos e respectivas consequências relativamente à ALI na técnica de Crol. Adaptado de Fernandes et al. (2008).

Erros técnicos mais frequentes Consequências

Má orientação da mão Desalinhamento lateral; maior arrasto hidrodinâmico, menor propulsão

Início precoce da ALI Menor força propulsiva efectiva

Amplitude exagerada ou insuficiente Altera a sincronização ou desalinhamento lateral

A AA é a fase mais propulsiva da acção dos MS. Começa no final da ALI e continua até a mão do nadador se aproximar da coxa, ou seja, da posição de MS flectido passa para a sua extensão progressiva. A mão é progressivamente acelerada para fora, para cima e para trás até à superfície da água (ângulo entre os 30º e 40º). O cotovelo não chega a estender completamente começando a flectir quando a mão se aproxima do trajecto propulsivo útil. A aceleração, nesta fase, é muito pronunciada e a velocidade é máxima no final. A hiperextensão do pulso poderá influenciar o sucesso da AA.

Quadro 31: Principais erros técnicos e respectivas consequências relativamente à AA na técnica de Crol. Adaptado de Fernandes et al. (2008).

Erros técnicos mais frequentes Consequências

Empurrar a água para cima Perda do alinhamento horizontal Empurrar a água directamente para

A Saída e Recuperação, é uma acção não propulsiva, tendo como propósito colocar o MS em posição para executar nova acção dos MS. A superfície palmar, ao aproximar-se da coxa, roda para dentro de forma descontraída, possibilitando que a mão se desloque para cima e para fora da água de modo a evitar a resistência ou turbulência na saída, que deve ser feita com o dedo mínimo. A recuperação é executada com o MS flectido mantendo o “cotovelo alto”, e com o antebraço e mãos relaxados. Esta deve passar o mais perto possível da linha média do corpo, deve ser feita de forma rápida e descontraída, preparando da melhor maneira a entrada da mão na água. À medida que se vai aproximando a entrada, a palma da mão que estava virada para o corpo na primeira metade da recuperação, deve orientar-se para fora. A rotação do corpo sobre o eixo longitudinal revela-se importante para uma boa recuperação.

Por vezes é visível uma assimetria na recuperação do lado para o qual o nadador respira, efectuando-a um pouco mais alta. Assim, a recuperação poderá apresentar três variantes: (i) cotovelo elevado e flectido, (ii) hand swing, em que há uma exagerada rotação do corpo sobre o eixo longitudinal e o ângulo de ataque é muito aberto, e (iii) lateral, em que há um grande momento de inércia devido ao afastamento do MS em relação ao corpo.

Quadro 32: Principais erros técnicos e respectivas consequências relativamente à Saída e Recuperação na técnica de Crol. Adaptado de Fernandes et al. (2008).

Erros técnicos mais frequentes Consequências

Saída com a mão mal orientada Aumento do arrasto hidrodinâmico

Recuperação baixa/lateral Perturbações do alinhamento lateral; prejudica a rotação longitudinal do corpo Recuperação com o MS demasiado

flectido e com a mão em contacto com a água

Aumento do arrasto hidrodinâmico

Recuperação com o MS estendido

Aumenta o momento de inércia sendo necessário um maior esforço; provoca um

A acção dos MI é dividida em três fases: a fase ascendente; a fase descendente e a mudança de direcção. A fase descendente é provavelmente mais propulsiva, uma vez que poderá manter um ângulo de ataque que possibilite o deslocamento da água para trás. Na fase ascendente, os MI deslocam-se para cima e para a frente, empurrando a água para cima, sendo o ângulo de ataque do pé muito pequeno para produzir força propulsiva. As fases de mudança de direcção revelam-se extremamente importantes na produção de vórtices, contribuindo também para a propulsão.

Na fase descendente, em que o MI parte de uma posição de extensão dorsal completa, efectua-se uma flexão do joelho (cerca de 30 a 40º com uma profundidade de aproximadamente 25 cm) seguida de uma forte extensão do mesmo (cerca de 35 cm de profundidade), causando uma acção de chicotada da perna e do pé, que se encontra em extensão dorsal e rotação interna.

Na fase ascendente, com o pé em posição natural, o MI é deslocado para cima em extensão total. A mudança de direcção da fase descendente para a ascendente deve realizar-se tão rápido quanto possível. Os batimentos não devem ser nem muito profundos nem muito superficiais sendo que no primeiro caso, o arrasto é maior e, no segundo caso, a estabilidade do corpo e a força propulsiva são reduzidas.

Quadro 33: Principais erros técnicos e respectivas consequências relativamente à acção dos MI na técnica de Crol. Adaptado de Fernandes et al. (2008).

Erros técnicos mais frequentes Consequências negativas

Acção dos MI muito profunda Aumento da área de secção transversal e do arrasto hidrodinâmico

Acção dos MI com o joelho demasiado flectido

Aumento do arrasto frontal; movimento ascendente pouco eficaz

Tornozelo rígido Menor força propulsiva efectiva

Relativamente à sincronização entre os MS, para que esta seja precisa deverá existir coerência com a acção dos MI, deve-se procurar facilitar a continuidade da acção propulsiva, e fornecer o equilíbrio global da técnica.

Assim numa sincronização perfeita, enquanto um MS entra na água o outro deverá completar a ALI, o que permitirá a rotação do corpo e o alongamento da acção dos MS. Por outro lado, após a entrada, o MS não deve iniciar a AD até que o outro tenha finalizado o AA. Este último aspecto poderá variar entre nadadores de distância e velocistas, observando-se uma tendência dos velocistas para o encurtamento da acção dos MS, iniciando quase de imediato a AD enquanto o outro MS efectua ainda a AA, podendo assim começar a aplicar força propulsiva com o MS da frente imediatamente após o outro diminuir a pressão na água.

Podem observar-se três tipos de sincronização: (i) Sobreposta, quando um MS espera a entrada do outro MS para iniciar o trajecto subaquático, ou seja, em que a AD de um MS coincide com a entrada do outro; (ii) Semi-sobreposta, quando a entrada de um MS coincide com o início da ALI; e (iii) Alternada, em que a entrada de um MS é realizada enquanto o outro executa a AA.

Relativamente à sincronização dos MS com os MI, deve-se referir que o ritmo da acção dos MI diz respeito ao número batimentos por ciclo de acção dos MS. Este pode variar de nadador para nadador de acordo com os três tipos de sincronização: 6 batimentos por ciclo, 2 batimentos por ciclo e 4 batimentos por ciclo. O mais frequentemente utilizado é 6 Batimentos por ciclo, apresentando uma simetria perfeita entre as fases propulsivas dos MS e os batimentos de MI. Favorece a rotação no eixo longitudinal, eliminando problemas de alinhamento laterais e horizontais. Cada movimento descendente dos MI coincide com uma fase propulsiva da braçada. A AD está coordenada com a fase descendente do MI do mesmo lado, a ALI é acompanhada da fase descendente do MI do lado oposto, e a AA é simultânea à fase descendente do MI do mesmo lado. É preferencialmente utilizado em velocidade, uma vez que interessa a máxima potência e força propulsiva.

Quando o nadador realiza 2 Batimentos por ciclo, estes podem ser verticais ou cruzados. Nos batimentos verticais, cada batimento (AD) inicia-se durante a ALI do MS do mesmo lado tornando-se assim mais económicos que a sincronização de 6 batimentos por ciclo. Nos batimentos cruzados, às acções descendentes juntam-se acções laterais que cruzam os MI, e são batimentos

muito comuns em nadadores que realizam recuperação lateral dos MS. Cada fase descendente dos MI acompanha a ALI e a AA dos MS do mesmo lado, o que requer menos energia, daí ser preferencialmente utilizado pelos nadadores fundistas. Por último, a sincronização de 4 batimentos por ciclo é idêntico ao de 6 batimentos por ciclo, apresentando no entanto, uma paragem total ou parcial aquando da inspiração.

Quanto à respiração, os movimentos da cabeça devem estar coordenados com a rotação do corpo, de forma a reduzir a tendência dos nadadores levantarem a cabeça para inspirarem. A cabeça roda e flecte ligeiramente no momento em que o MS do mesmo lado realiza a AA e o MS contrário realiza a entrada. O retorno deve acontecer na última fase de recuperação do MS do mesmo lado. A inspiração deve ser forte e rápida, e a expiração deve ocorrer em imersão de forma progressiva.

A respiração pode ser unilateral, caso o nadador efectue uma inspiração por um ou mais ciclos de MS (1:2 ou 1:4), ou bilateral, se é realizada uma inspiração por cada ciclo e meio de MS (1:3). A respiração unilateral, apesar de possibilitar maior ventilação, não favorece a simetria nem o alinhamento lateral e apenas possibilita a visibilidade para um dos lados durante a prova. Em contrapartida, estes aspectos já se verificam na respiração bilateral.

Quadro 34: Principais erros técnicos e respectivas consequências relativamente à respiração na técnica de Crol. Adaptado de Fernandes et al. (2008).

Erros técnicos mais frequentes Consequências

Rotação precoce da cabeça Altera a sincronização Rotação atrasada da cabeça Altera a sincronização

Elevação exagerada da cabeça Aumento da área de secção transversal e do arrasto de onda