• Nenhum resultado encontrado

3. ENQUADRAMENTO METODOLÓGICO

3.4. Técnica de recolha de dados

Considerando os objetivos do estudo, é a entrevista semiestruturada (Quivy & Campenhoud, 2008) a que melhor se adequa, na medida em que, após um guião inicial, elaborado pelo entrevistador, o entrevistado, como referem Marconi e Lakatos (1990), tem a liberdade para desenvolver cada situação em qualquer direção que considere adequada. Do mesmo modo, a entrevista semiestruturada, ou semidiretiva:

Não é nem inteiramente aberta, nem encaminhada por grande número de perguntas precisas. Geralmente, o investigador dispõe de uma série de perguntas-guias, relativamente abertas, a propósito das quais é imperativo receber uma informação da parte do entrevistado. Mas não colocará necessariamente todas as perguntas na ordem em que as anotou e sob a formulação prevista. (Quivy & Campenhoud, 2008, p.194)

A entrevista é um dos instrumentos mais utilizados na investigação social e educativa, nomeadamente no âmbito da metodologia qualitativa. Trata-se de uma técnica de recolha de dados que permite obter informações através de um diálogo entre duas ou mais pessoas.

Na perspetiva de Bardin (2013) “ (…) a entrevista proporciona um material rico e complexo” pois trata-se de um momento em que o sujeito narra de forma relativamente espontânea aquilo que “ (…) viveu, sentiu e pensou a propósito de alguma coisa” (Bardin, 2013, p. 89).

Para o autor, a entrevista consiste no desenvolvimento de precisão, focalização, fidedignidade e validade de um certo ato social como a conversação. Porém, apesar de a entrevista ser encarada como um método de recolha de informações, Bardin (2013) refere que, no sentido mais rico de expressão, o espírito teórico do investigador deve permanecer continuamente atento, para que as suas próprias intervenções se traduzam em elementos de análise tão fecundos quanto possível.

34 A técnica da entrevista é um dos modos mais eficazes tanto para aprofundar as questões como para abordar, de uma forma mais globalizante, o percurso do vivido profissional dos professores. Daí o seu alargamento a outros contextos da sua experiência de vida, valorizando-se, deste modo, experiências que não são formalmente reconhecidas, mas que foram consideradas como significativas pelos professores entrevistados do ponto de vista da aquisição de competências e do seu desenvolvimento profissional. Neste sentido, e como salienta Patton (1990), a entrevista permite aos professores relatarem o seu pensamento, nas suas próprias palavras, de forma a revelar as suas perspetivas pessoais.

O recurso à entrevista semiestruturada tem por objetivo permitir aos entrevistados explorarem, de forma flexível e aprofundada, os seus relatos, e dar-lhes, deste modo, oportunidade de verbalizarem aspetos relativos às suas experiências profissionais e pessoais na forma como compreendem e interpretam os seus mundos e como vivem e desempenham a profissão, enquanto professores integrados nos grupos cooperativos do MEM.

De acordo com Valles (1997), as principais vantagens deste tipo de entrevista são as seguintes:

1) A possibilidade de acesso a uma grande riqueza de informação (contextualizada através das palavras dos sujeitos e das suas perspetivas);

2) A possibilidade do(a) investigador(a) esclarecer alguns aspetos no seguimento da entrevista, o que a entrevista mais estruturada ou questionário não permitem;

3) Facultar a possibilidade, na fase inicial de qualquer estudo, de pontos de vista, orientações e hipóteses para o aprofundamento da investigação, a definição de novas estratégias e a seleção de outros instrumentos.

Neste sentido, concedemos a liberdade para que cada entrevistado pudesse falar sobre os conteúdos específicos em estudo, bem como outras questões que considerasse importantes e que não estavam formuladas no guião, fornecendo, deste modo, informações relevantes.

Para a utilização adequada deste instrumento de recolha de dados, fundamentámo-nos em vários autores, nomeadamente Best, (1981), Lessard-Hérbert

et al, (1994); e Ghiglione e Matalon (2001). Assim, concentrámos a nossa atenção

35 grande importância “para que o entrevistado se descontraia e não se sinta empurrado” (Hérbert-Lessard et al, 1994, p.165). No decurso da entrevista, baseando-nos em Ghiglione e Matalon (1997, p.90), tivemos em atenção as exigências apontadas, nomeadamente, “a linguagem utilizada [que] deve ser clara e acessível (…) o entrevistado deve ser motivado a responder para que a informação recolhida seja a mais alargada possível”.

Segundo Fox (1987, p.607) a ‘entrevista não estruturada’ é aquela em que o “guião da entrevista (Anexo C) serve para recordar ao entrevistador os temas que tem de tratar. Embora enumere perguntas concretas, o entrevistador não está limitado a essa lista e tem a liberdade para fazer perguntas complementares, para repetir outras e para fazer rodeios que prometam dar uma informação útil para os propósitos da investigação”. Foi de acordo com esta referência que procedemos.

Consolidando estas ideias, Bogdan e Biklen (1994) designam-na de entrevista semiestruturada e admitem que se possa recorrer a grelhas de entrevista pouco estruturadas. Best (1981, p.160) considera que “um esquema, um inventário ou uma lista de control, escritos, proporcionarão um plano prévio para a entrevista, evitando a possibilidade do entrevistador fique sem algum dado importante e necessário”.

Contatámos atempadamente cada participante, com o intuito de confirmar a sua disponibilidade para colaborar no estudo, solicitar a sua participação e definir o local e a data para realizar a entrevista.

No processo de recolha de dados, através da entrevista, todos os sujeitos foram informados dos objetivos e propósitos da investigação por escrito, salvaguardando-se, do mesmo modo, o anonimato.

As entrevistas foram realizadas entre fevereiro e março de 2014 e concretizaram-se, em horário pós-laboral numa sala de aula da Escola Superior de Educação de Lisboa (ESELx), numa sala da Sede do MEM e num estabelecimento escolar onde leciona um dos participantes. No local apenas se encontravam o investigador e o entrevistado, a quem foi solicitada a permissão para gravar em áudio a entrevista.

A duração global de cada entrevista foi variável, de acordo com o tempo que cada entrevistado necessitava para se expressar, variando entre 45 e 75 minutos.

As entrevistas foram transcritas e devolvidas aos participantes a fim de verificarem a sua precisão, acrescentarem mais informações e/ou retificarem o que considerassem pertinente, prática que Kvale (1996) designa por “re-interview”. Deste modo todas as entrevistas foram validadas pelos respetivos entrevistados. Apenas dois dos participantes retificaram por escrito algumas informações em várias respostas, por se apresentarem nas suas opiniões pouco concisas.

36 Embora esta técnica suscite algumas críticas, como realça Flores (2003), é-lhe reconhecida a sua importância no que diz respeito à validade, na medida em que o “memberchecking” ou “respondentvalidation”, a par da triangulação são “meios de testar a validade de uma determinada investigação de natureza qualitativa (Lincoln e Guba, 1985) ” e, pelo facto de poderem “contribuir para suscitar novas ideias e dados para o processo de análise” (Flores, 2003).

Foi deste modo que se constituiu o corpus para análise (Anexo D).

Documentos relacionados