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3 INTERPRETAÇÃO DO PATRIMÔNIO

3.4 TÉCNICA E PROCESSO DA INTERPRETAÇÃO DO PATRIMÔNIO

A interpretação do patrimônio, até então, é discutida como uma disciplina que apresenta técnicas de comunicação, atendendo assim as necessidades da chamada nova museologia, e sendo considerada uma aposta para o uso, valorização e até a gestão do patrimônio natural e cultural.

[…] la interpretación es una técnica más de una serie importante, entre las que se incluyen: la presentación, la nueva museografía, la puesta en valor, las técnicas expositivas, la animación y hasta el marketing cultural. [...] primero están las políticas culturales, las de investigación, documentación y difusión del patrimonio, su planificación y gestión y luego, en los casos adecuados, la interpretación. (MARTIN, 2002, p.6)

Sua fundamentação é pobre, buscando alguns autores uma relação maior com às suas áreas de atuação. Na Espanha, Marcelo Martín6, em seus artigos publicados no Boletín de Interpretación, convoca seus colegas a discutirem de forma mais aprofundada de aporte teórico-metodológico para a interpretação do patrimônio:

El primer tema que abordaremos es la ausencia, en nuestro país, de una tradición de reflexión teórica que obliga a los profesionales que trabajamos en el tema, a una búsqueda empírica de modelos teóricos y pautas metodológicas e instrumentales, sustentados generalmente, además de una prolífica bibliografía en inglés y francés, en la lectura y visita de proyectos realizados en países con mayor tradición en este arte de dar a conocer, hacer accesible y explicar el sentido y el significado de nuestro patrimonio natural y cultural. Debemos comprender que las técnicas de interpretación que intentamos aplicar los profanos en nuestros medios...(y aclaramos que no nos referimos aquí a las estrategias de educación ambiental no formal)...son disciplinas híbridas, carentes hasta ahora de formación curricular específica, basadas en una actitud posmoderna de fragmentaciones científicas diversas y recompuestas en un collage metodológico donde se dan cita, entre otras, la semiótica, la comunicación, la museografía, el diseño, el marketing cultural, pero sobre todo ello un profundo espíritu de renovación y buenas intenciones (eso decimos nosotros). (MARTIN, 2002, p.6 )

Entende-se que a interpretação do patrimônio busca afirmação e reconhecimento. Por não ter uma delimitação clara no que tange à sua fundamentação teórica e prática, o uso da sua técnica fica a mercê de profissionais das mais diversas áreas: arquitetos, desenhistas, arqueólogos, etnólogos, museógrafos, historiadores, biólogos, geógrafos, dentre outros.

O uso da técnica, por si só, pode acarretar em ações avessas ao propósito da interpretação do patrimônio, podendo restringi-la à tematização, à perda da identidade e à criação de simulacros.

Não raro, os equipamentos turísticos a exemplo da arquitetura de hotéis, pousadas e restaurantes imitam as formas de outras culturas. Observam-se jardins e paisagismo que lembram os europeus; escadas e sacadas dos filmes norte-americanos; arquitetura pós-moderna em portões como os de Londres; cadeiras de design

6 Marcelo Martín é Arquiteto, gestor cultural, responsável do Departamento de Comunicação do Instituto Andaluz do Patrimônio Histórico (Sevilha, Espanha)

americanos ou móveis de estilo oriental. Merecem estudos críticos alguns destinos turísticos do litoral nordestino. São verdadeiras estruturas alienadas e alienantes que excluem o olhar dos atores locais. (FARIAS, 2006, p .16)

A interpretação do patrimônio encarada como processo, busca a identificação do patrimônio natural e cultural pelos residentes de uma localidade. Os habitantes significam e muitas vezes ressignificam seu próprio patrimônio, quando passam a valorar o que lhes pertence, gerando, a partir de então, a possibilidade de renda, ao apresentar este patrimônio em forma de música, dança, teatro, artesanato, mito, ritual, produtos e serviços, dentre outras, podendo, ou não, serem definidos como atrativos turísticos.

O processo prima pela participação dos residentes como atores principais, pois a partir deles, são identificados, criados e geridos maneiras de apresentar seu patrimônio. Para isso, é fundamental a educação e cidadania. A técnica é utilizada como estratégia de atração do visitante, compondo a parte final do processo (Quadro 5, p. 89).

A revelação de atrativos turísticos com a comunidade trabalha com a construção do conhecimento de forma dialética e dispõe de uma visão de totalidade integradora. Nesta perspectiva, a interpretação tem um compromisso político sócio-histórico com a formação do cidadão. Essa concepção para o processo interpretativo exige que o interpretador tenha igualmente uma consciência ampliada para dialogar numa direção das teorias criticas e pós-criticas, quando suas categorias são buscadas.

Essas teorias são separadas por razões ligadas ao poder. As denominadas tradicionais utilizam na interpretação o planejamento, excluindo a comunidade. Estão preocupadas com a eficiência e objetivos. Geralmente, entram na comunidade com idéias e projetos pré-concebidos. Reproduzem os saberes dominantes e utilizam as técnicas. (FARIAS, 2006, p. 26 - 27)

Na interpretação do patrimônio como técnica, o método é estruturalista, tendo o interpretador como aquele que comunica o patrimônio. A interpretação do patrimônio como processo fundamenta-se no método fenomenológico, sendo o interpretador um mediador entre a comunidade e o patrimônio, entendendo que a comunidade é o próprio patrimônio, e só ela pode interpretar-se. (Quadro 5, p.60)

Quadro 5: Técnica X Processo Fonte: Elaboração Própria (2006)

O uso da técnica da interpretação do patrimônio em países desenvolvidos é eficaz, sobretudo, em localidades que não tenham problemas estruturais e de reconhecimento do valor patrimonial pelos residentes. É utilizado como instrumento de educação patrimonial e em alguns casos para a gestão de espaços.

No entanto, esta condição não é condizente com a realidade da maioria dos países em desenvolvimento. Faz-se necessário, para tanto, o uso da interpretação do patrimônio enquanto processo, pois o mesmo desenvolve nos residentes o sentimento de pertencimento, educação, elevação da auto-estima e cidadania. Espera-se, como conseqüência, a valorização e preservação do local, o estimulo à comunidade para buscar melhorias para a localidade, além da possibilidade de renda através do patrimônio natural e cultural, interessando, especialmente, ás localidades carentes, por configurar-se como gerador de desenvolvimento regional. I N T E R P R E T A D O R ESTRUTURALISTA E POSITIVISTA Tecnicista Fenomenológica INTERPRETADOR Sujeito (ator social) Comunica o patrimônio Objeto (Patrimônio)

Na década de 1980, essas questões passam a serem fomentadas quando Cherem7 cria o conceito de interpretação comunitária e turismo apropriado, citados na carta de Honolulu e apresentados em capítulos posteriores desta dissertação.

A partir de então, sinaliza-se a interpretação do patrimônio como algo mais que uma técnica de comunicação, não sendo, contudo, aprofundado nenhum estudo para criação de uma metodologia que pudesse alcançar os objetivos da interpretação do patrimônio de respeitar as singularidades de cada lugar.

4 CONTRIBUIÇÕES DA INTERPRETAÇÃO DO PATRIMÔNIO PARA