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Na atualidade, percebe-se uma disseminação geral das Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC), que estão presentes e influenciam a vida nas mais variadas dimensões, sejam elas sociais, políticas, econômicas ou culturais. Contudo, não se pode negar o relacionamento entre o conhecimento no campo da informática e os demais campos do saber humano, nesse sentido, referindo-se a uma nova forma de linguagem e de comunicação, a um novo código, a uma linguagem digital.

Na área da Educação, que é o domínio deste estudo, as teorias tecnológicas ligadas à educação também designadas por Paradigma Tecnológico da Educação, conforme Bertrand e Valois (1994 apud SOUTO, 2010, p. 32), têm sido formalizadas através da Tecnologia Educativa, estando-lhe associados os processos pedagógicos e de comunicação.

Neste capítulo, procura-se abordar a Tecnologia Educativa como área de fundamentação da Comunicação Educativa. Para tanto, faz-se, assim, uma contextualização do seu conceito. Em razão do seu caráter polissêmico, abordam-se algumas das perspectivas que foram sendo adotadas por alguns estudiosos, como Cabrero (2001) e Postman (1994). A técnica tem sua gênese na utilização de objetos que se transformaram em instrumentos naturais e que se tornam mais complexos no transcorrer da evolução da sociedade humana.

A teoria (Theoreo) e a técnica (Techné) foram elaborações dos gregos. Na Grécia, entre os séculos VI e IV a.C., desenvolveu-se a explicação racional para as questões pertinentes à natureza e ao mundo dos homens. Theoreo, para os gregos, significava ver com os olhos do espírito, contemplar e examinar sem a atividade experimental. Techné estava ligada a um conjunto de conhecimentos e de habilidades profissionais. Desta forma, o conhecimento técnico era o trabalho feito com as mãos, como a fabricação de engenhos mecânicos, e não o trabalho manual em si.

Platão conceituou o termo “técnica” e atribuiu-lhe o significado de uma realização material e concreta. Aristóteles (384-322 a.C.) não foi muito além dessa conceituação, pois entendia a Techné como um conhecimento prático que objetivava um fim concreto. Segundo o dicionário de filosofia de Nicola Abbagnamo (2000, p. 958), a técnica “[...] compreende

31 todo um conjunto de regras aptas a dirigir eficazmente uma atividade qualquer”. Já a tecnologia, de acordo com o mesmo dicionário, “é o estudo dos processos técnicos de um determinado ramo de produção industrial ou de demais ramos”.

Pode-se assegurar que a sociedade da comunicação remonta às rápidas e exponenciais constituições das estruturas de informação do século XX. No início do século XVIII, com o início da Revolução Industrial ou Revolução Tecnológica, o trabalho do homem passa a ser mais ágil, uma vez que conta com inovações. Já na metade do século XIX, a eletricidade tornou-se a mola mestra que afetaria definitivamente os meios de produção e de comunicação. Por conseguinte, com a Terceira Revolução Industrial, oportunizou-se o nascimento da sociedade da informação. Tal fato justifica-se devido à sua dependência em relação à tecnologia e à ciência.6

Na interpretação de Escola (2011, p. 63),

A técnica, móbil da Revolução Industrial, configurou uma nova civilização nascente a ponto de a adjetivar como seu traço essencial. Os novos valores que aí se anunciam e confirmarão são faustianos e prometaicos.

A exigência de um domínio cada vez maior de conhecimentos e habilidades para tratar dessa realidade diversa e complexa impõe novas concepções de educação, de escola e de ensino.

Nesse sentido, a tecnologia7 na sociedade é um fato evidente e imprescindível para a aplicabilidade na resolução de problemas e de alternativas de solução em todos os campos da vida moderna e a sua aplicação não foge ao campo educativo.

Assim, entende-se que a escola, enquanto instituição social, é convocada a atender de maneira satisfatória às reivindicações da modernidade. E se tais inovações da tecnologia são necessárias, portanto, é de fundamental importância que a escola aprenda os conhecimentos referentes a elas para poder repassá-los para sua clientela, pois é preciso que o ambiente escolar propicie esses conhecimentos, habilidades e os novos valores imprescindíveis ao educando para que este possa, então, exercer plenamente a sua cidadania.

6 Segundo Correia (1999), a ciência, enunciados (leis, teorias) que permitem conhecer a realidade e modificá-la, e a técnica, que promove a transformação do real consistindo em operações que visam satisfazer determinadas necessidades, combinam-se e formam um plano, uma concepção, um desígnio a ser realizado.

7 Salienta-se que a tecnologia resulta de uma interação dinâmica da ciência e da experiência (técnica), surgindo como uma nova fonte de conhecimentos. Para especificar um pouco melhor e de acordo com Quintanilha (1986), não é um “fazer por fazer” nem uma “prática pela prática”, mas, antes, uma aplicação de técnicas apoiadas num corpo teórico de conhecimentos.

32 Desta forma, entende-se que, em atinência a esses novos valores e com o desenvolvimento de um novo contexto educacional, é possível inferir que esta nova contextualização não combina com uma escola linear que entende a incorporação das tecnologias como meros instrumentos de uma educação ultrapassada.

Em consonância com tal reflexão, é conveniente citar o questionamento de Papert (1994, p. 13):

Com muito mais poder persuasivo do que a filosofia de um pensador até mesmo tão radical como Dewey, a Informática, em todas as suas diversas manifestações, está oferecendo aos Inovadores novas oportunidades para criar alternativas. A pergunta que permanece é: estas alternativas serão criadas democraticamente? Em essência, a educação pública mostrará o caminho ou, como na maioria das coisas, a mudança primeiro melhorará as vidas dos filhos dos ricos e poderosos e apenas lentamente e com um certo grau de esforço entrará nas vidas dos filhos do resto de nós?

Portanto, compreende-se que questões dessa natureza exigem a reflexão do papel da escola neste momento histórico, no qual a tecnologia não pode se constituir em um mero instrumento para uma educação que se deseja fazer significativa.