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4. METODOLOGIA

4.2 Procedimentos técnicos: definição dos informantes, técnicas para coleta e análise dos dados.

4.1.3 Técnicas para coleta dos dados

Para a coleta dos dados, definimos as técnicas de Grupos Focais (GF) e entrevistas. Desta forma, buscamos contornar a baixa participação de algum segmento, complementando a pesquisa a partir de entrevistas. Esse recurso foi utilizado especialmente junto aos jovens indígenas, posto que apresentaram uma participação tímida nos grupos focais, revelando nas entrevistas que sentiram-se intimidados diante dos demais jovens não-indígenas.

A técnica de pesquisa GF nos permite coletar dados por meio de interações grupais, a partir da discussão de questões sugeridas pelo pesquisador. (MORGAN, 1997). Escolhemos esta técnica tendo em vista que temos experiências exitosas em pesquisas anteriores, através das quais contatamos que os GF se constitui enquanto recurso para compreendermos processos de construção de percepções e atitudes de grupos humanos.

Considerado a característica de pesquisa qualitativa, definimos a técnica de grupos focais para abordar os jovens do campo, tendo em mente também que as suas características centrais possibilitarão acesso a informações mais apropriadas para o conhecimento de significados e manifestação de opiniões, em decorrência da potencial sinergia emergente da participação no grupo, cuja opinião e liderança se manifestam, levando a um nível de envolvimento emocional, necessário para os objetivos da pesquisa. (BAUER; GASKELL, 2002, p. 76).

Para a adequada execução da técnica de GF foi realizado um planejamento que contou com a elaboração de um roteiro prévio dividido em três partes, quais sejam: Parte I – Introdução e apresentações; Parte II – Construção do entendimento da temática de discussão (perguntas simples e de caráter mais geral); e ainda, Parte III – Discussão profunda (direcionamento da discussão para os objetivos da pesquisa e aprofundamento.). Realizamos também um levantamento da caracterização geral dos jovens matriculados nos Campi do IFRR, nos quais realizamos as coletas de dados, visando identificar os jovens que apresentavam o perfil almejado para a composição dos GF. Posteriormente, oficializamos as solicitações de autorizações institucionais a partir das Cartas de Anuência, bem como, procedemos aos convites e apresentação dos Termos de Conhecimento Livre e Esclarecido (TCLE) a cada jovem selecionado. Não tivemos nenhuma recusa de participação por parte das instituições ou dos jovens.

Tendo em vista os devidos registros dos GF, contamos com o auxílio de colegas que nos auxiliaram nos processos de gravações de áudio e vídeo.

Desse modo, buscamos organizar a atividade de coleta dos dados da pesquisa de modo a lograr êxito na construção de resultados, seguindo ainda as orientações de Leitão (2003), conforme a Figura abaixo.

Figura 14 – Estrutura de criação de conhecimentos nos Grupos Focais.

Fonte: LEITÃO (2003, p. 54)

A execução da técnica de grupos focais foi prevista para a realização de duas sessões com cada grupo, sendo estes distribuídos nos Campus do IFRR e, ainda, distintos em dois subgrupos agregados por faixas de idade: 15 a 18 anos e de 19 a 24 anos de idade. Também planejamos que a realização de todos os GF se dariam contando uma mediadora, sendo esta a pesquisadora, e uma observadora. Para o trabalho de observação, importante para o melhor registro das reações e avaliação do trabalho de mediação, convidamos uma colega da área da psicologia que também já detém experiência com a técnica de GF.

No entanto, no momento da coleta dos dados a partir da realização dos grupos focais, realizamos adequações a esse planejamento, na medida em que analisávamos previamente os resultados alcançados a cada grupo focal realizado. E tal análise, nos conduziu a realizar mais de uma sessão ou não em cada grupo. Por exemplo, no caso dos grupos focais realizados no IFRR/Campus Boa Vista Centro, não se fez necessário realizarmos duas sessões com cada grupo, devido a qualidade dos dados obtidos num único encontro, com cada grupo etário, que durou cerca de duas horas, cada. Infelizmente não foi possível contarmos com o apoio da observadora em todas as coletas, conforme previsto.

Todavia, alguns jovens convidados para os grupos focais GF-Boa Vista-01 e GF-Boa Vista-02, não se sentiram plenamente confortáveis para se manifestar durante a realização da atividade coletiva, e para contemplá-los, bem como aprofundar aspectos que eles sobre os quais estes jovens não apresentaram contribuições nos grupos, os mesmos foram entrevistados individualmente, posteriormente.

Mencionamos ainda, que houveram entraves no acesso aos jovens- adolescentes através do IFRR/Campus Avançado do Bonfim, pois no período em que realizamos a coleta dos dados, não havia jovens dentro dessa faixa de idade matriculados no mencionado Campus. Em decorrência disso, tivemos que atrasar essa coleta em três meses, até que houvesse matrículas de jovens dentro do perfil etário desejado.

Estas faixas de idade dos jovens foram estabelecidas visando facilitar a interação entre os participantes, considerando possíveis transformações que ocorrem nestas etapas, como conclusão da educação básica, pressão pela definição de profissão e/ou inserção em atividade produtiva, pressão dos mecanismos de competição para ingresso no ensino superior, constituição de família, início de atividade sexual, dentre outros.

Contudo, enfatizamos que não há intenção de padronizar ou generalizar comportamentos a partir destas faixas de idades, pois ponderamos as características de variabilidade e diversidade dos parâmetros biológicos e psicossociais, que podem, ou não, ocorrer conforme tal cronologia.

Cada encontro teve uma duração entre 90 a 120 minutos e contou com a participação média de 6 a 8 jovens, considerando a composição já descrita anteriormente. (DEBUS, 1988).

As atividades de grupos focais foram filmadas e tiveram o áudio gravado. As coletas foram transcritas com o auxílio do software Express Scribe.

Para que pudéssemos identificar as falas posteriormente, assim como analisar se o conteúdo desta apresenta significância diante dos marcadores de diferenciação, cada jovem participante recebeu um crachá que foi previamente produzido, contendo a sigla do local de coleta e da sequência do grupo focal, naquele local. Um número foi adicionado ao final da sigla, dependendo do quantitativo de participantes. Esse procedimento visou identificar os informantes, para fins da análise dos dados, sem comprometer o sigilo quanto a sua identidade.

Destacamos que para a adequada aplicação da técnica, realizamos no mês de abril de 2014 um grupo focal piloto, contando com a participação dos jovens matriculados no IFRR/Campus Boa Vista, que são oriundos do campo, aplicando os critérios já descritos, visando avaliar a viabilidade da técnica e o domínio da mesma pelo mediado/pesquisador. A partir dessa experiência modelar, avaliamos e

procedemos aos necessários ajustes nos roteiros de grupo focal e entrevista, com vistas a melhor apropriação teórica e prática, principalmente da técnica de grupos focais.