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Capítulo 5. Metodologia da investigação empírica

5.3 Técnicas de investigação

Segundo Carmo e Ferreira, “observar é seleccionar informação pertinente, através dos órgãos sensoriais e com recurso à teoria científica, a fim de poder descrever, interpretar e agir sobre a realidade em questão” (1998:97).

Com efeito, observar é uma característica do ser humano no seu quotidiano seja de forma consciente ou não, directa ou como espectador. Desta forma, apreende determinada “informação” que nem sempre aparece nos factos. É uma forma de captar atitudes, opiniões, comportamentos, o que permitirá ao investigador formular hipóteses que serão confirmadas ou refutadas pelo tratamento científico, metódico e rigoroso a partir de indicadores e variáveis.

Segundo Quivy e Campenhoudt, “as observações sociológicas incidem sobre os comportamentos dos actores, na medida em que manifestam sistemas de relações sociais, bem como os fundamentos culturais e ideológicos que lhes subjazem. (…) O método é especialmente adequado à análise do não verbal e daquilo que ele revela: as condutas instituídas e os códigos de comportamento, a relação com o corpo, os modos de vida e os traços culturais, a organização espacial dos grupos e da sociedade etc.” (1998:196-198). A observação pode ser indirecta ou directa. A primeira envolve a entrevista e o inquérito por questionário, o que pressupõe que os sujeitos observados intervêm na produção da informação que é recolhida de forma indirecta, sem ou com a presença do investigador. A observação directa pode ser participante ou não participante dependendo da inserção do investigador no grupo, ou como mero espectador, que não interfere. Na observação não participante, o investigador observa do exterior, durante um curto ou longo período de tempo, com ou sem o consentimento dos observados, com ou sem grelhas de observação para registar a informação obtida.

A observação directa permite recolher as informações pelo próprio investigador, no momento em que ocorrem através de instrumentos objectivos, criados a partir de indicadores e variáveis.

A prática andragógica e a observação dos séniores com o primeiro contacto com a informática ao longo destes anos fomentaram a vontade de explorar os motivos e as causas para o sucesso na aprendizagem das novas tecnologias.

Firmino da Costa salienta os processos de familiarização e de distanciamento com o contexto social a pesquisar. A observação directa dos observados e participante com os observados, as conversas informais são os procedimentos de pesquisa que aproxima o investigador do desconhecido para o conhecido, o familiar; mas isto só é possível com a teoria previamente estabelecida que inclui “(…) o objecto, o investigador e as relações entre ambos no decurso da pesquisa” (SILVA, 1988:148).

A presença do investigador num grupo remete para a observação directa e participante, para a relação e a comunicação com as pessoas. Segundo Silva, o investigador “regista, diária e sistematicamente: a) observações e informações, b) reflexões teóricas e metodológicas, (c) impressões e estados de espírito” (1988:132). Deste modo, o investigador deve ter uma forte bagagem metodológica actualizada e deve ter em consideração o problema da interferência que para Firmino da Costa, não é um problema, é “(…) também um veículo desse conhecimento” (1988:135) desde que seja conhecida, objectivada e entendida como limites do objecto em estudo.

Na Academia Sénior do Fundão, a investigadora observou de forma directa mas não participante na medida em que foi como espectadora, ouvinte, sem interferir no processo de aprendizagem dos séniores. Deste modo, a investigadora tem a oportunidade de comparar dois ambientes de aprendizagem e perceber até que ponto os facilitadores da aprendizagem dos séniores são iguais para todos ou o discernir o que os distingue.

5.3.2 Inquérito

A técnica utilizada para a recolha de dados quantitativos foi o questionário formulado com perguntas fechadas para garantir mais objectividade nas respostas e por ser uma forma rápida de preencher e de analisar. Foram utilizadas escalas de tipo Lickert para medir graus de concordância segundo intervalos. Segundo Marconi e Lakato87, o questionário é um instrumento de padronização cuja finalidade é comparar opiniões e atitudes diferentes. Segundo Quivy e Campenhoudt, “consiste em colocar a um conjunto de inquiridos, geralmente representativo de uma população, uma série de perguntas relativas à sua situação social, profissional ou familiar, às suas opiniões, à sua atitude em relação a opções ou a questões humanas e sociais, às suas expectativas, ao seu nível de conhecimentos ou de consciência de um acontecimento ou de um problema, ou ainda sobre qualquer outro ponto que interesse aos investigadores” (1998:188).

87

MARCONI, Maria de Andrade e LAKATOS, Eva Maria (2003), Fundamentos de metodologia científica, São Paulo, Edições Atlas

Ao construir o questionário, a investigadora teve o cuidado de só formular perguntas para que o tratamento em SPSS fosse o mais objectivo possível. Por outro lado, cada pergunta foi elaborada tendo em conta os objectivos, realçando as mais pertinentes para este estudo, como apresentado no seguinte quadro:

Tabela 1. Objectivose respectivas perguntas do questionário

Objectivos específicos Perguntas

Analisar os motivos determinantes para o sucesso da

aprendizagem da informática 16, 17

Analisar as dificuldades determinantes para o insucesso da

aprendizagem da informática 16, 20

Analisar os factores de desmotivação determinantes para o

insucesso da aprendizagem da informática 16, 22

Elaboração própria (2011)

Antes da validação do questionário, foi realizado um pré-teste por duas séniores do Fundão, consideradas líderes de opinião, para prevenir possíveis dificuldades na compreensão das perguntas e de alguns conceitos, para melhorar o estilo e o formato das perguntas assim como averiguar o tempo necessário de preenchimento. As alterações prenderam-se sobretudo com a linguagem utilizada em duas perguntas. Em relação ao tempo, concluiu-se que o preenchimento levaria cerca de 15 a 20 minutos.

O questionário divide-se em três partes. A primeira parte é composta por questões que visam obter os dados de identificação de cada sénior assim como o(s) motivo(s) em frequentar a academia. Na segunda parte do questionário, pretende-se saber se o sénior tem computador e Internet em casa e obter informações sobre os hábitos de utilização. A terceira parte destina- se a saber como o sénior encara a aprendizagem da informática (motivos, dificuldades, desmotivação).

Na Academia Sénior da Covilhã, na manhã do dia 6 de Junho de 2011, a investigadora distribuiu no final da sessão de informática inicial seis inquéritos que foram respondidos e entregues após o preenchimento. Na tarde do mesmo dia, foram respondidos e entregues sete inquéritos aos formandos avançados. A investigadora esteve presente mas fez questão de referir o direito de não participação e à privacidade, garantindo anonimato e confidencialidade dos dados que seriam tratados estatisticamente só para este estudo de mestrado.

Em relação à Academia Sénior do Fundão, foram entregues a dois professores de informática vinte inquéritos no dia 7 de Junho de 2011. Foi-lhes explicado o objectivo e o objecto deste estudo, referindo os direitos de cada sénior. Dos inquéritos, dezassete foram preenchidos e

entregues à investigadora no dia 14 de Junho de 2011. Em relação aos dois momentos de preenchimento, não houve dúvidas nas perguntas nem sugestões de melhoria.

A forma de tratamento dos dados foi feita a partir do programa informático SPSS (Statistical Package for the Social Sciences), versão 17.0. É importante mencionar que a análise estatística dos dados foi indispensável uma vez que segundo Quivy e Campenhoudt referem que “os dados recolhidos por um inquérito por questionário, em que um grande número de respostas são pré-codificadas, não têm significado em si mesmas. Só podem, portanto, ser úteis no âmbito de um tratamento quantitativo que permita comparar respostas globais de diferentes categorias sociais e analisar as correlações entre as variáveis” (1988:192) sendo que uma análise em que as variáveis são cruzadas, permite uma melhor compreensão das práticas e, consequentemente, do objecto de estudo.

Após atribuição de um número de ordem a cada questionário, procedeu-se à codificação das variáveis em estudo e dos itens relativos a cada variável. Após a introdução dos dados, procedeu-se a uma análise descritiva e exploratória e, sempre que possível, a uma análise de inferência estatística. Para tal, efectuou-se uma análise descritiva em termos de frequências em relação às questões que compõem o inquérito seguindo-se uma análise factorial no âmbito dos 4 objectivos em que assenta o presente estudo e uma análise de regressão linear.

5.3.3 Entrevista semi-directiva

A entrevista semi-directiva coloca questões que se pretendem abertas, a partir de um guião, num ambiente descontraído e informal, estando articuladas de modo a que o entrevistado se sinta confortável para se expressar sem condicionalismos e possa utilizar o seu vocabulário original.

A entrevista é constituída por várias perguntas guias sendo semi-dirigida e possibilitando outras, caso sejam pertinentes para o estudo. Segundo Quivy e Campenhoudt, “(…) não é inteiramente aberta nem encaminhada por um grande número de perguntas precisas. Geralmente, o investigador dispõe de um grande número de perguntas-guias, relativamente abertas, a propósito das quais é imperativo receber uma informação da parte do entrevistado” (1998:192).

Para realizar o tratamento dos dados recolhidos, recorre-se à análise de conteúdo, técnica privilegiada nas ciências sociais e humanas. A sua finalidade é a descrição das componentes semânticas e formais das mensagens, procurando compreender as relações existentes entre as mensagens produzidas e o contexto sócio-cultural no qual estas se desenvolvem. Esta técnica tem maior aplicabilidade quando o investigador pretende comparar sobre os dados reunidos. Em relação ao entrevistado, permite perceber quais as intenções e motivações ao produzir determinada afirmação. Em relação ao receptor, permite medir o impacto no comportamento do receptor após o contacto com certo documento.

Enquanto técnica de investigação, a análise de conteúdo apresenta vantagens e desvantagens. É uma técnica simples, pouco dispendiosa, é aplicável a várias disciplinas e consegue transformar grandes conjuntos de dados em unidades de análise menores, manipuláveis e mensuráveis, com possibilidade de tratamento estatístico. No entanto, a análise de conteúdo não permite generalização.

Foi utilizada esta técnica para complementar a observação de vários anos de experiência e os dados obtidos pelos inquéritos. Ao longo do mês de Julho de 2011, três formadores com experiência foram entrevistados com o intuito de recolher mais informação do ponto de vista de quem ministra a aprendizagem e como preparam a formação. Por outro lado, permite perceber se os formadores têm a mesma opinião em relação aos motivos e às dificuldades sentidas pelos séniores ao longo da aprendizagem da informática.

As entrevistas foram gravadas, individualmente, tendo a investigadora seguido o guião (ver Anexos B). As gravações estão guardadas em suporte áudio no CD. Em relação ao perfil dos entrevistados, foram seleccionados certos requisitos: terem experiência com séniores, serem da área da informática.

A primeira entrevistada tem 37 anos, sendo formadora há treze anos, com experiência de formação com todos os públicos nomeadamente os idosos. O segundo entrevistado tem 37 anos, sendo formador há dez anos, também com o mesmo tipo de experiência. A terceira entrevistada tem 32 anos e é formadora há cinco, ministrando formação a crianças e a séniores da Academia do Fundão.

Capítulo 6. Apresentação e análise dos