2. Metodologia 51
2.3 Técnicas de investigação/Recolha de dados e análise de requisitos 58
Com vista à criação de um produto com as características descritas é necessário recolher o máximo de informação possível juntos de utilizadores, a fim de delinear os requisitos funcionais e não funcionais do sistema. A recolha de dados é um ponto fundamental na abordagem estipulada, com toda a informação vinda de testes a poder revelar-‐se útil para conduzir a equipa de desenvolvimento da forma mais correta. Contudo, e nunca desprezando informação adicional que possa vir a surgir durante a recolha, é necessária uma escolha cuidada dos instrumentos de pesquisa a utilizar. Uma abordagem pouco estruturada pode originar uma recolha de dados algo ambígua ao recolher demasiada informação, podendo esta ser até pouco relevante, elevando em demasia o tempo despendido, quer na recolha, quer no curar dos dados. Assim sendo, com vista numa abordagem mais estruturada e objetiva, foram tomadas decisões quanto às técnicas a utilizar, tentando obter resposta para questões já identificadas ao mesmo tempo que se daria oportunidade para uma recolha de opiniões mais espontâneas.
No seguimento das ideias descritas, foi então delineado que a recolha de dados e análise de requisitos do sistema seria um processo que procuraria dar respostas a várias dimensões distintas; Teria de ser feito um levantamento de requisitos a nível funcional, do ambiente da ação, do utilizador e da usabilidade do sistema. Sucintamente, todos estes pontos, iriam permitir definir os requisitos do sistema de visualização, do mapping de/e sistemas de input a implementar e de questões de interação, tendo em conta o utilizador e o espaço.
“Mapping é um termo técnico que significa relacionar duas coisas.” (Norman, 2002, p. 23)
“ O arranjo entre os bicos e controlos no fogão de cozinha dão um bom exemplo do poder do mapeamento natural para reduzir a necessidade de ter informação na memória. Sem um bom mapping, o utilizador não consegue determinar prontamente que bico pertence a que botão.” (Norman, 2002, p. 75)
Todas as dimensões acabam por ser algo complementares, mas estas exigem uma distinção no momento da análise de requisitos, visto as questões que levantam necessitarem de instrumentos de análise diferentes. No que diz respeito aos sistemas de visualização, é importante perceber o que o display necessita de reproduzir: se exige uma combinação/sobreposição precisa do real e do digital ou se o acompanhamento da atividade apenas com meta informação não combinada será um melhor caminho a seguir. Para questões deste tipo, as respostas podem ser obtidas com relativa facilidade através de entrevistas e questionários. Uma vez que se trata de uma questão espetavelmente mais objetiva e estando o utilizador perfeitamente familiarizado com a atividade e as necessidades da tarefa desempenhada, torna-‐se fácil expressar um opinião. Já no que respeita ao mapping e sistemas de input o mesmo não se verifica. Ao contrário das questões anteriores, a escolha entre dispositivos de input e o seu mapeamento requerem, para além de entrevistas e questionários, testes com protótipos e respetiva observação. Isto acontece quer por falta de familiaridade dos utilizadores com as tecnologias, quer pela ambiguidade da questão. Assim, e em suma, na procura de respostas para as referidas dimensões, as opções da equipa recaíram sobre entrevistas semiestruturadas, questionário, e testes com protótipos funcionais, enriquecendo os dados através de observação natural.
O processo de recolha de dados e especificação de requisitos é uma atividade sequencial entre recolha, análise e interpretação (Preece et al., 2002, p. 203) e , como tal, as conclusões finais deste estudo resultaram da conjugação dos instrumentos de análise utilizados, a fim de um refinamento dos mesmos. Assim sendo, relativamente à
preferência pelos métodos indicados, a escolha foi tomada em consciência pela especificidade das questões a colocar e pela forma como os diferentes instrumentos se pudessem colmatar.
A escolha pelas entrevistas surgiu de forma a se conseguir explorar com mais profundidade as questões propostas. Desta forma torna-‐se possível proceder a uma contextualização mais adequada (Preece et al., 2002, p. 211) e usufruir de um contacto direto com o utilizador que tornaria mais fácil a comunicação de ideias e opiniões mais complexas. Estas serão presenciais, semiestruturadas e de carácter exploratório, no sentido em que existirá um guião de entrevista, mas as questões não deveram ser rígidas, de carácter fechado. Fazendo uso das qualidades do método de entrevista, será dada ao utilizador a liberdade de progredir com considerações e de trazer para a conversa pontos que para eles sejam relevantes. A contextualização das questões pode lembrar determinados pormenores (Preece et al., 2002, p. 211) e esses dados podem ser importantes, tal como outros – qualitativos -‐ que possam ser recolhidos por estas serem feitas de forma presencial. Quanto a este instrumento resta realçar que, devido à metodologia de UCD utilizada, tem um papel bastante presente na investigação, sendo posto em prática imediatamente no início do projeto, com fins exploratórios pré-‐ desenvolvimento.
Relativamente à pretendida utilização de questionários, estes seguem a mesma linha, mas apresentaram questões mais concretas onde se esperam simplesmente respostas mais objetivas (Preece et al., 2002, p. 211). Estes serão igualmente entregues de forma presencial e deverão conter perguntas acerca das funcionalidades desejadas ou, por exemplo, classificação do grau de importância de uma série de funcionalidades sugeridas.
A respeito dos testes do protótipo, espera-‐se que se revelem bastante proveitosos, desempenhando um papel especialmente importante na validação da análise de requisitos levada a cabo pelos restantes instrumentos de analise. Estes serão realizados em ambiente controlado onde é pretendido que o protótipo permita perceber quais os melhores sistemas de input e registo, mas também perceber se existem ou não outras restrições – inclusive físicas -‐ a ter em conta. O contexto do bloco operatório e da
cirurgia em questão é muito específico, multitarefa e pericial, o que torna a realização destes testes fundamental para perceber como é que o médico interage com o espaço e poderá interagir com o sistema.
Na realização dos testes irá igualmente ser feito uso da técnica de observação natural, tentando que haja o mínimo envolvimento possível por parte da equipa. Assim pretende-‐se observar a rapidez de adaptação dos utilizadores ao sistemas (Preece et al., 2002, p. 118) e o refinar das conclusões finais com dados qualitativos, recolhidos através de notas escritas e/ou outros formatos a definir (ex: vídeo, som). Quanto a este método, estima-‐se que venha a ser uma fonte de dados bastante proveitosa. Será uma oportunidade única de observar o primeiro contacto dos utilizadores com as ideias do projeto em prática, onde a troca de observações passa a estar facilitada, o que se torna benéfico para ambas as partes envolvidas.
Por fim, a equipa pretende também incluir o estudo de documentação como um dos métodos de recolha de requisitos do sistema. Visto todo o trabalho a desenvolver já ser precedido de um estudo aprofundado sobre domínios de aplicação na área, julga-‐se ser conveniente ter essa informação em conta. A referida recolha, tal como detalhado no capítulo dois do presente documento, já se encontra devidamente analisada e será uma base de trabalho interessante. Contudo, todo este material será apenas encarado como um apoio importante, nunca fazendo prevalecer essa informação sobre os dados recolhidos na investigação ou mesmo encará-‐la como verdades estabelecidas. Toda a análise e recolha será feita da forma mais aprofundada, podendo sim oferecer para teste alguns aspetos já relatados como positivos, a fim de comprovar a sua aceitação.
Resta acrescentar que todo o procedimento de recolha de dados acima referido será, logicamente, feito com utilizadores reais e pertencentes à equipa de investigação, com a escolha pelos referidos instrumentos de investigação a julgar-‐se pertinente e justificável, especialmente pelo número de elementos que compõem a equipa de investigação. Tendo esta um número reduzido de elementos, aproximações deste tipo permitem a sua utilização de uma forma mais sólida e apropriada, possibilitando, por exemplo, realizar entrevistas mais aprofundadas e recorrer à observação natural de forma mais tranquila e atenta.
Esta é, inclusivamente, uma das grandes oportunidades criadas para o correto desenvolvimento de um produto com este grau de incerteza e inovação. Parte-‐se para este projeto com a intenção de solucionar questões relacionadas com o sistema de input, a interface e o sistema de registo, para as quais não se reconhece uma solução óbvia, pelo que a possibilidade de realizar uma recolha de dados e especificação de requisitos de forma conveniente é um ponto especialmente importante.